22 Novembro 2024
Com palavras incisivas, o Papa fez um apelo por uma abordagem sensível e realista da história da Igreja. Em uma carta publicada na quinta-feira pelo Vaticano, ele escreve: "A história da Igreja nos ajuda a olhar para a Igreja real, a fim de amar a Igreja que de fato existe, que aprendeu e continua aprendendo com seus erros e derrotas". O estudo da história, segundo ele, protege contra "uma visão excessivamente angelical da Igreja, de uma Igreja que não é real porque não tem manchas nem rugas".
A reportagem é publicada por Katolisch.de, 21-11-2024.
Em um momento em que cresce a tendência de renunciar à memória ou de construir uma memória adaptada às necessidades das ideologias dominantes, o Papa enfatiza que é urgentemente necessária uma nova e maior sensibilidade histórica. Isso vale para candidatos ao sacerdócio, jovens estudantes de teologia e todas as outras pessoas.
Memórias falsas e artificiais
Na carta de oito páginas, Francisco critica uma atual onda de memórias falsas, artificiais e inverídicas, ao mesmo tempo que observa uma falta de consciência histórica na sociedade "e também em nossas comunidades cristãs". Por isso, ele destaca que o papel dos historiadores e o conhecimento de suas descobertas são hoje decisivos e podem servir como antídotos contra o ódio, que se baseia na ignorância e nos preconceitos.
Ao abordar a própria instituição da Igreja, o Papa não poupa autocrítica: ao longo dos séculos, houve infidelidade ao espírito de Deus, tanto entre clérigos quanto entre leigos. "Também em nosso tempo, a Igreja sabe o quanto é grande a distância entre a mensagem que ela proclama e a pobreza humana daqueles a quem o Evangelho foi confiado". Francisco adverte que esse fracasso não deve ser esquecido, mas deve ser combatido incansavelmente para que não prejudique a disseminação do Evangelho.
Ele recorda horrores históricos: "O Holocausto não deve ser esquecido. Os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki não devem ser esquecidos. Também não devemos esquecer as perseguições, o tráfico de escravos e as limpezas étnicas que ocorreram e ainda ocorrem em vários países, além de tantos outros eventos históricos pelos quais nos envergonhamos de ser humanos". A Igreja, segundo ele, deve indicar caminhos eficazes de reconciliação e paz social.
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