19 Junho 2019
O regime tecnológico hoje em vigor nos confunde ainda mais porque nos transmite a ilusão de que não há lugar para o erro. A memória do último dos computadores nos deixa constrangidos, comparada com a sequência dos nossos esquecimentos, lapsos e equívocos.
O comentário é do arcebispo português José Tolentino Mendonça, arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, publicado por Avvenire, 18-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Lá onde reconhecemos perdas e reduções de eficácia, constatamos na técnica atual exatamente o oposto: uma capacidade inumana de acumulação de dados, registros e traços que, muitos anos depois, permanecem intactos em uma praia que o oceano não apaga. Os computadores não precisam ser consolados, nós sim, e falar sobre isso é bom.
O que é específico da consolação é que nos aproxima uns dos outros - e de nós mesmos: isso é suficiente, sem a pretensão de nada, simplesmente dando abrigo, com a nossa presença, à passagem das horas, ajudando assim a carregar o peso que ciclicamente faz com que a vida desmorone. Acompanhe a solidão dos outros e a nossa: cumsolatio também significa isso.
De fato, nós gradualmente nos damos conta, ao longo do caminho, que o programa existencial que devemos abraçar não é tanto ir contra as contingências que inevitavelmente nos assolam, mas viver junto com elas, aceitando a tarefa de construir uma humilde sabedoria integradora. Essa coisa que chamamos de vida exige de nós a força para não sucumbir, ao entardecer, só porque não vemos como poderia, na escuridão mais densa, irromper a aurora.
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A arte de consolar. Reflexão de José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU