28 Outubro 2024
Natália Bonavides (PT) foi derrotada com um programa de esquerda e não com um programa adocicado como ocorreu com a derrota do PT em outras cidades, escreve Cesar Sanson, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
“Nem toda derrota eleitoral é uma derrota política”, afirmou Natália Bonavides candidata a prefeita pelo PT em Natal diante de centenas de militantes na noite de ontem. A afirmação que pode parecer retórica, no caso específico da capital potiguar, assume outro significado quando comparada a disputas da esquerda em outras capitais brasileiras.
Natalia foi derrotada com um programa de esquerda. Em nenhum momento tergiversou e abriu mão de suas convicções políticas. A principal delas: ser de esquerda só tem sentido se for para combater a desigualdade social. Era recorrente em seus discursos e em seu programa eleitoral falar dos invisibilizados da sociedade, dos esquecidos, daqueles que sofrem nas periferias abandonados pelo poder público. Dizia claramente que o seu mandato seria direcionado a esses e não aos ricos.
O programa apresentado à cidade de Natal por Natália foi um programa de esquerda. Não apenas na área social, mas também na defesa dos direitos humanos.
Um caso emblemático foi a de ser acusada – o que lhe causou enormes estragos na campanha – de defender os que furtam. Natália foi signatária do projeto de lei de furtos famélicos, furtos resultante de necessidade ou de valores insignificantes que não devem ser punidos com prisão. A direita transformou isso em uma gigantesca fake news afirmando que a candidata defendia ladrões de celulares. Em momento algum Natália recuou, pelo contrário, procurou didaticamente explicar o projeto. Ao mesmo tempo explicava que os que roubam muito, a turma do grande capital, não vai para a cadeia.
Da mesma forma foi duramente atacada - lembrando muito do que aconteceu com Manuela D’Avila – pelos defensores da pauta de costumes bolsonarista. “Abortista”, “defensora de gays e de maconheiros” faziam parte dos ataques recorrentes no esgoto do submundo das redes sociais. Natália com serenidade também enfrentou este debate, sem abrir mão de sua convicções tendo como referência os direitos humanos.
O mais significativo de sua campanha foi isso, o fato de ser derrotado com um programa de esquerda e não com um programa adocicado como ocorreu com a derrota do PT em outras cidades. É neste contexto que deve ser compreendia a afirmação de Natália diante de centenas de militantes neste domingo à noite: “Nem toda derrota eleitoral é uma derrota política”.
Ser derrotado faz parte do jogo político, mas ser derrotado abrindo mão de um programa de esquerda é ser duplamente derrotado.
Natália é uma emergente liderança política no país. Prestem atenção nela e no seu conteúdo político.
Natália é a esquerda que não tem medo de dizer o seu nome!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Natal: a derrota da esquerda que não teve medo de dizer o seu nome - Instituto Humanitas Unisinos - IHU