06 Outubro 2015
“Precisamos ter condições de compartilhar informações, contrapor-nos à falsidade, encorajar-nos mutuamente em nossas necessidades e fortalecer nossas famílias, especialmente onde as leis civis não as respeitam ainda. Assim, decidimos montar uma rede global para reunir grupos de católicos LGBTI, nossas famílias e amigos e amigas, assim como outras pessoas cristãs e pessoas de boa vontade. Isso nos possibilitará estarmos muito melhor preparados e preparadas para compartilhar experiências, histórias de vida, exemplos da melhor prática: pequenos milagres de amor”, afirma a Rede Global de Católicos Arco-Íris, em carta enviada ao Sínodo dos bispos sobre a Família, em 04-10-2015. A tradução é de Luís Marcos Sander.
Na carta a Rede afirma: “Aprendemos que o que importa não é o que a Igreja pode fazer por nós, e sim o que nós podemos fazer pela Igreja”.
Eis a carta na íntegra.
Caras irmãs, caros irmãos que estão no Sínodo sobre a Família
Saudações da recém-nascida Rede Global de Católicos Arco-Íris!
Somos um grupo de pessoas católicas lésbicas, gays, bissexuais e transgênero e, junto com nossas afetuosas famílias e amigos e amigas, passamos os últimos dias não muito longe de vocês, em Roma, consolidando dois anos de trabalho, que avançaram ao lado dos preparativos de seu duplo Sínodo.
Somos provenientes de mais de 30 países, tanto como indivíduos quanto como representantes de grupos que têm estado envolvidos com o desenvolvimento de pessoas como nós na vida de nossas igrejas locais (e com muitas outras tarefas). Os últimos anos não foram fáceis! Muitas pessoas em nossa Igreja achavam que estavam prestando um serviço a Deus ao nos odiar, e algumas ainda fazem isso, especialmente entre a hierarquia; mas podemos dizer-lhes com alegria que mantivemos viva nossa confissão da fé católica!
Mantivemos a fé sob perseguição, e estamos dispostos e dispostas a juntar-nos a vocês no alegre anúncio do Evangelho para o qual o Papa Francisco nos conclamou.
Visto que Deus é maravilhoso, constatamos que, através desta vida como escória entre o povo de Deus, o Espírito Santo nos tem dado uma capacidade surpreendente (ao menos para nós) de nos manifestar em circunstâncias adversas, de não ter medo das pessoas que nos temem, de não ficar ressentidas e ressentidos com a incapacidade de aprovação e com a burocrática mesquinhez de espírito e desonestidade a que temos sido sujeitos repetidamente. Aprendemos que o que importa não é o que a Igreja pode fazer por nós, e sim o que nós podemos fazer pela Igreja.
Precisamos estar melhor preparados e preparadas para nos juntar a vocês em sua tarefa de divulgar o Evangelho e edificar as famílias em que Deus (como nós mesmos e mesmas experimentamos tantas vezes) se regozija. Precisamos nos apoiar mutuamente, e apoiar outras pessoas mais vulneráveis do que nós, em nível mundial, especialmente em países que nos criminalizam e inclusive acham que estão honrando a Deus ao nos matar.
Precisamos ter condições de compartilhar informações, contrapor-nos à falsidade, encorajar-nos mutuamente em nossas necessidades e fortalecer nossas famílias, especialmente onde as leis civis não as respeitam ainda. Assim, decidimos montar uma rede global para reunir grupos de católicos LGBTI, nossas famílias e amigos e amigas, assim como outras pessoas cristãs e pessoas de boa vontade. Isso nos possibilitará estarmos muito melhor preparados e preparadas para compartilhar experiências, histórias de vida, exemplos da melhor prática: pequenos milagres de amor.
Queremos organizar nossa rede de tal modo que possamos até ser úteis a vocês, embora saibamos, a partir de uma longa experiência, quanto medo muitos de vocês têm de se comunicar conosco discretamente, e menos ainda de falar conosco oficialmente! Tendo aprendido, vivendo com Jesus, a não desanimar por causa das falsidades e calúnias a nosso respeito a que alguns de vocês ainda parecem apegados e que até fazem passar por “ensinamento da Igreja”, vocês nos encontrarão resilientes, porque sabemos que somos amados e amadas.
Na quase ausência de pastores visíveis, viemos a confiar e a amar um Pastor que não teve vergonha de se entregar à morte por nós, um Pastor cuja voz ouvimos, do qual não somos rivais e a cuja luz todos os outros que se autodenominam pastores podem ser testados em relação aos frutos que produzem. Por causa disso, vocês talvez até se surpreendam de nos encontrarem mansos!
Assim, escrevemos a vocês para desejar-lhes encorajamento para esses dias de sua reunião sinodal, bem como para os meses e anos vindouros, enquanto todos e todas nós começamos a viver os sinais do novo que estão nascendo, descobrindo novas formas de celebrar a família, em vez de condenar o vinho que ameaça romper odres velhos. Vibramos pelo fato de vocês terem ouvido junto conosco a maravilhosa homilia do Papa Francisco em Filadélfia na semana passada, em que ele tirou as consequências da repreensão dirigida tanto por Jesus quanto por Moisés às pessoas que querem reter o Espírito Santo.
Rezamos por vocês em cada Missa de nossa reunião e pedimos que vocês rezem por nós, confiantes de que em breve teremos condições de nos reunir transparentemente, com alegria. Pois descobrimos com espanto que, ao longo os últimos anos, a despeito de tudo e porque nada é impossível para Deus, tornamo-nos parte integrante, junto com vocês, na vida do Evangelho e co-partícipes de todas as tarefas alegres de vocês.
Saudações calorosas de suas irmãs e seus irmãos em Cristo da Rede Arco-Íris.
Roma, Festa de São Francisco de Assis de 2015
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Rede Global de Católicos Arco-Íris escreve Carta aos bispos reunidos no Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU