O Concílio de Niceia 1.700 anos depois

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16 Abril 2025

Consenso teológico entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, mas limitações inesperadas devido à doença do Papa e inflexibilidades extremas pelo cisma entre os patriarcados ortodoxos de Moscou e de Constantinopla, pesam na abordagem problemática das celebrações solenes do 1.700º aniversário do Concílio de Niceia.

O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige, 14-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Trata-se de uma passagem decisiva para a fé cristã, mas também para o “Constantinismo”. Bartolomeu, “primus inter pares” entre os hierarcas ortodoxos, havia garantido, há dois meses, que em Niceia (hoje, em turco, Iznik, a 140 quilômetros de Istambul), no final de maio, haveria a comemoração solene do primeiro Concílio “ecumênico”, ou seja, representando a “oikoumene”, a terra habitada pelos romanos.

A Assembleia, condenando o presbítero herético Ário, que negava a plena divindade do Verbo, afirmou ser Ele “Deus de Deus, luz da luz, da mesma substância que o Pai”. Um dogma de fé, professado no 'Credo', que a Comissão Teológica Internacional acaba de definir como 'marco' do cristianismo.

Constantino, formalmente ainda pagão, convocou o Concílio em 325 e garantiu que asseguraria que a fé proclamada pelos cerca de trezentos bispos reunidos em Niceia fosse observada. E, de fato, após a grande assembleia, o imperador (que mais tarde também apoiaria os antinicenos) mandou Ário para o exílio. Esse resultado dramático - o poder político que, para cair nas boas graças da Igreja, usa a violência para punir aqueles que considera hereges - está na base do “Constantinismo”, a aliança que durou séculos entre a Igreja e o Estado para dominar a sociedade. Embora hoje aquela “soldagem” seja contestada, até mesmo por muitos eclesiásticos, ainda persiste - por meio de várias Concordatas - em uma sociedade já secularizada.

Bergoglio havia garantido que iria a Niceia, mas, devido às condições de saúde, sua presença parece muito incerta. E ainda mais improvável parece ser a participação do Patriarca de Moscou, Kirill. Porque ele, juntamente com seu Santo Sínodo, rompeu a comunhão eucarística com todos os bispos do patriarcado de Constantinopla: a Igreja russa, de fato, considera Bartolomeu “cismático” porque, violando os cânones sagrados, e apesar da extrema oposição da Igreja russa, ousou reconhecer a autocefalia (independência) da Igreja ucraniana em 2019.

A Igreja russa tem cerca de metade dos 250 milhões de ortodoxos espalhados pelo mundo, enquanto o outrora poderoso Patriarcado de Constantinopla tem agora cerca de 3 milhões nas Américas e menos de 5 mil na Turquia. Assim, mesmo sendo “primus inter pares” entre os hierarcas ortodoxos, Bartolomeu, chefe da “Segunda Roma”, sofre zombaria do Patriarca de Moscou, a “Terceira Roma”. Por outro lado, Francisco, o bispo da “Primeira Roma”, aquela no Tibre, não conseguiu aplainar o duro contencioso entre as Igrejas irmãs: estas, pelo menos hoje, não pretendem ouvi-lo. A atual disputa intraeclesial faz o que, há 1700 anos, Ario não conseguiu: dividir a Igreja. E assim, depois de dezessete séculos, Niceia é traída.

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