13 Mai 2022
A revista polonesa Polityka questiona-se, em uma capa, sobre as inclinações pró-Rússia do Papa Francisco. A publicação conclui que eles devem muito à “Ostpolitik” da Santa Sé, que prefere “evitar provocar o urso russo”.
Capa da revista polonesa “Polityka” de 11 de maio de 2022. Courrier International
A reportagem é publicada por Courrier International, 12-05-2022. A tradução é de André Langer.
A posição pelo menos ambígua do Papa Francisco sobre a agressão russa na Ucrânia preocupa a mídia polonesa esta semana, a ponto de duas revistas dedicarem suas capas a ela, começando pela Polityka.
Na capa, o líder da Igreja Católica acenando para a multidão aparece vazado em forma de “Z” – o famoso sinal pintado nos blindados russos na guerra na Ucrânia. Em um longo artigo de análise, a revista social-liberal polonesa constata o flagrante fracasso do Papa Francisco em levar a paz à Ucrânia. “Ele é incapaz de usar sua autoridade moral, sua amizade com o Patriarca Kirill, seus contatos com Putin ou a diplomacia do Vaticano para parar o derramamento de sangue. […] Mesmo este pedido aparentemente óbvio do Vaticano de uma trégua durante a Páscoa ortodoxa para evacuar com segurança os civis ucranianos de Mariupol fracassou”, julga seu autor.
Somam-se a isso as declarações do chefe da Igreja Católica no jornal italiano Corriere della Sera sugerindo que o comportamento de Vladimir Putin pode estar ligado ao fato de que “a OTAN estava latindo à porta da Rússia”. Em busca de explicações, a Polityka revisa as várias teorias e argumentos que podem esclarecer a atitude do papa.
Uma delas é que ele não é do continente europeu, mas da América Latina. “No mundo latino-americano, o Ocidente e os Estados Unidos são vistos negativamente por muitos. Assim como a Rússia na Europa – principalmente na era pós-comunista”, explica o jornalista.
Embora a Polityka entenda que o Vaticano não pode dar sua bênção às entregas de armas, acredita que “deveria abster-se de especular sobre se a raiva de Putin foi resultado de uma provocação e se a guerra foi provocada pelos ‘outros’”.
A revista também explica que a atitude do papa tem suas raízes sobretudo na “Ostpolitik” da Santa Sé: “O papa e a diplomacia papal provavelmente ainda pensam que o caminho para Kiev passa por Moscou, e não o contrário”. Nesse sentido, o Vaticano continua a seguir a doutrina do cardeal Pietro Parolin, prontamente mencionada pelo papa, de “evitar ‘provocar o urso’ na esperança de que o urso não arranhe os católicos e suas estruturas eclesiásticas”.
O autor, que acredita que esta guerra enterrou qualquer esperança de uma “Europa cristã que respire com os dois pulmões”, termina por concluir que as chaves da paz não passam por uma viagem à Rússia, mas por “sanções e a solidariedade do Ocidente, a ajuda militar aos agredidos e a condenação moral e política do agressor”.
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Visto da Polônia. Por que o Papa Francisco evita “provocar” o urso Putin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU