10 Junho 2019
Acredito que em nossa vida se registre um momento de virada quando olhamos para a incompletude de outra maneira, não apenas como um indicador ou sintoma de falta, mas como condição inderrogável de nosso ser. E assim nos tornamos capazes de conviver com isso em paz. A aventura do ser nada mais é do que habitar, em tensão criativa, a própria incompletude e aquela do mundo. É verdade que, para isso, devemos aprender a abraçar o vocabulário da vulnerabilidade. Isso envolve um exercício de desapego e de pobreza interior. Aceitar não alcançar todos os objetivos que nos havíamos prefixados. Aceitar que o ponto que alcançamos ainda é uma versão provisória, uma versão a ser revisada, cheia de imperfeições. Aceitar que nos faltam as forças, que há um frescor de pensamento que não obtemos mecanicamente apenas com a insistência.
O comentário é do arcebispo, poeta e teólogo português José Tolentino Mendonça, também arquivista e bibliotecário do Vaticano, publicado por Avvenire, 08-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Aceitar, provavelmente, que amanhã teremos que começar do zero e pela enésima vez. Mas essa reconciliação com a incompletude também nos abre à experiência de reciprocidade, talvez como não a tenhamos ainda vivenciado. A vida de cada um de nós não basta a si mesma: sempre precisaremos do olhar alheio, que é um olhar outro, que nos observa de outro ângulo, com outra perspectiva e outra disposição de espírito. O significado da vida não se resolve individualmente. O seu verdadeiro significado é alcançado no encontro, no compartilhamento e na doação.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Incompletude - Instituto Humanitas Unisinos - IHU