02 Novembro 2022
Ela participam da missa mais do que os homens, animam a catequese e a caridade em nome de Deus, mas não têm voz nas decisões sobre o futuro da Igreja. O paradoxo da condição feminina reaparece no processo sinodal iniciado pelo papa no ano passado.
A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada em Luce, 28-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com uma novidade nada secundária no desenvolvimento das dinâmicas eclesiais: pela primeira vez de todos os continentes, chega claramente o pedido de um reforço da presença das mulheres na Igreja. Prova disso é o relatório publicado no dia 27 pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.
Nascido a partir da elaboração das contribuições enviadas à Santa Sé por parte de 112 das 114 Conferências Episcopais da Igreja de rito latino, das 15 Igrejas de rito oriental, dos dicastérios da Cúria Romana e dos superiores dos institutos religiosos, o documento encerra a fase nacional de um processo centrado no significado da “sinodalidade” – uma das palavras-chave do pontificado de Francisco – para ser instrumento de trabalho para a fase continental.
O Sínodo, depois, será concluído com as duas assembleias episcopais presenciais, a primeira em outubro de 2023, e a segunda, 12 meses depois.
“De todos os continentes – afirma o relatório da Secretaria Geral – chega um apelo para que as mulheres católicas sejam valorizadas sobretudo como batizadas e membros do Povo de Deus com igual dignidade.”
As Igrejas na Terra Santa, Brasil e Coreia se mostram particularmente sensíveis a essa questão. Mas são as irmãs dos Estados Unidos que oferecem a contribuição mais forte na denúncia da desigualdade de gênero, tanto no que se refere ao exame das causas quanto no aspecto dos efeitos, incluindo a remuneração.
“Nos processos de decisão e na linguagem da Igreja, o sexismo está muito difuso”, escrevem em sua síntese a Roma e integralmente retomada no documento vaticano. “Consequentemente, às mulheres são barrados papéis significativos na vida da Igreja e sofrem discriminações pois não recebem um salário igual para as funções e serviços que desempenham.”
Resta saber se é realmente possível reverter totalmente o rumo nas dinâmicas eclesiais. Se é verdade que, de todos os cantos da terra, os católicos tomaram consciência da subalternidade feminina, em contraste com sua plena dignidade conferida pelo batismo, não se pode ignorar o fato de que o dossiê “mulher” é uma constante da experiência sinodal em tempos de Bergoglio.
Como não esquecer o Sínodo da Amazônia, que pediu à Santa Sé que recupere o diaconato feminino, ou o disruptivo Caminho Sinodal em curso na Alemanha, durante o qual foi aprovado o pedido à Santa Sé para repensar a proibição da ordenação das mulheres (diaconato, presbiterado e episcopado). A esse respeito, 82% dos bispos alemães votaram a favor de uma revisão da constituição Ordinatio sacerdotalis, do Papa João Paulo II.
Também e especialmente em uma Igreja como a bergogliana, na qual o monopólio masculino na Cúria Romana começou a ser minado, o acolitado e o leitorado não são mais exclusivos dos homens, e, finalmente, uma mulher votará na próxima assembleia sinodal, o risco é de se contentar com pequenos passos. De parar um processo de mudança social que afeta também a Igreja, que é um “sinal dos tempos”, nas palavras de João XXIII. Na prática, o problema continua sendo o de fazer com que os fiéis se sintam plenamente uma parte ativa em todos os níveis da vida de fé.
E aqui o relatório da Secretaria Geral evidencia uma diferença de abordagens, fisiológica em uma comunidade religiosa espalhada por todo o mundo entre histórias e culturas diferentes. “Muitas sínteses – lemos com referência às contribuições das Igrejas nacionais – Muitas sínteses, depois de uma atenta escuta do contexto, pedem que a Igreja prossiga o discernimento sobre algumas questões específicas: papel ativo das mulheres nas estruturas de governo dos organismos eclesiais, possibilidade para as mulheres com adequada formação de pregar no âmbito paroquial, diaconado feminino. Posições bastante mais diversificadas vêm expressas a propósito da ordenação presbiteral para as mulheres, que algumas sínteses desejam, enquanto outras a consideram uma questão fechada.”
O que vem à tona a partir do relatório mostra não apenas a fermentação na Igreja em torno do papel das mulheres, mas também que, graças à parresia invocada pelo Papa Francisco, o debate intraeclesial se desenvolve à luz do sol e é registrado sem filtros por um documento vaticano.
Nesse ponto, é preciso apenas entender se o sacrossanto discernimento, funcional para evitar a tomada de decisões por maioria simples, não se torna um álibi para deixar tudo como está. Não mais aos bloqueios de partida, mas, mais uma vez, distante da meta da igual dignidade, batismal e evangélica.
Serão os bispos reunidos em assembleia que evitarão isso. Se realmente quiserem isso.
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Mulheres e Igreja, último apelo por igual dignidade: a condição feminina no processo sinodal do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU