14 Março 2022
Por ocasião do nono aniversário da eleição do Papa Francisco, Emilce Cuda publica em Telam uma reflexão que nos ajuda a compreender as chaves do momento atual do pontificado de Bergoglio.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL) começa contando sua conversa com um taxista romano que a fez perceber que "entenderemos seu pontificado em dez anos; só então teremos visto sua grande reforma".
Emilce Cuda destaca como tema fundamental do pontificado no momento atual o da "unidade sem estratégia", algo que ajuda a explicar "de que povo e a que povo fala Bergoglio". A teóloga argentina, grande conhecedora do pensamento do antigo arcebispo de Buenos Aires, refere-se à passagem do jovem rico e sua pergunta sobre como se salvar, à qual "o Mestre respondeu, sem qualquer estratégia, que ele deveria vender tudo e unir-se".
É uma passagem onde a ganância é quase sempre destacada, diz Cuda, que nos convida a parar na unidade a fim de entender a reforma de Francisco. Segundo a teóloga, é uma passagem que "nos permite entender porque, em meio à tempestade que representa uma mudança de época como resultado de saltos tecnológicos qualitativos que levam a continuidade da vida no planeta até o limite, o jesuíta constrói o barco sinodal da unidade, capaz de levar a humanidade para a outra margem, além do caos atômico, a salvo da infinita multiplicação desencadeada por um sistema criminoso. A reforma está em andamento”.
Cuda lembra o encontro do líder religioso dos católicos de 85 anos, que "pegou papel e lápis e sentou-se para ouvir os jovens de todas as Américas durante quase duas horas", exatamente no mesmo dia, 24 de fevereiro de 2022, "quando líderes políticos estavam enviando seus jovens para morrer em uma guerra que ameaça ser o golpe final para um sistema esgotado de relações produtivas". Ele convidou esses jovens, juntos, a "buscar juntos soluções sociais concretas para problemas reais comuns". É aqui que a teóloga vê que "este é o barco, esta é a reforma, esta é a sinodalidade".
Segundo a secretária da CAL, "o amor como unidade, princípio constitutivo da fé e da política, é mais uma vez levado ao campo social, agora por um pontífice. Sua proposta evangélica é um chamado à unidade como supremo bem comum, como princípio articulador de demandas por necessidades e sonhos vitais não satisfeitos, ao invés de demandas por interesses sectários, tanto políticos quanto religiosos, que longe de se unirem no amor, dividem diabolicamente".
É por isso que ela insiste que "a unidade social, produto do amor e não do medo, é recuperada por Francisco para desacreditar a política e desideologizar a religião, prevendo uma ameaça pós-secular e pós-católica capaz de assumir o mundo em um amém. Sem levar em conta aquele princípio de fé que é o amor como unidade viva entre as diferenças, sua referência ao povo não pode ser entendida".
Emilce salienta que "o amor e a unidade não são uma estratégia, eles são o momento do político - como a mais alta forma de caridade - a partir do qual, no processo comunitário de discernimento e tomada de decisões, a estratégia que dará sentido retroativamente à unidade é constituída. Isto não é populismo, isto é cristianismo".
Isto pode ser compreendido lendo a Homilia de Pentecostes de 2020, onde, como em outros momentos, "Francisco diz que 'os Apóstolos não prepararam nenhuma estratégia', nem nenhum plano para evitar riscos. Além disso, ele adverte que eles não ‘fizeram um ninho’ de escolhidos para se salvarem. Pelo contrário, diante da necessidade e da ameaça de morte, apesar de suas diferenças: confiam, unem-se e saem para dar o que receberam. Primeiro o amor e a unidade, depois a estratégia. Uma lógica evangélica que o povo, sem metafísica, entende".
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“Primeiro o amor e a unidade, depois a estratégia”. Os nove anos do papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU