03 Abril 2024
O governo de Netanyahu ataca veículos com ajuda humanitária e a Flotilha da Liberdade prepara um envio marítimo para depositar 5.500 toneladas de alimentos.
A reportagem é publicada por El Salto, 03-04-2024.
Quando o massacre de Israel à Faixa de Gaza já ceifou mais de 32.900 vidas, segundo dados oficiais das autoridades de Gaza, o massacre das bombas é seguido pelo risco de mortes por fome. Assim, 1 a cada 3 meninos e meninas com menos de 2 anos sofre de subnutrição na região. Estes são dados da ONG Save The Children, que aponta os 346 mil meninos e meninas com menos de 5 anos em Gaza como os que correm maior risco de morte por falta de acesso a alimentos. No Norte, estima-se que 1 a cada 3 crianças com menos de 2 anos sofre de desnutrição aguda, a forma mais grave de subnutrição, um aumento em relação a 1 em cada 6 crianças em janeiro, de acordo com o The Global Nutrition Cluster, grupo de organizações humanitárias centradas na nutrição.
Dados que se conhecem ao mesmo tempo que Israel ataca a limitada ajuda humanitária que consegue flanquear o bloqueio rígido. Isto foi feito terça-feira contra carros da ONG World Central Kitchen, provocando a morte de sete trabalhadores humanitários que geriam no terreno a ajuda alimentar depositada em terra por mar graças à cooperação com a ONG Open Arms. Como a WCK expressou em comunicado, sua equipe se deslocava por uma área sem conflito em dois veículos blindados com o logotipo da WCK e outro não blindado. Apesar de ter coordenado os seus movimentos com as Forças de Defesa de Israel, o comboio foi atingido ao sair do armazém de Deir al-Balah, onde a equipe tinha descarregado mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária trazida para Gaza por via marítima.
“As forças israelenses mataram intencionalmente trabalhadores da WCK para que os doadores se retirassem e os civis em Gaza pudessem continuar a morrer de fome em silêncio”, expressou a relatora da ONU para a Palestina, Francesca Albanese, em X. “Israel sabe que os países ocidentais e a maioria dos países árabes não levantarão um dedo pelos palestinianos”, concluiu.
O ataque sofrido ontem pelo comboio WCK não é excepcional. Tal como confirmado pela agência das Nações Unidas para a ajuda aos refugiados palestinos, UNRWA, mais de 200 trabalhadores humanitários já foram mortos nestes seis meses, cerca do triplo do número alcançado por outros conflitos no mundo, como a Síria, o Afeganistão ou a Somália, em foi o ano mais mortífero, segundo dados divulgados pelo coordenador humanitário da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Jamie McGoldrick. A UNRWA denuncia que já sofreu três ataques aos seus carros.
For context before killing 7 @WCKitchen aid workers last night, Israel’s been accused multiple times of bombing aid convoys in Gaza (despite coordination). In Feb @UNRWA said one of its food convoys was hit by naval shell as it prepped to go north👇🏼 UN has reported multiple… pic.twitter.com/IKWrVLywEx
— Bel Trew (@Beltrew) April 2, 2024
Entretanto, os líderes das grandes potências mundiais limitam-se a pedir explicações a Israel sobre os últimos acontecimentos. O presidente espanhol, Pedro Sánchez, expressou-se neste sentido durante uma visita ao Oriente Médio que tem como objetivo selar uma conferência de paz na região. Embora as relações com Israel permaneçam intactas e não estejam à vista sanções ou embargos econômicos, apesar de há uma semana o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter exigido um cessar-fogo temporário até o fim do Ramadã.
À medida que crescem os obstáculos ao envio e entrega de ajuda humanitária e que o bloqueio nas fronteiras terrestres aumenta, uma flotilha internacional de ajuda civil para quebrar o cerco a Gaza, conhecida como Flotilha da Liberdade, está finalizando os detalhes para zarpar em meados de abril, quando transportará 5.500 toneladas de ajuda humanitária para “desafiar o atual bloqueio ilegal israelense à Faixa de Gaza”.
A Coligação Internacional para a Flotilha da Liberdade coloca esta ação como uma “missão de emergência” dada a situação desesperadora na Faixa, mas assume que não é suficiente. “Devemos acabar com o bloqueio ilegal e mortal de Israel, bem como com o controle geral de Gaza por parte de Israel. Permitir que Israel controle o que e quanta ajuda humanitária pode chegar aos palestinos em Gaza é como deixar a raposa cuidar do galinheiro”, alertam.
“Isto é o que a comunidade internacional de Estados está a permitir, ao se recusar a sancionar Israel e a desafiar as suas políticas genocidas para garantir que ajuda suficiente chegue à população civil encurralada, sitiada e bombardeada”, concluem.
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Uma a cada três crianças sofre de desnutrição em Gaza, enquanto Israel mata trabalhadores humanitários que trazem alimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU