15 Março 2023
Em união com a Igreja universal, a Igreja na África celebrou a Assembleia sinodal Continental em Adis Abeba, Etiópia, de 1 a 6 de março de 2023. Esta Assembleia Sinodal Continental foi organizada pelo Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagascar (SECAM) em continuação das duas sessões de trabalho realizadas respectivamente em Accra, Gana, e em Nairóbi, Quênia, em dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
O artigo é do Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagascar – SECAM, publicado por Settimana News, 13-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
1. Nosso encontro foi uma assembleia eclesial. De todas as regiões do continente africano e de Madagascar e das ilhas, 206 participantes se reuniram para caminhar, orar e celebrar juntos sob a orientação do Espírito Santo. Entre eles 9 cardeais, 29 bispos e 41 sacerdotes. A maioria dos participantes eram homens e mulheres leigos, pessoas consagradas, inclusive jovens, e representantes de outras tradições cristãs e religiosas.
2. Com coragem e alegria, confiança e humildade, nos colocamos à escuta do Espírito Santo e entre nós. Com espírito de discernimento, ouvimos o que o Povo de Deus disse em todo o mundo durante o primeiro ano do Sínodo. Em oração e silêncio, procuramos discernir as intuições, discutir questões e temas e identificar os apelos de nossa jornada sinodal para preparar um Documento sinodal Africano que represente a voz autêntica da África. O tempo que passamos juntos foi uma experiência de sinodalidade vivida – um momento de profundo diálogo, escuta e discernimento entre as Igrejas locais e com a Igreja universal.
3. No final desta Assembleia sinodal continental, o SECAM entregou o contributo da Igreja em África à Secretaria Geral do Sínodo de Roma com vista à elaboração de um documento de trabalho.
4. Agradecemos sincera e profundamente:
- ao Card. Berhaneyesus Demerew Souraphiel, à Conferência Episcopal Católica da Etiópia e aos sacerdotes, religiosos e fiéis da Etiópia pela amável hospitalidade e caloroso acolhimento na cidade de Adis Abeba.
- à delegação de Roma, liderada por card. Mario Grech e pelo card. Jean-Claude Hollerich, pela solidariedade fraterna, apoio e acompanhamento durante a Assembleia Continental.
- a todos os nossos parceiros, benfeitores e doadores, graças a cuja generosidade a Igreja na África pôde celebrar com sucesso esta Assembleia sinodal continental.
- a todo o pessoal técnico, a Initiative Synodalité Africaine (ASI) e aos jornalistas das agências de comunicação e mídias católicas africanas e internacionais.
5. A Assembleia sinodal Continental confirmou o modo de agir da Igreja na África. A Família de Deus na África está firmemente enraizada na dinâmica sinodal. A sinodalidade não é mais um desejo distante, uma esperança débil ou um objetivo futuro distante. Saboreamos os frutos nutritivos da sinodalidade encontrando-nos, dialogando e ouvindo-nos, e todos juntos ouvindo o Espírito Santo. Nós somos a Igreja no Sínodo: a Família de Deus é a nossa tenda na África.
6. A Família sinodal africana é um espaço aberto de agregação. A Família sinodal Africana é uma Igreja que:
- amplia e inclui todas as nossas diferenças, diversidades, tensões e forças;
- acolhe os outros e dá espaço à sua diversidade;
- esvazia-se, mas sem perder os fundamentos e aqueles da nossa fé;
- uma Igreja que pode se mover.
7. Durante a assembleia sinodal continental, descobrimos novas sementes de crescimento: a África é um continente sinodal. A sinodalidade faz parte de quem somos e de como vivemos como Família de Deus na África. Nosso continente é dotado de ricos princípios e valores de nossas culturas e tradições. Com efeito, a Igreja Católica na África, enraizada nos princípios antropológicos e nos valores culturais africanos, especialmente Palaver, Ubuntu e Ujamaa, que enfatizam o espírito de comunidade, o sentido de família, o trabalho de equipe, a solidariedade, a inclusão, a hospitalidade e a unidade, desenvolveu-se como um Família de Deus. Esses princípios e esses valores são sementes boas e saudáveis para o nascimento e crescimento de uma verdadeira Igreja sinodal na África e no mundo.
8. Fortalecidos pelo Espírito Santo, através do nosso discernimento no diálogo comum e espiritual, estamos empenhados em construir uma Igreja sinodal na África como uma Família à qual todos pertencem e na qual se sentem em casa. Como Família sinodal de Deus na África, afirmamos e celebramos nossa comum dignidade batismal que nos faz sentir verdadeiramente em casa em uma Igreja sinodal, onde todas as vocações são valorizadas.
9. Como Família sinodal de Deus, somos uma Igreja em escuta. Escutamos sem julgar, especialmente aqueles que não se sentem suficientemente reconhecidos na Igreja. Acolhemos o convite da sinodalidade para escutar aqueles que se sentem exilados, abandonados e excluídos da Igreja. Reconhecemos que, quando fazemos isso, os outros se sentem bem-vindos e se sentem livres para compartilhar seu próprio caminho espiritual.
10. Como Família sinodal de Deus, buscamos autênticas conversão e reforma. Estamos empenhados em superar estruturas hierárquicas rígidas, tendências autocráticas não saudáveis, o nocivo clericalismo e o individualismo fechado em si mesmo, que minam e enfraquecem a relação entre bispos, sacerdotes e leigos. Essas ervas daninhas nos colocam diante do desafio de aprofundar a nossa experiência de sinodalidade, de refletir sobre o que significa caminhar juntos nos momentos de tensão.
11. Como Família de Deus sinodal na África, não fugimos das realidades vividas pelo nosso continente: as feridas dos africanos são também as feridas da Família sinodal de Deus. Durante a nossa Assembleia sinodal continental, sentimos a dor e o sofrimento das nossas irmãs e nossos irmãos na África. A Família sinodal de Deus caminha com as vítimas da guerra, dos conflitos étnicos, da intolerância religiosa, do terrorismo e de toda forma de conflito, tensão e violência. Com solidariedade, compaixão e caridade, a Igreja sinodal na África caminha com nossos irmãos e irmãs em dificuldade.
12. Durante a nossa Assembleia sinodal Continental, escutamos a voz dos jovens. A Igreja na África é dinâmica graças à energia, à paixão e à criatividade dos jovens. A sua contribuição para a missão e o ministério da Igreja é um dom para a edificação de uma verdadeira Igreja sinodal na África. Os jovens têm um lugar importante e um papel central na Família sinodal de Deus na África.
13. Durante nossa Assembleia sinodal continental, caminhamos com as mulheres que participaram ativamente do processo de escuta, diálogo e discernimento. Com elas aprendemos a ser uma Igreja sinodal. As mulheres africanas mantêm a Igreja unida; elas são a maioria. As mulheres africanas são a espinha dorsal da Igreja. Caminhar juntos como Igreja sinodal significa reconhecer seus dons, talentos, carismas e suas contribuições. Para as mulheres da África e do mundo, a sinodalidade é uma oportunidade de “participação plena e igualitária” na vida da Igreja. As mulheres são um dom para a Igreja. É impossível que possa acontecer uma verdadeira sinodalidade na Igreja se as mulheres não forem consideradas parceiras iguais.
14. Para superar e erradicar as ervas daninhas do clericalismo, do autoritarismo e da indiferença, queremos dar vida a novas formas de liderança – sejam elas sacerdotais, episcopais, religiosas ou leigas. Queremos formar a Família sinodal de Deus na prática de um guia integral e vivificante, relacional e colaborativo, capaz de gerar solidariedade e corresponsabilidade. Para isso, a Família sinodal de Deus na África está empenhada em criar espaços e ampliar a nossa tenda para o eventual exercício de várias formas de ministério laical.
15. A Família sinodal de Deus deseja crescer numa espiritualidade que sustenta a prática da sinodalidade, uma espiritualidade que permite à Igreja sinodal crescer na interioridade e na consciência, no encontro e na escuta do Espírito Santo. Queremos encorajar e estabelecer práticas sinodais em todos os níveis da Igreja na África. Queremos fazer nascer uma cultura da sinodalidade como forma habitual de proceder na Igreja.
16. Como Família sinodal de Deus na África, somos uma Igreja que aprende. Não caminhamos sozinhos: há coisas que podemos aprender com os outros. Animados pelo espírito da interculturalidade, do ecumenismo e do encontro inter-religioso, caminhamos juntos, valorizando as diferenças culturais, compreendendo essas peculiaridades como elementos que nos ajudam a crescer. Escutamos a espiritualidade e a sabedoria das populações indígenas e das culturas locais.
Esses dias em Adis Abeba foram dias de graças e abundantes bênçãos de Deus.
Como Família sinodal de Deus na África, experimentamos uma imensa alegria em caminhar juntos e queremos continuar a fazê-lo. O nosso é um caminho de conversão, de reforma e de crescimento em nível pessoal, comunitário e institucional da Igreja.
Como Família sinodal de Deus na África, queremos caminhar juntos na alegria. Agradecemos a Deus que nos reuniu e nos guiou com o Espírito do Cristo ressuscitado. É hora de se alegrar: não deixemos que a erva daninha nos atrapalhe; deixemos que o Espírito Santo nos faça progredir para continuar a semear novas sementes e a colher abundantes frutos de sinodalidade.
Deus abençoe a África.
Adis Abeba, Etiópia, domingo, 5 de março de 2023.
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A África é um continente sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU