23 Setembro 2021
Já quatro padres assassinados sob a presidência de López Obrador, que havia prometido "abraços, não balas" para o país. O último - o Padre Popoca - atingido há poucos dias no Estado de Morelos. Padre Omar Sotelo Aguilar, diretor do Centro Católico Multimídia: "Manter viva a memória e fazer algo antes que seja tarde".
A reportagem é de Nicola Nicoletti, publicada por Mondo e Missione, 20-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O último a ser atingido nestes dias foi o Padre Popoca, pároco da igreja de San Nicola de Bari em Galena, um homem que se dedicava à animação dos garotos do estado de Morelos. Com ele já estão quatro padres assassinados no México sob a presidência de Andrés Manuel López Obrador. A notícia nem sequer alcança mais às primeiras páginas dos jornais nacionais, mas ganha destaque na página inicial do Centro Católico Multimídia. Atento à tragédia que atravessa o México, está o grande trabalho do padre Omar Sotelo Aguilar, sacerdote e jornalista, diretor do Centro Católico Multimídia. “Não podemos mais ficar em silêncio”, comenta ele após mais uma morte violenta.
A voz, após o assassinato de um padre no México, eleva-se com veemência de um padre há anos ativo na denúncia social. Num dos países mais perigosos para quem anuncia o Evangelho, o Padre Sotelo fundou um centro de pesquisa, o CCN (Centro Católico Multimídia), para um relato preciso e informação sobre o que acontece no país. “Esse trabalho acabou trazendo para nossa equipe um importante reconhecimento pela atividade de 'pesquisa e denúncia' sobre os direitos humanos”. O livro sobre a "Tragédia do sacerdócio no México", um relato de um país em risco, em particular, continua sendo um documento importante para quem trabalha na linha de frente, ativistas, sacerdotes e jornalistas.
Ler as páginas sobre a vida dos padres mexicanos é esclarecedor e terrível ao mesmo tempo. “Sobre o padre José Martín Guzmán Vega da diocese de Matamoros, o padre Gumersindo Cortés González de Celaya e o franciscano frei Juan Antonio Orozco Alvarado, da Prelazia de Nayar, não se conhece o motivo dos assassinatos nem se sabe nada sobre as investigações, como não se sabe o movente do assassinato do padre Popoca”, comenta o sacerdote paulino. Como em muitas ações criminosas no México, os culpados não são encontrados, também por causa daquele conluio nem tão obscuros que une vários elementos da sociedade, inclusive a polícia.
Padre Sotelo, onde se escondem as sementes deste mal social? “Em todos os lugares - responde o religioso. A narcopolítica, a narcoeconomia e a narcocultura continuam a ser pragas para várias áreas do país. Nos primeiros quatro meses deste ano, 11.595 pessoas perderam a vida como vítimas de homicídio ou feminicídio”. Em média, quase 80 pessoas morrem todos os dias, ferida que, apesar das esperanças de mudança do presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador, continua a sangrar “O Centro, desde o início, criou um projeto nacional único - continua o Padre Sotelo. O resultado é superior ao esperado, as mídias nacionais o seguem pelas notícias que produz, mas também pela reflexão que quer oferecer aos crentes e não crentes”.
As emboscadas contra pastores e crentes, leigos empenhados em viver o Evangelho em uma terra difícil como o México, acrescentam dor àquela causada por outro massacre silencioso: aquele causado pelo Covid que está ceifado (também) aqueles que trabalham para ficar perto dos doentes e necessitados. “Mais de 250 sacerdotes morreram no México”, disse monsenhor Alfonso Miranda Guardiola, bispo auxiliar de Monterrey e secretário da Conferência Episcopal mexicana. O mandato eleitoral do presidente Lopez Obrador começou com “abrazos no balazos” (abraços, não balas), mas a realidade é muito diferente das expectativas. Assassinatos, sequestros e roubos continuam crescendo. Foram 11.595 assassinatos em quatro meses de 2021. Dados oficiais atualizados pela Secretaria Executiva do Sistema Nacional de Segurança Pública (SESNSP) mostram que 2.857 pessoas foram mortas no México em abril passado.
“As páginas do CCN - esclarece o padre Omar - trazem essa dramática contagem de mortes que não deveriam ficar nas estatísticas. Trata-se de manter viva a memória e fazer algo antes que seja tarde demais. Podemos saber a verdade? Não temos respostas e, infelizmente, diante dos fatos e números, outros sacerdotes e agentes pastorais estão na mira do crime organizado, que os vê como um contrapeso ao seu poder”.
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México: o padre-jornalista que documenta os massacres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU