O Deus maligno das nações. Artigo de Michele Serra

Trump e Modi em comício, dois personagens que propagam o nacionalismo religioso. (Foto: Shealah Craighead | Casa Branca)

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15 Março 2024

"A própria ideia da religião é sobre-humana, olha para o infinito e para o cosmos, estilhaça todas as fronteiras. O que há de mais miserável e mais irreligioso do que um uso político de Deus?", escreve o jornalista, escritor e roteirista italiano Michele Serra, em artigo publicado por La Repubblica, 14-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

No país mais populoso do mundo (Índia), o governo nacionalista promulgou novas leis restritivas contra a minoria muçulmana.

hinduísmo, sob a presidência de Modi, que está no cargo há dez anos, é quase a religião oficial.

É apenas a última de uma longa série de notícias que traz de volta ao primeiro plano o uso identitário da religião e, consequentemente, a sua exploração política. Nada galvaniza mais as massas do que os terríveis e primitivos “nós” e “eles”, estratificados ao longo dos séculos pelas diferentes afiliações religiosas. O primeiro vislumbre do terceiro milênio (a partir das Torres Gêmeas) é uma reiteração obstinada, eu diria enlouquecida, da identidade religiosa como desmentida evidente de toda ilusão da humanidade ser uma só. Não é; e, para os sumos chefes, com exceção de uma minoria que temo ser insignificante, não tem nenhuma intenção de o ser.

Tentem imaginar o cenário trágico do Oriente Médio depurado do fator religioso; os palestinos sem o islamismo do Hamas e Israel sem os seus ministros ortodoxos; um dos principais obstáculos, talvez o principal, à compreensão mútua e à paz seria finalmente removido.

Que esse uso discriminatório e opressivo da religião seja combatido e desprezado pelos agnósticos, libertários, não-confessionais, é óbvio.

No entanto, pergunto-me como podem tolerá-lo os crentes de toda fé, para quem a universalidade de Deus deveria tornar obscena e ridícula a sua redução a protetor de um povo, de uma nação, de um Estado. A própria ideia da religião é sobre-humana, olha para o infinito e para o cosmos, estilhaça todas as fronteiras. O que há de mais miserável e mais irreligioso do que um uso político de Deus? Se eu fosse um padre, um rabino, um imã, um sábio hindu, estaria arquitetando uma Internacional de Deus, que amaldiçoe e combata todas as formas de nacionalismo religioso.

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