O Golpe Civil-Militar. Compromisso de não apagar a História

Blindado, modelo M41 Walker Bulldog, usado para patrulha em frente ao Congresso Nacional, após o Golpe Civil-Militar de 1964. Foto: Arquivo Público DF

Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 31 Março 2021

 

A ausência do passado na consciência coletiva é a violenta perpetuação de domínio da História. A memória por si só, entretanto, não se distingue dos imaginários pessoais e das narrativas seletivas. Portanto, a compreensão dos eventos, fatos, episódios, personagens e locais requer o movimento dialético de aproximação e distanciamento, a seriedade da análise e de paradigmas que apresentem as lentes de onde e o que procurar no passado. Sem isso, vive-se o risco de o proselitismo contar a vida de um povo.

O Golpe Civil-Militar no Brasil aconteceu há 57 anos e ainda hoje se esconde a verdade em algumas narrativas, tentando se enterrar um passado não resolvido, ocultando os direitos violados e os corpos torturados. Hoje, figura pelo Planalto Central a sombra de um comando que evoca uma narrativa heroica sobre os crimes aplicados pelo governo militar. Um exemplo é a narrativa que vem sendo impetrada pelo novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, ao referir que o golpe de 1964 buscou “pacificar o país” e “garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, sem levar em conta a cassação de direitos e liberdade, e tampouco levando em conta as perseguições, torturas e mortes geradas pelo regime.

Tais movimentos são evidentes, e as tentativas de enterrar um passado não resolvido ainda ganham força no atual governo. “Até hoje não sabemos efetivamente o que aconteceu nesse período — nem mesmo nós, que sobrevivemos, que estivemos presos, que fomos testemunhas da tortura e da morte de alguns companheiros. Essa história ainda não foi contada, pelo menos não oficialmente”, foram as palavras da psicóloga Cecília Coimbra, em entrevista à IHU On-Line, em 2014, recordando os 50 anos do golpe.

Além disso, é preciso levar em conta que no dia em que o Brasil chegou a 318 mil mortes pela Covid-19, alcançando o maior número diário e a maior média de mortes nesta pandemia, o governo federal remanejou seus ministérios, incluindo o da Defesa, e os comandantes Edson Pujol, do Exército, Ilques Barbosa, da Marinha, e Antonio Carlos Moretti Bermudez, da Aeronáutica, pediram renúncia de seus cargos. Segundo o jornalista Ricardo Kotscho, da Folha de São Paulo, 29-03-2021, a tensão ocorreu devido à recusa das Forças Armadas em apoiar um Estado de Sítio.

Como alertou Kotscho, na Folha: “Os próximos dias, enquanto o presidente não for contido em sua escalada autoritária, prometem fortes emoções. E tudo isso está acontecendo na antevéspera de mais um 31 de Março, aniversário do Golpe Militar de 1964 sempre defendido por Bolsonaro. Preparem-se”. Pois, ainda na terça-feira, 30-03-2021, o Ministério da Defesa, em ordem assinada pelo general Walter Braga Netto, convocou a celebração da ditadura militar, traçando paralelos entre 1964 e 2021.

O Instituto Humanitas Unisinos - IHU recorda seu compromisso em acertar contas com o passado de tantas perseguições, sequestros, torturas e mortes. Em dezenas de entrevistas, reportagens e publicações, o Golpe Civil-Militar, que completa 57 anos neste 31-03-2021, não passou impune.

 

Revistas IHU On-Line

 

Revista IHU On-Line Nº 95 — 5 de abril de 2004

1964-2004 — Hora de passar o Brasil a limpo
40 anos depois do golpe militar, a IHU On-Line se propõe a contribuir no debate e análise desse evento-chave na história do país. Para isso, conforme opina Luiz Werneck Vianna, em entrevista especial à IHU On-Line, trata-se de importante momento “para passar o Brasil a limpo”.

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Revista IHU On-Line Nº 96 — 12 de abril de 2004

O regime militar: a Economia, a Igreja, a Imprensa e o Imaginário
Um dos objetivos estratégicos do Instituto Humanitas Unisinos é a análise e a reflexão sobre a realidade latino-americana, especialmente a brasileira. A memória dos 40 anos do golpe militar de 1964 é uma oportunidade propícia para realizar parte desse objetivo. Nesta edição, refletimos sobre o projeto econômico da ditadura militar, o seu esgotamento e consequente paralisia, que já dura mais de duas décadas e que continua no atual governo. Um dos aspectos discutidos quando se fala de golpe de 1964, é o papel jogado pela Igreja Católica. A análise histórica mostra como a Igreja entrou profundamente cindida no golpe. Somente em 1977, portanto catorze anos depois, ela chegou a um consenso sobre a sua decidida participação na redemocratização do País. A imprensa alternativa, durante a ditadura militar, teve um papel relevante que deixou a sua marca na imprensa que temos, hoje, no país. Enfim, a ditadura militar soube trabalhar com o imaginário. Um imaginário de um Brasil potência, de otimismo exacerbado, que povoa ainda hoje, a política nacional. Ou seja, a ditadura militar deixou sequelas importantes na vida política, econômica, social e cultura do Brasil. Refletir sobre elas é fazer as contas com este passado para entender melhor o presente, buscando, de maneira mais efetiva, mudá-lo.

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Revista IHU On-Line Nº 269 — 18 de agosto de 2008

Tortura, crime contra humanidade. Um debate urgente e necessário
Os anos de chumbo já acabaram no Brasil, mas a tortura, os assassinatos, os desaparecimentos e o luto constante daqueles que sequer enterraram seus mortos ainda persistem, vívidos.

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Revista IHU On-Line Nº 358 – 18 de abril de 2011

Anistia. Memória e justiça
Países como Argentina, África do Sul, Chile e Espanha, entre outros, têm, no que se refere à anistia, à memória e à justiça dos crimes cometidos durante os regimes ditatoriais que assolaram seus povos, uma experiência diferente da nossa, no Brasil. Mais de 40 anos depois do golpe militar de 1964, ainda não conseguimos desatar este nó.

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Revista IHU On-Line Nº 437 – 17 de março de 2014

1964. Um golpe civil-militar. Impactos, (des)caminhos, processos
Quisera este editorial jamais ter sido escrito. Quisera o horror da tortura, da perseguição, da morte ser um pesadelo escuro que se dissolve com o abrir dos olhos ao amanhecer. Uma sofisticada e complexa articulação civil-militar, com a participação de federações, entidades patronais, partidos políticos, embaixadores, presidentes, militares e mesmo a imprensa, levou o Brasil à escuridão de uma noite com mais de 20 anos.

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Revista IHU On-Line Nº 439 – 31 de março de 2014

Brasil, a construção interrompida
O direito à memória e ao não esquecimento são as principais razões para a IHU On-Line publicar este volume sobre os 50 anos do Golpe Civil-Militar. "Não há tema mais atual do que a memória", afirma o pesquisador José Carlos Moreira. "Entender o passado como morto é o caminho mais rápido para eliminarmos nosso futuro", destaca ele em entrevista publicada nesta edição.

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Entrevistas especiais publicadas no sítio do IHU

 

Publicações IHU On-Line

 

Eventos IHU

 

Ciclo de Estudos "50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos"

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