14 Novembro 2024
Donald Trump, de acordo com alguns vazamentos, não está perdendo tempo em concretizar suas promessas eleitorais. Entre elas está o uso iminente de recursos do Pentágono, teoricamente destinados à defesa, para implementar o projeto de deportar todos os imigrantes que vivem e trabalham nos Estados Unidos sem autorização.
A reportagem é de Maurizio Ambrosini, publicada por Avvenire, 13-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O presidente recém-eleito aumentou a aposta: não apenas relançou a ideia de concluir o longo muro com o México, mas também pretende desenraizar e deportar pessoas que se estabeleceram nos EUA há muitos anos, conseguiram emprego, pagaram impostos, constituíram famílias, às vezes abriram empresas ou fizeram estudos universitários. Também nos EUA existem normas de prescrição para todos os crimes, mas não para a imigração irregular: é uma culpa impossível de apagar.
O primeiro teste para um programa como este diz respeito à viabilidade, como Elena Molinari mencionou neste jornal. Estamos falando de uma população estimada em 10,9 milhões de pessoas em 2022. Mais do que os habitantes de vários estados dos EUA. Já se fala, de fato, em campos de detenção onde eles poderiam ser mantidos, em vistas à deportação. Mas com uma população de tamanha dimensão, a presidência de Trump terá que criar instalações enormes, com todos os custos decorrentes.
Entre os candidatos à deportação também estão muitos menores e muitos pais de crianças que, por terem nascido no país, são cidadãos estadunidenses por lei. Os pais serão postos diante do dilema desumano entre deixar seus filhos nos Estados Unidos, detidos em condições deploráveis, e levá-los consigo para o país de origem que não conhecem, depois de terem iniciado uma educação no país onde nasceram.
A possibilidade de licenças para cuidados parentais é descartada pela ideologia da direita intransigente, que já cunhou um termo para desacreditar quaisquer concessões humanitárias: fala em “crianças-paraquedas”, o que significa que os pais propositalmente trazem crianças ao mundo para poderem se estabelecer nos Estados Unidos para se aproveitar dos direitos parentais. Uma linha de tolerância zero é indiretamente confirmada pela notícia de que o chefe do programa de deportação deveria ser Tom Homan, responsável pela separação das crianças de seus pais durante a presidência anterior de Trump.
Os interesses econômicos poderiam representar os problemas mais substanciais para o programa trumpiano. O argumento está impregnado de cinismo, mas não é fácil de ser contornado. Setores importantes da economia, como a agricultura californiana, dependem em grande parte da mão de obra de imigrantes ilegais: estima-se que eles são responsáveis por mais da metade dos dias de trabalho. O mesmo se aplica para as famílias e os serviços domésticos, ou para o setor da construção civil e hotelaria. Trump provavelmente oferecerá aos empregadores mais entradas regulares, como já fez anteriormente.
Mas a substituição, se ocorrer, não será simples nem imediata. Substituir trabalhadores já experientes, socializados no trabalhar, acostumados aos ritmos e às regras, por outros recém-chegados e inexperientes é uma tarefa exigente e prolongada, e tudo isso às custas dos empregadores. O cenário mais viável é, portanto, o de uma operação semelhante a várias outras colocadas em prática pela política soberanista, incluindo o acordo Itália-Albânia: Trump tomará alguma iniciativa chamativa, fechará as famílias em alguma estrutura de detenção, separará as crianças de seus pais, deportará alguns milhares de azarados, talvez residentes nos Estados Unidos há muitos anos, arruinando a vida de pessoas enviadas depois de anos para países inseguros e empobrecidos com os quais não têm mais vínculos. O impacto midiático será considerável, e haverá protestos. Mas os protestos também jogarão a favor de Trump: darão à opinião pública a impressão de que o presidente está firme e implementa sua agenda de forma inflexível. A imigração irregular não desaparecerá de forma alguma, terá que se esconder mais e viver com medo. Mas empregadores que a exploram certamente não faltarão.
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Deportações insustentáveis. O plano Trump é propaganda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU