12 Fevereiro 2020
Enquanto a crise ucraniana ainda divide o mundo ortodoxo, o Patriarcado Ecumênico defende o seu lugar como o “primeiro entre os iguais”.
A reportagem é de Arnaud Bevilacqua, publicada por La Croix International, 11-02-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla defendeu com força o status do Patriarcado Ecumênico como “o coração da ortodoxia”.
Em um discurso proferido no dia 5 de fevereiro deste ano para professores e alunos gregos, e para o arcebispo greco-ortodoxo da Austrália, o patriarca repreendeu os que desafiam a primazia de Constantinopla.
Bartolomeu I disse que o Patriarcado de Constantinopla é a “matriz espiritual da nossa nação” e, com sua tradição de séculos, “serve não só a seus próprios filhos espirituais como também à totalidade da ortodoxia, ao cristianismo todo e a toda a humanidade”, de acordo com uma reportagem publicada em Orthodoxie.com.
Estas suas palavras foram ouvidas num momento em que a ortodoxia mundial vive certa divisão, a mais recente delas tendo ocorrido ano passado depois que Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla desde 1991, reconheceu oficialmente a Igreja Ortodoxa Ucraniana como uma igreja autocéfala independente da Igreja Russa.
Os russos acusam Bartolomeu, que completará 80 anos em breve, de não respeitar o princípio de “conciliaridade” e de abuso de poder ao reconhecer a autocefalia da Ucrânia.
A crítica dos russos ressoa dentro da Igreja Grega. E, no entanto, esta foi a primeira igreja a reconhecer oficialmente a autocefalia da Igreja Ucraniana após a decisão do Patriarcado Ecumênico.
Mas nem todos da Igreja Grega deu as boas-vindas à decisão do Santo Sínodo.
Uma petição dos fiéis gregos – que inclui assinaturas de padres, monges e freiras – pede que o sínodo desfaça o reconhecimento da nova igreja autocéfala ucraniana. Alguns dos signatários temem que o exemplo ucraniano leve ao reconhecimento de outras igrejas autocéfalas, por exemplo na Macedônia.
No discurso de 5 de fevereiro, o Patriarca Bartolomeu abordou a questão ucraniana e as tensões dentro da Igreja Grega: “Quanto às mais recentes igrejas autocéfalas ortodoxas (...) elas adquiriram a sua autocefalia e, de certo modo, a sua própria personalidade”, disse ele.
“Infelizmente, há filhos que se recusam a reconhecer isto, e outros que se mostram ingratos, que não apreciam o que receberam de Constantinopla: o batismo, a cultura, o alfabeto cirílico...”.
Estas palavras do Patriarca Ecumênico foram interpretadas como uma crítica aberta à Igreja Ortodoxa Russa.
Bartolomeu também comparou o Patriarcado Ecumênico à “Igreja Mãe” que continua a “amar a todos”.
“Ela nunca foi uma madrasta, como um metropolita da Igreja Grega a acusou de ser. Ela foi, é e sempre será uma verdadeira mãe”, falou.
A questão da primazia do Patriarcado de Constantinopla está no coração das tensões dentro do mundo ortodoxo.
Perguntado sobre isso em janeiro pela agência noticiosa russa Interfax, o Metropolita Hilarion, presidente do departamento de relações exteriores eclesiásticas do Patriarcado de Moscou, reiterou com firmeza a posição dos russos:
“A nossa Igreja nunca desafiou a primazia do Patriarcado de Constantinopla”, sustentou ele, referindo-se a um documento adotado pelo Santo Sínodo sobre o assunto em dezembro de 2013.
Mas, ao mesmo tempo, Hilarion denunciou a evolução da noção de primazia ao longo do século passado, que tende a imitar a organização da Igreja Católica de Roma, a qual a Igreja Ortodoxa Russa rejeita firmemente.
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Bartolomeu I reafirma a primazia do Patriarcado de Constantinopla - Instituto Humanitas Unisinos - IHU