26 Mai 2022
O arcebispo Vincenzo Paglia está esperando que ele volte para casa para festejar seu amigo cardeal Matteo Zuppi, recém nomeado presidente da Conferência Episcopal Italiana - CEI pelo Papa. Quando Zuppi está em Roma - e agora acontecerá com frequência - o cardeal, arcebispo metropolitano de Bolonha, sempre fica para dormir na velha casa de Trastevere, onde tudo começou há muitos anos. Era 1981, quando D. Paglia, aos 36 anos, tornou-se pároco da basílica de Santa Maria em Trastevere e para atuar como seu vice chegou justamente ele, Dom Matteo Zuppi, dez anos mais novo e com muitas ideias na cabeça.
D, Paglia, hoje presidente da Pontifícia Academia para a Vida e conselheiro espiritual da Comunidade de Santo Egídio, nos conta: “Lembro-me das palavras de Francisco, a primeira vez que o encontrei depois de sua eleição, era 20 de abril de 2013: 'Paglia – assim me falou o Papa, chamando-me diretamente pelo sobrenome - diga a Dom Matteo que continue nas ruas...'”.
A entrevista é de Fabrizio Caccio, publicada por Corriere della Sera, 25-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
E nove anos depois o nomeou presidente da CEI. Um sinal de grande apreço.
Porque Dom Matteo sempre permaneceu nas ruas. Ele é o samaritano da parábola. O samaritano que não foge, que fica para ajudar, às vezes nem tinha um cavalo com ele e por isso colocava nos ombros quem havia sido socorrido, nunca deixou ninguém para trás. Na década de 1980, se traficava drogas em Trastevere, era um bairro perigoso, havia gangues, os escoteiros tinham medo de entrar em alguns becos.
Nós dois, por outro lado, íamos a todos os lugares, lembro-me dele concentrado em se fazer entender por um grupo de jovens viciados que tinham ocupado o Palazzo Leopardi em frente à basílica. Pareciam fascinados por aquele padre desarrumado, que tentava de todas as maneiras convencê-los a sair do jugo da droga. E juntos íamos visitar os idosos sozinhos, lembro de Guglielmo, no vicolo del Moro que nos esperava na porta e depois da conversa a gente ia beber um copo de vinho. Conversávamos com todos, em vicolo del Cinque havia a sede do Partido Comunista e então longos e intermináveis discursos também com Gerardo Chiaromonte e os outros intelectuais sobre uma determinada ideia de sociedade. E, novamente, pelas ruas nos bairros periféricos, Primavalle, Garbatella, para todos nós éramos apenas "dom Paglia" e "dom Matteo". Ele sempre foi chamado pelo nome, ele inspirava mais confiança...
Como o famoso personagem da ficção da RaiUno.
Sim, só que aquela era a vida real. A gente ia junto visitar os detentos do Regina Coeli, passávamos o tempo com os moradores de rua. Lembro-me de uma noite de Páscoa, estávamos celebrando a missa e um sem-teto um pouco bêbado entrou na igreja. Sentou-se no banco da frente e quando chegou a passagem que dizia para dar de beber ao sedento, levantou-se e falou: ‘Padres, desculpem - disse ele – poderiam dar de beber de graça um pouco também para mim’.
Vocês dois se conhecem há uma vida.
Sim, é correto dizer isso. Férias juntos em Pescasseroli, também este ano se Deus quiser iremos lá. Matteo, vocês não sabem, é um grande catador de amoras: desde criança levava as frutas para sua mãe que fazia deliciosas geleias. Mas também é um aficionado da bicicleta: se não fosse pelo tráfego, visto o físico que tem, estou certo de que faria Roma-Bolonha de bicicleta sem jamais pegar o trem. Mas Matteo, acima de tudo, é um padre da paz. Vocês sabem como é feita Santa Maria em Trastevere? Você não sobe nem desce para entrar na igreja, entre a basílica e a praça não há interrupção, não há degraus, tudo está no mesmo nível. Assim é a Igreja para Dom Matteo
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“Bergoglio me exortou: diga a Dom Matteo para continuar nas ruas. O Papa o nomeou porque ele não mudou”. Entrevista com Vicenzo Paglia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU