11 Março 2022
O cardeal Konrad Krajewski fala conosco por telefone olhando pela janela de um prédio secreto em Lviv. A cidade é "fantasmagórica, deserta, pelo toque de recolher e pelo medo". O Esmoleiro pontifício está na Ucrânia a pedido do Papa Francisco - com quem mantém uma linha direta e constante – em missão humanitária. E diplomática. O cardeal passou pela "sua" Polônia e depois atravessou a fronteira na direção oposta às mulheres e crianças que fogem dos tanques russos.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 10-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após 15 dias de guerra, o número de refugiados que fugiram subiu para 2.155.271 (cerca de 5% dos 44 milhões de habitantes), incluindo centenas de milhares de crianças, muitas separadas de seus pais, segundo informações do ACNUR. Mais de 1,294 milhões de refugiados chegaram à Polônia, mais 203.000 à Hungria, mais 153.303 à Eslováquia, 99.300 à Rússia, 82.762 à Moldávia, 85.444 à Romênia e 592 à Bielorrússia. Em outros países europeus um total de 235 mil. Na Itália, o número é comunicado pelo primeiro-ministro Mario Draghi: “23.872. A principal fronteira pela qual passam é a ítalo-eslovena”.
Krajewski já cruzou com rios de gente “que vêm de Kiev. Há também aqueles que se deslocam para Lviv, por enquanto poupada dos ataques. Aqui estima-se que estejam meio milhão a mais de habitantes, alojados em escolas, paróquias ou em abrigos provisórios”.
Cardeal Krajewski com dom Mokrzycki em Lviv, na Ucrânia. (Foto: Vatican Media))
O enviado do Papa relata como os ucranianos “não ignoram o fato de que sou polonês. Muitos me abraçam agradecidos pela calorosa acolhida que a Polônia está dando aos refugiados, acolhidos não em campos, mas nas casas de meus compatriotas”.
Os primeiros passos do cardeal foram de natureza religiosa: “Tive uma reunião com Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja greco-católica, e o Metropolita de Lviv Mieczyslaw Mokszycki. Houve também uma conversa telefônica com o Santo Padre. E logo organizamos uma iniciativa ecumênica”.
Hoje, de fato, "com os chefes das várias confissões - católicos, judeus, ortodoxos, inclusive os que dependem de Moscou - nos reuniremos para uma oração na catedral". Krajewski diz estar “convencido de que esta guerra poderá ser parada também e principalmente com a nossa fé. E com o testemunho que estão dando bispos, padres, religiosos e freiras, todos os quais permaneceram no país, em seu lugar”. Quando os evacuados veem o Alto Prelado e entendem que ele vem do Vaticano em nome do Papa, “lágrimas muitas vezes escorrem por seus rostos. Eles estão comovidos, porque se o Santo Padre enviou seu cardeal para o meio da guerra, isso significa que ele realmente deseja transmitir seu amor às pessoas em fuga das bombas”.
Krajewski revela as palavras proferidas por Bergoglio quando lhe confiou a tarefa: “Vá lá e leve minha proximidade às pessoas que estão fugindo da violência. Aos que sofrem, leve ajuda, consolação e coragem. E a bênção do Papa. Seja o Evangelho puro em meio a uma dor absurda”.
Um cardeal no meio do inferno da batalha, mas sem medo: “Antes de partir, confessei-me e fiz o meu testamento. E agora, que a vontade de Deus seja feita."
Por razões de segurança, ele não anunciará seus movimentos. Na zona onde “me encontro, chegam grandes ajudas da Comunidade Europeia, à qual os ucranianos são gratos. Tudo é descarregado em armazéns e daqui partem os caminhões para Kiev, Odessa, em direção ao sul do país. E temos informações que as doações chegam ao seu destino, apesar dos bombardeios”. Também graças a uma intervenção prática do Papa: “Aqui há dificuldade em encontrar óleo diesel e por isso, através da Esmolaria apostólica, o Santo Padre pagou muitas viagens dos caminhões”.
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Mais de 2 milhões de refugiados em duas semanas. O Papa paga o diesel para os caminhões humanitários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU