09 Novembro 2022
Os dados apontam que bebês negros (pretos e pardos) respondem por duas de cada três internações por desnutrição registradas entre janeiro de 2018 e agosto de 2022 no sistema público de saúde.
A reportagem é publicada por Jornal Extra Classe, 08-11-2022.
Um levantamento feito pelo Observa Infância, da Fiocruz, mostra que a taxa de desnutrição de bebês cresceu no país. Conforme dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2021, foram realizadas 2.979 hospitalizações abaixo de um ano de idade, o maior número absoluto dos últimos 13 anos.
Foram hospitalizadas por dia, em média, 8 crianças nessa faixa etária devido à insegurança alimentar. Já, de janeiro a agosto de 2022, foram internados 2.115 bebês por falta de alimentação adequada. Se comparada ao ano anterior, uma elevação na taxa em 7% em menos de um ano.
Os dados apontam que bebês negros (pretos e pardos) respondem por duas de cada três internações por desnutrição registradas entre janeiro de 2018 e agosto de 2022 no sistema público de saúde.
Para o cálculo, foram considerados apenas os casos em que há registro de raça/cor. Entre 2018 e 2021, o país registrou 13.202 hospitalizações por desnutrição entre menores de um ano. Destas, 5.246 foram de bebês pretos e pardos, mas falta informação sobre raça/cor em um de cada três registros.
“Ainda precisamos melhorar muito a identificação por raça e cor nos nossos sistemas de informação, mas com os dados que temos, é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição”, afirma Cristiano Boccolini, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e coordenador do Observa Infância.
Para o número de internações por desnutrição (2009-2021), Boccolini trabalhou com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) consultados em 18 de outubro deste ano. Para os registros de 2022, o coordenador do Observa Infância usou dados consultados em 24 de outubro.
Para as taxas de hospitalização e mortalidade, o cálculo também incluiu dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), disponíveis até o ano de 2020. Os dados coletados no SIM podem sofrer alterações devido ao tempo necessário para finalizar os registros no sistema.
Desde 2016, a taxa de hospitalização por desnutrição entre bebês menores de um ano vem subindo no Brasil, mas chegou à pior marca em 2021, com 113 internações para cada 100 mil nascidos vivos, um aumento de 51% em relação a 2011, quando o país registrou 75 hospitalizações de bebês para cada 100 mil nascidos vivos, a menor taxa do período analisado, considerando os anos completos (2009-2021).
A tendência é diferente da observada no número de mortes e na taxa de mortalidade pela mesma causa nessa faixa etária, que registra queda constante desde 2009 e chegou à menor marca em 2020, último ano com dados consolidados.
A Região Sul foi a única que apontou queda na taxa de hospitalização por desnutrição em menores de um ano entre 2020 e 2021. Já a Região Centro-Oeste foi a que registrou o maior aumento: 30% entre o primeiro e o segundo ano da pandemia.
Ainda assim, a pior taxa de hospitalização por desnutrição ocorreu no Nordeste, região onde foram informadas 171 internações de bebês menores de um ano para cada 100 mil nascidos vivos em 2021, 51% acima da taxa nacional.
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Taxa de internações de bebês com desnutrição é a maior em 13 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU