21 Setembro 2022
Todos os olhos do mundo estavam apontados para Londres, mas no domingo houve outro funeral importante. Em Saqqez, uma cidade no Curdistão iraniano, enterraram Mahsa Amini, a jovem de 22 anos morta pela "polícia moral" do regime islâmico por causa de um véu mal colocado. Um funeral que gostariam que tivessem celebrado por baixo dos panos. As autoridades haviam proibido a população de participar do enterro da jovem, mas as pessoas saíram às ruas para protestar, gritando lemas antigovernamentais como "morte ao ditador" e rasgando cartazes do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
A reportagem é de Caterina Soffici, publicada por La Stampa, 20-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Outras manifestações foram realizadas nas cidades de Bukan e Divandareh. Nomes desconhecidos, distantes. No entanto, é importante contar o que acontece em uma área do mundo onde um regime teocrático trata as mulheres como objetos e exige que elas cubram o corpo, porque o teme e quer aniquilá-lo.
Mahsa tinha 22 anos, morreu na prisão, pelos golpes da "polícia moral", um nome da distopia orwelliana. Ela foi presa na semana passada por usar o jihab "de maneira inapropriada". Quem sabe o que significa, talvez uma mecha de cabelo estivesse saindo do véu. Ela morreu depois de três dias em coma no hospital. Uma mecha de cabelo. O cabelo assusta esses homens que se dizem fortes. Em vez disso, são desafiados ao som de tesouras por corajosas ativistas iranianas, que cortaram mechas de cabelo e se filmaram e postaram vídeos nas redes sociais. Tiraram o véu, agitaram-no no ar, botaram fogo nele. Mais vídeos que se tornaram virais. Para que o mundo saiba, porque sua voz no Irã é sufocada, para que a morte de Mahsa Amini não seja em vão.
Também houve marchas em várias universidades, incluindo as de Teerã, com estudantes de 14 associações exigindo que os responsáveis sejam punidos. O chefe de justiça da República Islâmica, Gholamhossein Ejei, alertou que "as mentiras dos inimigos do Estado serão enfrentadas", enquanto o chefe de polícia da capital general Hossein Rahimi negou mais uma vez que a jovem tenha sido espancada e que sua morte foi "um acidente infeliz". Mas os ativistas também postaram a tomografia computadorizada do crânio de Mahsa, rachado pelas pancadas. As organizações da sociedade civil curda lançaram um apelo por uma greve geral. Os vídeos dos protestos viralizaram nas redes sociais e as autoridades em Teerã limitaram o acesso à internet, como já havia acontecido em manifestações anteriores.
"Os contos da aia de Margaret Atwood não é ficção para nós, mulheres iranianas", tuitou Masih Alinejad, a ativista que fugiu para os EUA, que iniciou o primeiro movimento de protesto das mulheres e lançou as campanhas on-line #MyCameraIsMyWeapon #MyStealthyFreedome e #LetUsTalk. Não é ficção a realidade de um regime teocrático totalitário, onde os homens têm poder e comando impondo regras patriarcais e as mulheres devem se submeter a leis que as privam de direitos e liberdades civis básicos. Em suas redes sociais, ela retuita vídeos dos espancamentos e dos protestos, dos jatos de água tentando dispersar a multidão em Teerã, capital do Irã. Ela escreve: “O assassinato de #MahsaAmini se tornou um ponto de virada para as mulheres iranianas. A polícia do Hijab matou Mahsa porque alguns fios de seus cabelos eram visíveis. Tornou-se agora um símbolo de resistência para as mulheres recuperarem sua liberdade. A partir dos 7 anos, se não cobrirmos o cabelo, não poderemos ir à escola ou encontrar um emprego. Estamos fartas desse regime de apartheid de gênero”. Masih postou fotos de agentes atacando a multidão com gás lacrimogêneo e balas de borracha: "Surreal, o regime iraniano bate naqueles que protestaram contra a morte brutal de #MahsaAmini na tentativa de convencer a todos que Mahsa não foi espancada até a morte".
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Sem véu em nome de Mahsa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU