03 Junho 2022
No maior país católico do mundo, o processo sinodal tem sido um verdadeiro momento de reflexão.
A reportagem é de Marie Naudascher, publicada por La Croix International, 01-06-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Edson Silva participou em 70% das reuniões virtuais que trabalharam sobre o material a ser enviado para Roma em agosto.
A robusta síntese de 10 páginas está ainda sendo preparada e precisará de mais algumas semanas de trabalho coletivo.
“Esse processo sinodal começou de uma excelente intenção do Papa Francisco, e depois de um começo difícil devido à comunicação horizontal da nossa Igreja, nós conseguimos criar uma dinâmica fértil”, disse Silva, um servidor público de 50 anos que coordena projetos sociais no estado de São Paulo.
Com a mesma energia do início do processo, Lis Marques continua a falar sobre a sinodalidade como uma oportunidade singular para discutir ideias.
Falando do seu escritório no colégio Notre Dame, ela apontou que nos meses de debates online reuniram-se os católicos de diferentes bairros da comunidade eclesial de base de São Mateus (zona oeste de São Paulo) – pessoas como Edson Silva, que vive a dezenas de quilômetros e pertence à região episcopal de Ipiranga, na região sul da megalópole.
Mas quando pensa em um encontro significativo, Marques diz que Terezinha imediatamente lhe vem à mente.
Terezinha é uma mulher que Lis não conhecia antes, mas cuja metodologia, intelecto e presença – mesmo que virtualmente – realmente a tocaram.
Embora as reuniões digitais fossem uma necessidade no início do ano devido à pandemia, agora elas são uma escolha estratégica para os católicos que desejam trazer vozes de fora de seu bairro.
Aqueles que estiveram mais ativamente envolvidos no processo sinodal concordam que os debates foram muito ricos, mas também sabem que a Igreja não mudará da noite para o dia.
“Depois da rigidez de Bento XVI, vejo o Papa Francisco como uma transição. Mas a Igreja não se posiciona com clareza para combater a pobreza e se limita a ações paliativas”, lamentou Silva.
Seu trabalho diário com assistentes sociais em uma cidade caracterizada pela desigualdade o convenceu de que é na luta contra a precariedade que a Igreja mais falha.
"Eu era um jovem no episcopado de dom Evaristo Arns", disse ele, lembrando o falecido cardeal-arcebispo de São Paulo e apóstolo da teologia da libertação nos anos 1970.
“Sei que a Igreja pode e deve dialogar com os pobres. É isso que os evangélicos estão fazendo. Eles não hesitam em se afirmar politicamente para defender seus interesses, ser proselitistas e pró-Bolsonaro”, disse Silva.
Ele apontou a diminuição da influência da Igreja Católica na sociedade brasileira e a ascensão do protestantismo evangélico, que é influente nos níveis mais altos do poder.
É um lobby assertivo com uma mistura de gêneros muito diferente dos métodos do catolicismo institucional.
“Devemos nos comprometer com a defesa dos povos indígenas e sua espiritualidade milenar, com o fortalecimento do lugar dos LGBTQIA+ e afro-brasileiros, que representam mais de 50% da população”, disse Lis Marques.
Ela se orgulha do caminho já percorrido e disse que, graças ao processo sinodal, “está sendo criada uma nova rede de leigos sul-americanos e caribenhos”.
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Atualização sobre o Sínodo: católicos brasileiros criam uma “dinâmica fértil” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU