13 Julho 2022
É uma das vozes mais prolíficas e fecundas na teologia, hoje na Espanha. Ficou conhecida ao grande público com sua intervenção antes do Papa Francisco na inauguração do Sínodo sobre a Sinodalidade. Desde então, Cristina Inogés, leiga de Zaragoza, se tornou em uma espécie de termômetro sobre o andamento deste acontecimento eclesial sem precedentes, que acaba de concluir sua fase diocesana, deixando importantes sugestões para um debate
“Ninguém esperava que essa ampla base do Povo de Deus que é o laicato”, levantasse com tanta força questões como o celibato opcional ou o diaconato feminino, disse a teóloga, que participa de uma jornada de formação no Centro Vedruna de Valladolid sobre “A mulher na Igreja e na sociedade”, juntamente a Belén Breznes, Carmen Quintero, Miriam Cuenca, Cristina Pascual e ex-prefeita de Madri Manuela Carmena.
Em uma dessas jornadas do Vedruna está o lema da revolta das mulheres na Igreja, “Até que a igualdade se faça costume”, o que Cristina Inogés assume para si, oferecendo uma visão otimista, esperançosa. O Papa trabalhar por todas, acredita. “Está se descobrindo outra forma de ser Igreja, já pode se visualizar.” Porém, que ninguém espere resultados da noite para o dia. “Em outubro de 2023”, quando o Papa encerrar a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, “não teremos uma Igreja sinodal. Isto ainda vai demorar”. A Igreja, adverte, tem seu próprio ritmo.
A entrevista é publicada por Religión Digital, 09-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Isso significa que é preciso ter mais paciência? Em questões como o papel da mulher, onde se percebe que a Igreja está muito atrasada, é possível continuar pedindo paciência?
A primeira coisa, um ponto na linguagem que acho importante: não se trata tanto do “papel” de ninguém na Igreja, nem do papel das mulheres. O papel é algo atribuído a você por alguém que acredita ter poder sobre você para lhe dizer o que você pode e o que não pode fazer, onde você pode estar e onde não pode. Devemos nos acostumar a falar, não do papel, mas do lugar da mulher na Igreja. O lugar nos é dado pelo batismo. A partir do batismo, cada um tem seu lugar na Igreja, e a partir daí cabe a ele discernir a própria vocação.
Que a Igreja está atrasada em relação às mulheres? É evidente. Com um atraso de séculos. E em alguns assuntos será necessário continuar esperando, mas em outros, não. Esta semana foi muito surpreendente que o próprio Francisco nomeasse duas mulheres para o dicastério dos bispos. Isso nunca tinha acontecido. Os leigos não entraram ali, e as mulheres, muito menos.
O que vamos ter que esperar? Por exemplo, no diaconato permanente. E nem vou falar sobre o sacerdócio! Nem nós nem nossos filhos veremos isso, mas devemos tomá-lo... como a realidade que é a Igreja, que é muito lenta em assuntos relacionados às mulheres.
A mudança de nome da Secretaria Geral do Sínodo, agora apenas Sínodo (não “dos bispos”), sua própria presença na inauguração do Sínodo... Tudo isso são sinais importantes. Você vê mudanças estruturais significativas por trás, ou ainda há tempo para que as mudanças que o Papa está promovendo se estabeleçam e se consolidem?
Ninguém esperava que a Predicate Evangelium sairia em pleno Sínodo. Tem sido uma surpresa. Com sua entrada em vigor, em 5 de junho, as congregações, que só os bispos podiam presidir, foram extintas e transformadas em dicastérios, que qualquer leigo preparado pode presidir. Sem esta mudança não teria sido possível que estas duas mulheres entrassem no Dicastério dos Bispos.
Portanto, mudanças importantes estão ocorrendo nas estruturas. Mas às vezes não se trata tanto de mudar as estruturas, mas sim de estruturas sinodais que já temos realmente funcionando de maneira sinodal. E temos essas estruturas no nível mais básico e imediato, na paróquia e na diocese. Por exemplo, com os conselhos de pastoral ou os conselhos econômicos. Para que funcionem sinodalmente, deve haver leigos que não vão apenas ouvir as propostas do pároco ou do bispo; devem ser capazes de fazer propostas, para que, entre todos, se chegue a um consenso e se decida quais as melhores soluções para a paróquia ou para a diocese.
A fase diocesana do Sínodo foi encerrada, deixando em aberto importantes debates. Estamos vendo isso na Espanha, mas também na França…
E na Bélgica! A síntese final segue o mesmo caminho e diz coisas muito interessantes.
O caso da França é impressionante: os bispos decidiram enviar duas sínteses a Roma, uma com as contribuições originais, na qual, entre outras coisas, foi solicitado um maior protagonismo para as mulheres, e outro documento em que essas propostas apareceram mais suavizadas e contextualizadas. Tomando isso como um sinal de que existem claramente duas visões diferentes, será possível reconciliá-las neste processo sinodal?
A fase continental vai ajudar-nos a situar-nos numa realidade essencial: o cristianismo manifesta-se em culturas muito diferentes. Devemos assumir que a diversidade está presente na Igreja. A Igreja compreendeu, aproximadamente a partir do século II, que a unidade se dava pela uniformidade, e que a uniformidade era alcançada pela romanização do mundo. Bem, não, olhe, isso não é assim. E agora teremos que redescobrir uma forma de combinar culturas, algo que já vimos no Sínodo Pan-Amazônico. No atual sínodo, questões muito candentes estão surgindo, e o curioso não é que elas surjam em áreas mais abertas, no mundo ocidental, mas que estejam aparecendo em outras áreas, onde ninguém esperava que elas saíssem.
Por exemplo?
Por exemplo, o sacerdócio das mulheres; celibato facultativo, que implica a recuperação dos padres casados; dando um caminho natural à presença das comunidades LGTBQIA+ na Igreja... Ninguém esperava que essa ampla base do Povo de Deus, que é o laicato, se devesse a essas questões. Então, sim, é verdade que tudo isso pegou os bispos fora do gancho.
Com relação à França, é uma Igreja muito sinodal, mas está ao mesmo tempo em um momento de revisão de algumas dioceses, onde o retrocesso era evidente, e isso as pegou um pouco no ar...
Como você vê essa Igreja sinodal?
Temos que caminhar rumo à integração. Em uma Igreja sinodal, o consenso não se alcança escolhendo a opção A, que tem 20 votos, frente à B, que tem 14. Trata-se de integrar também a opção minoritária, que seguramente tem coisas muito importantes a dizer ao resto. O jogo está em saber integrar essa forma de chegar a consensos na Igreja.
A respeito dos leigos, o desafio é que vivamos realmente e em profundidade a corresponsabilidade que o batismo nos chama; isso tem que nos fazer conscientes de tudo o que temos contribuído no Sínodo. Vai ter que estar no topo para verificar se eles realmente se cumprem, embora sempre tendo em mente que o movimento da Igreja é lento como o de uma tartaruga, e é por isso que não teremos uma Igreja sinodal em 2023. O que não significa que não haverá passos. Claro, Francisco não pode estar abrindo mais caminhos.
Vozes que antes estavam nas margens agora convergem com o resto. Com tensões, sim, mas o diálogo se normaliza. Será este o novo normal na Igreja?
Sim, o diálogo está normalizado, com um porém. Está normalizado porque é algo que temos muito fresco com o Sínodo? Seremos capazes de normalizar o que normalizamos durante este período da fase sinodal a partir de agora, ou é algo que nos serviu apenas para refletir e depois voltar aos costumes de sempre?
Boas intenções não são suficientes, mas acho que existem possibilidades. Nós, leigos, em particular, descobrimos duas coisas essenciais. A primeira, que em outubro de 2023 a Igreja não será sinodal, mas que as pessoas entendam que isso levará tempo, o que significa que a opção de frustração está desaparecendo. E, ao mesmo tempo, há a consciência de que o Sínodo será um antes e um depois. As coisas não vão ser as mesmas. Nós leigos descobrimos que temos voz e pensamento. E isso já é muito importante, porque nunca pudemos falar na Igreja. O Papa quer nos ouvir, nos deu a oportunidade de falar e descobrimos que temos boas ideias para contribuir.
Como você vê o papel da Vida Religiosa e, especificamente, de congregações como Vedruna que é muito incidente na questão das mulheres?
Em geral, a Vida Religiosa está dando uma grande contribuição. Vi isso claramente na Assembleia Geral da CONFER, no final de maio, onde participei junto com a [jesuíta] María Luisa Berzosa. A Vida Religiosa está se movendo muito em uma chave sinodal. Também tive a oportunidade de participar de alguns capítulos e assembleias gerais, e vi que há congregações que estão tornando suas próprias estruturas muito mais sinodais, incluindo aquela integração com a Igreja diocesana, que sempre foi uma franja pendente. Estamos começando a sair de uma espécie de estrutura submarina, onde cada um de nós estava estanque em seu compartimento, para realmente entrar no Sínodo da Igreja, que é um barco, para remar todos na mesma direção. Nisto, a Vida Religiosa está dando uma contribuição decisiva.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Devemos assumir que em outubro de 2023 não haverá uma Igreja sinodal”, afirma a teóloga Cristina Inogés - Instituto Humanitas Unisinos - IHU