31 Março 2017
“Sonho com uma Igreja em saída, não autorreferente, uma Igreja que não passe longe das feridas do homem, uma Igreja misericordiosa que anuncie o coração da revelação de Deus Amor que é a Misericórdia”. O Papa Francisco quer famílias que continuem sendo “uma boa notícia para o mundo de hoje”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 30-03-2017. A tradução é do Cepat.
Foi o que manifestou, em uma carta enviada ao cardeal Farrell, como preparação para o Encontro Mundial das Famílias que ocorrerá em Dublin, em agosto de 2018. Um encontro do qual, como aponta o Papa, sairão “sinais concretos” para uma nova pastoral familiar, com a visão posta no foco da misericórdia.
Em sua carta, Bergoglio destaca o tema do Encontro de Dublin: “O Evangelho da família: alegria para o mundo”, e pede que o mesmo seja uma oportunidade para que “as famílias possam aprofundar a reflexão e o compartilhamento dos conteúdos da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia”.
“Poderíamos nos perguntar: O Evangelho continua sendo alegria para o mundo? E também: A família continua sendo uma boa notícia para o mundo de hoje? Eu estou certo que sim!”, sustenta o Papa, que afirma “o compromisso de Deus com uma humanidade muitas vezes ferida, maltratada e dominada pela falta de amor”.
“A família, portanto, é o ‘sim do Deus amor”, esclarece Francisco, acrescentando que “sem amor não se pode viver como filhos de Deus, como cônjuges, pais e irmãos”. E o que significa viver no amor? “Significa concretamente doar-se, perdoar-se, não perder a paciência, antecipar-se ao outro, respeitar-se. Como melhoraria a vida familiar se todos os dias se vivessem as três simples palavras ‘licença’, ‘obrigado’, ‘desculpa’!”.
“Todos os dias experimentamos a fragilidade e a fraqueza, e por isso todos nós, famílias e pastores, necessitamos de uma humildade renovada que traduza o desejo de nos formar, de nos educar e de ser educados, de ajudar e de ser ajudados, de acompanhar, discernir e integrar todos os homens de boa vontade”, proclama o Papa, que revela seu sonho de uma Igreja “que não passe longe das feridas do homem, uma Igreja misericordiosa que anuncie o coração da revelação de Deus que é a Misericórdia”.
“É a mesma misericórdia que nos faz novos no amor; e sabemos o quanto as famílias cristãs são lugares de misericórdia e testemunhas de misericórdia. Após o Jubileu Extraordinário, serão ainda mais, e o Encontro de Dublin poderá dar sinais concretos”, insiste.
Para isso, o Papa convida Kevin Farrel a propor, de forma especial, “o ensinamento da Amoris Laetitia, com a qual a Igreja deseja que as famílias estejam sempre a caminho”.
Eis a carta.
Ao Venerado Irmão
Ao venerado cardeal Kevin Farrell
Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida
Ao final do VIII Encontro Mundial das Famílias, celebrado na Filadélfia, em setembro de 2015, anunciei que o encontro seguinte com as famílias católicas de todo o mundo ocorreria em Dublin. Agora, com o desejo de começar sua preparação, tenho a satisfação de confirmar que acontecerá de 21 a 26 de agosto de 2018, com o tema: “O Evangelho da família: alegria para o mundo”. E em relação a este tema e seu desenvolvimento gostaria de oferecer algumas indicações mais precisas. Desejo, efetivamente, que as famílias possam aprofundar a reflexão e o compartilhamento dos conteúdos da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia.
Poderíamos nos perguntar: O Evangelho continua sendo alegria para o mundo? E também: A família continua sendo uma boa notícia para o mundo de hoje?
Eu estou certo que sim! E este “sim” está firmemente fundado no plano de Deus. O amor de Deus é seu “sim” a toda a criação e ao coração da mesma, que é o homem. É o “sim” de Deus à união entre o homem e a mulher, aberta à vida e ao serviço dela em todas as suas fases; é o “sim” e o compromisso de Deus com uma humanidade muitas vezes ferida, maltratada e dominada pela falta de amor. A família, portanto, é o “sim” do Deus Amor. Somente partindo do amor, a família pode manifestar, difundir e regenerar o amor de Deus no mundo. Sem amor não se pode viver como filhos de Deus, como cônjuges, pais e irmãos.
Quero ressaltar a importância que as famílias questionem, muitas vezes, se vivem partindo do amor, pelo amor e no amor. Isto significa concretamente doar-se, perdoar-se, não perder a paciência, antecipar-se ao outro, respeitar-se. Como melhoraria a vida familiar se todos os dias se vivessem as três simples palavras “licença”, “obrigado”, “desculpa”! Todos os dias experimentamos a fragilidade e a fraqueza, por isso, todos nós, famílias e pastores, necessitamos de uma humildade renovada que traduza o desejo de nos formar, de nos educar e de ser educados, de ajudar e de ser ajudados, de acompanhar, discernir e integrar todos os homens de boa vontade. Sonho com uma Igreja em saída, não autorreferente, uma Igreja que não passe longe das feridas do homem, uma Igreja misericordiosa que anuncie o coração da revelação de Deus Amor que é a Misericórdia. É a mesma misericórdia que nos faz novos no amor; e sabemos o quanto as famílias cristãs são lugares de misericórdia e testemunhas de misericórdia. Após o Jubileu Extraordinário, serão ainda mais, e o Encontro de Dublin poderá dar sinais concretos.
Convido, pois, toda a Igreja a recordar estas indicações na preparação pastoral para o próximo Encontro Mundial.
A Você, querido irmão, junto com seus colaboradores, apresenta-se a tarefa de conjugar de uma forma especial o ensinamento da Amoris Laetitia, com a qual a Igreja deseja que as famílias estejam sempre a caminho, nessa peregrinação interior que é uma manifestação de vida autêntica.
Meu pensamento se dirige de maneira especial à Arquidiocese de Dublin e a toda a querida Nação irlandesa, pela generosa hospitalidade e o esforço que significa organizar um evento desta grandeza. Que o Senhor os recompense a partir de agora, concedendo-lhes em abundância favores celestes!
Que a Sagrada Família de Nazaré guie, acompanhe e abençoe seu serviço e a todas as famílias envolvidas na preparação do grande Encontro Mundial de Dublin.
Vaticano, 25 de março de 2017.
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“Sonho com uma Igreja em saída, não autorreferente, que não passe longe das feridas do homem”, escreve Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU