16 Fevereiro 2022
Para os católicos, esta é uma hora de paixão, porque a Igreja que eles constituem e que tentam construir todos os dias apresenta um rosto sujo, abatido, marcado por escândalos, mas também por hostilidade e perseguição em muitas regiões do mundo. A Igreja parece fraca, perdedora, em contínua diminuição e cada vez mais marginal, pelo menos na área ocidental.
O artigo é de Enzo Bianchi, monge italiano, publicado por Repubblica, 14-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não é apenas o fim da cristandade, nem mesmo o fato de ter se tornado uma minoria o que a reduz a tal situação, mas são as contradições ao Evangelho, a incoerência de seus representantes, o escândalo dos crimes perpetrados por décadas que se tornam hoje conhecidos e a tornam uma "acusada" contra a qual também se desencadeiam o rancor e o ódio alimentados pela mídia. Hoje a Igreja é humilhada, e muitos nela sentem-se envergonhados.
É por isso que o caminho que a Igreja percorre hoje é o da humildade verdadeiramente evangélica: um caminho no qual ouvirá muito antes de falar, na qual não imporá e não exigirá, mas indicará com a vida vivida, no qual não pedirá mais para estar no centro, mas lhe bastará estar na companhia dos homens e das mulheres, em solidariedade com eles e com suas buscas. Só assim o clericalismo pode realmente se dissolver.
O bispo emérito de Roma, Bento XVI, precisamente em sua disposição à humilhação, há nove anos declarava que havia repetidamente examinado sua consciência diante de Deus e que estava bem ciente, até a certeza, que era um bem para a Igreja que ele renunciasse ao ministério petrino. E agora, tendo atingido a idade de 95 anos, questionado pelos crimes de pedofilia que aconteceram quando era bispo de Munique, aceita humilhar-se, confessar as gravíssimas culpas da Igreja mesmo sem ter responsabilidades pessoais, e pede perdão. Quantos outros com as mesmas responsabilidades indiretas, e quantos outros ao contrário diretamente responsáveis por ter se calado, escondido, não pesado a gravidade dos abusos, o fizeram? É uma pergunta que deveríamos nos fazer e tentar responder. Não deveríamos esquecer que nas últimas décadas do século passado esses crimes não eram julgados nem pelas pessoas nem pela Igreja tão graves como são considerados hoje. Também deve-se temer que grande parte do clamor, das manifestações e dos slogans pedindo "tolerância zero" não passem agora de um dobrar-se à opinião pública e à pressão midiática.
Seria mais evangélico um silêncio que fizesse reinar a justiça, tentasse erradicar essa praga na Igreja com a dessacralização das autoridades e com uma mudança profunda nas relações que se vivem dentro dela, sobretudo nos espaços da educação, um silêncio que também soubesse ser misericordioso com aqueles que cometeram os delitos. Cada pessoa é maior que os crimes que cometeu, e para os cristãos Deus é maior que sua própria consciência.
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Quando a Igreja pede perdão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU