12 Mai 2022
Nestes dias realizou-se em Belo Horizonte o II Congresso de Teologia Pastoral que refletiu sobre o caminho solicitado à Igreja universal pelo Papa Francisco. "Um estilo com longa história no Brasil, mas hoje é preciso ousar mais para que a participação de todos os membros do povo de Deus em vista da evangelização volte a ser o ‘pão de cada dia’ na vida das igrejas particulares”.
A reportagem é publicada por Mondo e Missione, 10-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
De 2 a 5 de maio realizou-se no Brasil o II Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral, sob a direção da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte - FAJE (Minas Gerais) e com a colaboração de mais de vinte entidades acadêmicas católicas brasileiras. A segunda edição também é totalmente online, mas com nova temática no centro dos debates, em plena sintonia com o caminho eclesial promovido pelo Papa Francisco: “Sinodalidade no processo pastoral da Igreja no Brasil”.
A sinodalidade não é um tema novo para a Igreja na América Latina. De fato, desde o período pós-conciliar, as Conferências do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho foram autênticas experiências de sinodalidade em nível continental, com o intuito de dar continuidade aos horizontes abertos pelo Concílio Vaticano II e de encarnar seu espírito nas Igrejas particulares. Ultimamente, novas expressões sinodais também nasceram. Basta pensar, por exemplo, na Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e na recente Assembleia Eclesial, que se reuniu no México de 21 a 28 de novembro do ano passado, com a participação de todos os representantes do povo de Deus e não apenas dos bispos. A Igreja brasileira, por sua vez, também se orgulha de excelentes práticas de sinodalidade, entre as quais lembramos: a Conferência Episcopal Brasileira que já tem 70 anos, os Encontros intereclesiais das Comunidades de Base, os Planejamentos participativos, as Assembleias dos Organismos da Povo de Deus.
À luz das experiências positivas de sinodalidade presentes na história eclesial da América Latina e, em particular, do Brasil, o II Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral estabeleceu como objetivo continuar a aprofundar o sentido da mesma sinodalidade para a Igreja Católica no Brasil, não apenas olhando para o passado, mas destacando os novos desafios e possíveis caminhos pastorais a serem percorridos para vivenciar concretamente a comunhão, a participação e a missão. Nesse sentido, lançou-se luz sobre a história da sinodalidade, sobre as estruturas participativas na Igreja e os limites impostos pelo Código de Direito Canônico, sobre como a sinodalidade é vivida em outras igrejas cristãs, sobre os desafios de uma formação sinodal para todos: leigos, religiosos/as e ministros ordenados. Discutiu-se também o papel da mulher e a valorização dos ministérios leigos na Igreja sinodal.
O Concílio Vaticano II e o magistério do Papa Francisco ofereceram chaves interpretativas para um discurso sobre a sinodalidade. De fato, os trabalhos do Congresso começaram com a conferência do Professor Ney de Souza da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: "O Vaticano II e a experiência sinodal da Igreja do Brasil".
Em seguida o teólogo Francisco Aquino Junior da Universidade Católica de Pernambuco falou sobre "Francisco e sinodalidade", destacando tanto a grande contribuição que o atual pontificado está oferecendo à Igreja para viver sua missão em autêntico estilo sinodal, quanto as fortes resistências que encontra na tentativa de promover uma mentalidade sinodal no seio da Igreja universal.
Dos trabalhos do Congresso emergiu que certa resistência à visão sinodal de Francisco chegou também ao Brasil, onde, hoje, a sinodalidade tem que acertar as contas com uma acentuada tendência ao clericalismo presente entre as fileiras mais jovens do clero, como atestado pelos resultados de estudos sobre a questão. Um dos dez grupos de trabalho do Congresso aprofundou justamente a palestra: "Sinodalidade e ministério ordenado". Padre Francesco Sorrentino, missionário do PIME e professor de Teologia da Faculdade Católica de Belém, com uma apresentação sobre o tema: "A formação dos futuros presbíteros na Igreja sinodal: comunhão, participação e missão", compartilhou algumas ideias para a reflexão sobre a necessidade urgente de rever – em chave sinodal – a formação dos candidatos ao sacerdócio, para que as comunidades cristãs recebam pastores que sejam verdadeiramente homens de comunhão, hábeis articuladores de participação e animadores missionários.
Do início ao fim do II Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral, ressoou a esperança de que, no Brasil, o atual processo sinodal, promovido pelo Papa Francisco, não se reduza a um simples evento comemorativo. Embora a Igreja brasileira tenha uma rica experiência sinodal, diante dos preocupantes sinais de retrocesso presentes em algumas esferas eclesiais, é necessário ousar mais. A sinodalidade, tornada visível pela comunhão e participação de todos os membros do povo de Deus em vista da evangelização, deve voltar a ser o "pão de cada dia" na vida das Igrejas particulares brasileiras. Com este Congresso, a teologia também se envolve para que a sinodalidade se torne cada vez mais um estilo de vida nas comunidades eclesiais, na esteira do sulco aberto por grandes pastores brasileiros como dom Helder Câmara, dom Paulo Evaristo Arns, dom Luciano Mendes de Almeida, só para citar alguns nomes.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Teólogos brasileiros debatem a sinodalidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU