18 Agosto 2023
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 14-08-2023.
A oração de petição tem sido alvo de fortes críticas ao longo dos anos. O homem iluminado dos tempos modernos não consegue se colocar em atitude de súplica diante de Deus, porque sabe que Deus não vai alterar o curso natural dos acontecimentos para atender aos seus desejos.
A natureza é "uma máquina" que funciona de acordo com as leis naturais, e o homem é o único ser que pode agir e transformar, apenas em parte, o mundo e a história com a sua intervenção.
Então a oração de petição é encurralada para cultivar outras formas de oração como louvor, ação de graças ou adoração, que podem ser mais harmonizadas com o pensamento moderno.
Outras vezes, a súplica da criatura ao seu Criador é substituída pela meditação ou imersão da alma em Deus, mistério último da existência e fonte de toda a vida.
No entanto, a oração de súplica, tão polêmica por seus possíveis equívocos, é decisiva para expressar e viver pela fé nossa dependência criatural de Deus.
Não é de estranhar que o próprio Jesus elogie a grande fé de uma mulher simples que sabe implorar com insistência a sua ajuda. Deus pode ser invocado em qualquer situação. Da felicidade e da adversidade; do bem-estar e do sofrimento.
O homem ou a mulher que eleva o seu pedido a Deus não se dirige a um Ser apático ou indiferente ao sofrimento das suas criaturas, mas a um Deus que sabe sair do esconderijo e manifestar a sua proximidade a quem lhe suplica.
Isso é o que significa. Não usar Deus para alcançar nossos objetivos, mas buscar e pedir a proximidade de Deus naquela situação. E a experiência da proximidade de Deus não depende principalmente da realização dos nossos desejos.
O crente pode experimentar a proximidade de Deus de muitas maneiras, independentemente de como o nosso problema seja resolvido. Recordemos a sábia advertência de Santo Agostinho: "Deus escuta o vosso chamamento se o procurais. Ele não te ouve se, através dele, procuras outra coisa".
Este não é o tempo do cumprimento definitivo. O mal não está completamente derrotado. O orante experimenta a contradição entre a desgraça que sofre e a salvação definitiva prometida por Deus. Por isso, cada súplica e pedido concreto a Deus está sempre encerrado naquela grande súplica que o próprio Jesus nos ensinou: "Venha o teu reino", reino da salvação e da vida definitiva.
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Pagola: “Não se trata de usar Deus para alcançar nossos objetivos, mas de buscar e pedir a proximidade de Deus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU