20 Dezembro 2022
Frank Pavone, um provocador de direita que durante anos desafiou os pedidos do Vaticano e de vários bispos dos EUA para deixar de se envolver na defesa de política partidária inconsistente com seu papel como membro do clero católico, foi removido do sacerdócio.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 18-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em carta de 13 de dezembro aos bispos dos EUA, dom Christophe Pierre, núncio apostólico nos Estados Unidos, disse que Pavone – diretor nacional da organização antiabortista Priests for Life (Padres pela Vida) e ex-membro do conselho consultivo do grupo “Católicos por Trump” – foi considerado culpado em processos canônicos de “comunicações blasfemas nas redes sociais” e de “desobediência persistente” a seu bispo.
De acordo com a carta de Pierre, obtida pelo NCR, o Dicastério do Vaticano para o Clero informou Pavone da decisão em 9 de novembro, observando que sua demissão do sacerdócio católico não receberá apelação.
A remoção de Pavone do estado clerical foi relatada pela primeira vez em 17 de dezembro pela Catholic News Agency, que pertence à Eternal World Television Network – EWTN e confirmada pelo NCR.
O ex-padre de 63 anos provocou uma reação feroz em 2016, quando divulgou um vídeo no qual colocava o corpo de um feto abortado em um altar e exortava os católicos a não votarem na candidata presidencial democrata Hillary Clinton.
Mais recentemente, ele negou os resultados presidenciais dos EUA em 2020 e espalhou mentiras falsas de que Joe Biden não venceu legalmente a eleição presidencial.
Pavone foi ordenado sacerdote na Arquidiocese de Nova York em 1988 e, em 1993, tornou-se diretor da organização pró-vida Priests for Life. Em 2005, transferiu-se para a Diocese de Amarillo, Texas, com planos de lançar uma ordem de padres com o propósito declarado de promover o fim do aborto.
Esses planos logo foram cancelados e, nas últimas duas décadas, o Priests for Life, que se gaba de ser o “maior ministério da Igreja Católica focado em acabar com o aborto”, foi envolvido em escândalos administrativos e financeiros.
Em 2014, o cardeal de Nova York Timothy Dolan, que havia sido convocado pelo Vaticano para ajudar a reformar a organização, lavou as mãos do grupo, dizendo que não queria “mais nada a ver com a organização”.
Apesar de afirmar ser uma organização apartidária, Pavone colaborou regularmente com o governo Trump e o Partido Republicano.
Um dia depois que a notícia de sua destituição do estado clerical foi anunciada, as contas de mídia social de Pavone ainda continham fotos dele com o ex-presidente e uma foto dele usando um colarinho clerical e um dos bonés de beisebol “Make America Great Again” de Trump.
Em 2022, Pavone comemorou o 35º aniversário de seu programa de televisão, “Defending Life”, na EWTN, um conglomerado de mídia católico dos EUA que se tornou conhecido por sua cobertura sempre antagônica a Francisco e foco político partidário, muitas vezes apoiando Trump.
De acordo com seus documentos fiscais mais recentes disponíveis ao público, em 2018, a Priests for Life, que agora está sediada na Flórida, arrecadou mais de US$ 10 milhões naquele ano. Comunicações recentes de Pavone celebraram a conquista Republicana da Câmara dos Representantes dos EUA e disseram que, olhando para o futuro, o foco da organização estaria nas eleições de 2023 e 2024.
Nem Pavone nem a Priests for Life responderam imediatamente ao pedido do NCR para comentar a decisão do Vaticano.
No rescaldo do anúncio, no entanto, Pavone recebeu apoio de um controverso bispo católico dos EUA, conhecido por sua própria oposição ao aborto e ao Papa Francisco.
“A blasfêmia é que este padre santo é cancelado enquanto um presidente perverso promove a negação da verdade e o assassinato de nascituros a cada passo”, escreveu dom Joseph Strickland, bispo de Tyler, Texas, que em 2020 endossou um vídeo que afirmava: “Não se pode ser católico e democrata”.
De acordo com o site da Priests for Life, cinco bispos católicos dos Estados Unidos com ministério ativo estão listados como conselheiros de bispos da organização: Peter Jugis, de Charlotte, Carolina do Norte; Robert McManus, de Worcester, Massachusetts; Ralph Walker Nickless, de Sioux City, Iowa; Clarence Silva, bispo de Honolulu, Havaí; e Richard Stika, de Knoxville, Tennessee.
Quanto ao futuro de Pavone, a declaração oficial da nunciatura do Vaticano nos Estados Unidos observou que Priests for Life não é uma organização católica e teria que decidir a natureza do relacionamento de Pavone com ela, já que ele não é mais um padre católico.
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Frank Pavone, padre militante contra o aborto e público apoiador de Trump, é retirado do estado clerical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU