21 Novembro 2025
O número de pessoas que se identificam com a religião católica está diminuindo (46%), enquanto a porcentagem daqueles que se definem como indiferentes, agnósticos ou ateus (42%) e daqueles que se identificam com religiões diferentes do catolicismo (8%) está aumentando — este último sendo o maior índice registrado em uma pesquisa estadual.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 19-11-2025.
A Fundação Pluralismo e Coexistência (FPyC) apresentou na terça-feira o primeiro Barômetro sobre Religião e Crenças na Espanha (Brec). Este estudo visa fornecer, a cada dois anos, uma análise rigorosa e atualizada da relação entre a sociedade espanhola e a religião e as crenças, bem como avaliar o estado atual da liberdade religiosa no país e compreender a opinião pública sobre o papel do Estado na garantia desse direito.
Os resultados da primeira fase do inquérito Brec — 4.742 entrevistas online realizadas em março — confirmam uma tendência já observada por outros inquéritos nacionais: o número de pessoas que se identificam com a religião católica está a diminuir (46%), enquanto a percentagem dos que se definem como indiferentes, agnósticos ou ateus (42%) e dos que se identificam com religiões diferentes do catolicismo (8%) está a aumentar — sendo este último o valor mais elevado registado num inquérito nacional. Além disso, o nível de prática religiosa é baixo: embora 54% da população espanhola pertença a alguma religião, apenas 17% mantém uma prática regular.
Os dados também refletem um enfraquecimento significativo na transmissão religiosa e uma mudança no papel da religião entre os fatores que dão sentido à vida. De todas as dimensões analisadas, a religião ocupa o último lugar, abaixo de valores como crescimento pessoal, contato com a natureza e animais de estimação.
Para além destas questões, o Barômetro foi concebido com o objetivo de explorar o surgimento de novas formas de espiritualidade e a sua relação com os fenômenos religiosos, um fenómeno pouco estudado até agora, mas fundamental para a compreensão das transformações do panorama religioso contemporâneo e das suas implicações, também do ponto de vista da gestão pública.
Espiritualidade fora das religiões institucionais
A este respeito, o Brec (Inquérito à Juventude Espanhola) demonstra que, embora os jovens espanhóis estejam cada vez mais abertos à espiritualidade, fá-lo fora das religiões institucionais. 61% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não se identificam com nenhuma religião; 27% declaram-se agnósticos; 21% indiferentes; e 13% ateus. Contudo, 31% dos jovens afirmam acreditar em algum tipo de realidade espiritual ou força vital; 29% dizem acreditar fortemente ou bastante em astrologia; e 23% em clarividência. Estas percentagens são significativamente superiores às dos outros grupos etários.
Ainda assim, o Barômetro também mostra que essa tendência não se limita aos mais jovens. Em toda a população, 20% daqueles que declaram não ter crenças religiosas se definem como pessoas espirituais, sem pertencer a nenhuma denominação. Além disso, 35% acreditam que algum tipo de realidade espiritual ou força vital possa existir, ou acreditam no poder da natureza e da Mãe Terra. Entre os agnósticos, a crença no poder da natureza e da Mãe Terra sobe para 56%.
Essas novas formas de espiritualidade, mais pessoais e desinstitucionalizadas, se expressam por meio de práticas como meditação, ioga, acendimento de velas e cultivo da conexão com a natureza. Elas não implicam um retorno à religião tradicional, mas sim uma busca por significado e conexão dentro de um contexto de mudança cultural e geracional, onde a espiritualidade se entrelaça com a busca pelo bem-estar pessoal e com a relação com o meio ambiente.
O laicismo, uma garantia para a liberdade religiosa.
O Brec também oferece informações relevantes sobre a percepção da liberdade religiosa na Espanha: duas em cada três pessoas acreditam que esse direito pode ser exercido sem dificuldade, e a religião está entre os motivos que geram a menor percepção de discriminação.
Da mesma forma, mais da metade da população apoia a promoção das condições necessárias para garantir o exercício efetivo da liberdade religiosa em suas diversas manifestações (funerais, locais de culto, assistência religiosa ou cardápios escolares).
Os dados também indicam que uma grande maioria (71%) considera o laicismo uma garantia do direito fundamental à liberdade religiosa e que existe um amplo consenso quanto à separação entre religião e política. De fato, há uma rejeição generalizada do ensino religioso confessional nas escolas públicas e um apoio majoritário a uma disciplina não confessional sobre a história e a cultura das religiões.
Em relação aos símbolos religiosos em espaços públicos, apenas uma minoria (20%) apoia a manutenção de símbolos religiosos estáticos em edifícios e espaços oficiais. Ainda menor (14%) é o número daqueles que são a favor da proibição de símbolos religiosos pessoais em todos os espaços públicos.
No entanto, o Barômetro revela que, entre as pessoas que professam religiões diferentes do catolicismo, a dificuldade percebida no exercício da liberdade religiosa é maior em todas as situações analisadas. Além disso, a proporção de fiéis de minorias religiosas que relatam ter sofrido um incidente motivado por suas crenças no último ano é três vezes maior do que a da população em geral (36% contra 12%).
Os dados revelam uma percepção social negativa da maioria das religiões (apenas o catolicismo e o budismo recebem uma avaliação positiva do público). Esses resultados apontam para a necessidade de fortalecer iniciativas de diálogo e compreensão mútua em relação à diversidade de crenças e convicções, a fim de promover a coexistência, que é precisamente o objetivo da Fundação Pluralismo e Coexistência.
Uma contribuição pioneira
A iniciativa de realizar este Barômetro faz parte do Segundo Plano Nacional de Direitos Humanos, especificamente da medida 149, incluída no objetivo de promover maior reconhecimento da liberdade religiosa e da coexistência entre diferentes crenças.
O projeto é promovido pela Fundação Pluralismo e Coexistência (FPyC), um organismo público cuja missão é promover as condições necessárias para o exercício efetivo do direito à liberdade religiosa, em conformidade com as disposições da Constituição Espanhola e da legislação vigente.
A gestão pública eficaz da diversidade religiosa exige informações confiáveis e atualizadas que permitam compreender a dinâmica social associada aos fenômenos religiosos. Nesse sentido, o Brec (Pesquisa Religiosa sobre Minorias Religiosas) representa uma contribuição pioneira devido à abrangência e ao desenho de sua amostra, que proporciona representatividade suficiente das minorias religiosas para compreender suas realidades.
Leia mais
- O milagre da Geração Z: a religião virou ‘trending topic’. Artigo de Anna Ferri
- Não celebrem acriticamente o retorno à religião entre os jovens, avisa a teóloga austríaca
- Teólogo pastoral: jovens buscam cada vez mais apoio na religião
- Segundo a teóloga Polak, a igreja é parcialmente culpada pela perda da fé
- "Entre os jovens, as religiões se esfacelam, mas as espiritualidades florescem". Entrevista com Jean-Pierre Willaime
- Na França, o fenômeno religioso reconfigurado
- Pós-religião? Na França, ganham força os "jovens fanáticos"
- Jovens europeus cada vez mais distantes da religião
- Os jovens católicos franceses são mais conservadores que os adultos
- Desvinculação religiosa entre os jovens é maior do que a adesão ao pentecostalismo. Entrevista especial com Silvia Fernandes