17 Dezembro 2015
O Papa Francisco “deu de volta a liberdade aos Padres Sinodais” de forma que esta liberdade não só se aplique ao Sínodo como também “à participação especialmente dos leigos nas consultas sobre o futuro da Igreja”, disse o cardeal alemão Karl Lehmann, de Mainz, em um congresso teológico internacional intitulado “Abrindo o Concílio: A Teologia e a Igreja sob o princípio orientador do Concílio Vaticano II”, ocorrido entre os dias 6 e 8 de dezembro.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por National Catholic Reporter, 15-12-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A estrutura sinodal da Igreja deve ser fortalecida em todos os níveis, segundo o cardeal, que acrescentou que Francisco tem repetidamente pedido por uma Igreja sinodal. Para Lehmann, ordenado durante o Concílio Vaticano II tendo sido assistente de Karl Rahner, esta “sinodalidade” é mais importante do que possivelmente se realizar um Concílio Vaticano III. Há grandes oportunidades para a Igreja num mundo globalizado, na medida em que ela abandona esta sua abordagem centralista, enfatizou ele durante uma de suas falas no evento.
Os decretos conciliares nem sempre foram aplicados ou implementados adequadamente, disse Lehmann. O fato de que “nós não termos levado a sério o suficiente as mudanças societais que ocorreram após o Vaticano II, em especial as mudanças de 1968, e o efeito profundo que elas tiveram nas pessoas” é uma das falhas mais graves da Igreja.
O presidente da Conferência Episcopal alemã, o Cardeal Reinhard Marx, advertiu contra simplesmente salvaguardarmos os textos do Concílio como tesouros, acrescentando que eles devem ser usados como fontes para as reformas posteriores na Igreja hoje.
“Eles são um impulso para pensarmos além e optarmos por um caminho renovado”, contou ele aos participantes do congresso em seu sermão na Pontifícia Missa em celebração do 50º aniversário do Vaticano II. Muitas das ideias e sugestões desse concílio “não foram, de forma alguma, debatidas”, segundo ele.
Marx lembrou o que disse Rahner após o Vaticano II, de que, embora o Concílio havia terminado, na verdade, só agora ele estava prestes a começar.
No sermão, Marx afirmou que “quando olhamos os textos conciliares, o espírito do Concílio e os debates travados, devemos, é claro, ficar profundamente gratos, mas não devemos parar aí. O Concílio deu-nos o dom de novas partidas, o que podemos e devemos assumir de um jeito novo hoje”.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja traz à mente que todos os católicos possuem uma vocação e que não há sociedade de classes na Igreja, afirmou o religioso alemão ao recordar a fala recente de Francisco a respeito de uma Igreja sinodal, proferida em 17 de dezembro deste ano.
A Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina não foi levada a cabo em suas determinações, segundo Marx. Ela lidou com uma tradição viva, “não com um tópico demarcado ou uma coleção de afirmações”.
A Gaudium et Spes, Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Atual, convida os cristãos a uma contemporaneidade vibrante.
“A Igreja não é somente uma Igreja docente; ela é também discente. Está aberta à história e aos sinais dos tempos”, sublinhou Marx. O chamado a uma contemporaneidade vibrante também incluía uma consciência profunda da pobreza e do sofrimento, das mudanças climáticas e dos problemas dos refugiados.
Na declaração final de cinco páginas produzida no congresso, os 200 teólogos, vindos de todo o mundo, pediram por mudanças fundamentais na Igreja. A reforma da Cúria Romana deve se expandir até uma reforma de toda a Igreja e de todos os seus dicastérios. Deve-se dar uma maior participação aos leigos assim como as estruturas sinodais precisam ser fortalecidas.
“A sinodalidade deve mais uma vez se tornar um princípio estrutural da Igreja”, destaca o texto. Ela deve ser plenamente implementada em termos jurídicos, deve ser assegurada e 'praticada em todos os níveis eclesiais'. Decisões importantes na Igreja não devem ser feitas atrás de portas fechadas. Os teólogos lembram as palavras de Francisco de que “todos devem ter uma palavra a dizer naquilo que concerne a todos”.
Christoph Böttinger, teólogo fundamental de Eichstätt quem apresentou a declaração, disse que o texto se dirigia a todos os teólogos, mas também ao público em geral.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A sinodalidade como um “princípio estrutural da Igreja”, insistem cardeais e teólogos alemães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU