Por: Lara Ely | 04 Novembro 2017
Além de ser o país mais violento da América Latina, o México é o local onde mais se matam padres. Nos últimos quatro anos, 18 sacerdotes foram assassinados no país – a lista quintuplicou na última década. O aumento de assassinatos coincide com um pico de violência que atinge a todos e que até o momento deixou mais de 21 mil mortos apenas em 2017 até o momento – um dos anos mais violentos dentre os últimos.
Nos últimos quatro anos, foram denunciadas pelo menos 520 ameaças a padres, 17 assassinatos e 25 atentados contra seminaristas, segundo o Centro Católico Multimeios (CCM). O relatório ainda aponta que dois padres estão desaparecidos e dois foram vítimas de sequestros frustrados.
De acordo com Centro, pelo nono ano consecutivo, o México é considerado o país mais perigoso para exercer o sacerdócio. Ainda segundo o CCM, essa onda de violência é marcada pela falta de investimentos na segurança pública.
O texto do órgão ligado à Igreja diz que “os agentes pastorais no México são cada vez mais vulneráveis à crescente onda de agressões, assassinatos e sequestros, posto que as autoridades lhe entregam pouca ou nenhuma proteção contra atentados, sobretudo em zonas de alto risco onde prolifera a insegurança e operam grupos do crime organizado”.
Matéria publicada esta semana no jornal El País, atualiza os dados e relata que no último ano, os religiosos mexicanos receberam 800 ameaças de morte – 50% a mais em relação a 2016. Mas, entre os especialistas que há anos analisam a violência religiosa, chamam a atenção a crueldade e a brutalidade dos crimes.
Segundo Omar Sotelo, fundador do centro, que tem o aval da Igreja e se dedica a estudar o assunto, “os sacerdotes se somam às estatísticas porque são pessoas que incomodam o crime organizado, já que denunciam os políticos, ajudam os imigrantes, socorrem os feridos e conhecem bem as pessoas de seus vilarejos”. Ele diz ainda que “a figura do sacerdote se dessacralizou como o guia e o pastor da comunidade. Com o assassinato de um sacerdote, manda-se uma mensagem clara de que se eu mato um padre posso matar qualquer pessoa”, resume o religioso.
O padre Alejando Solalinde é provavelmente o sacerdote mais ameaçado do México. “Nós, padres, antes éramos intocáveis, mas a violência se tornou mais democrática e se romperam todos os limites”. Um dos sacerdotes que corre risco de vida, o mexicano que ganhou Prêmio Nacional de Direitos Humanos de 2012, afirma que tem repetidamente denunciado as ameaças recebidas aos meios de comunicação, e agora com o livro I narcos mi vogliono morto (Os narcos me querem morto), também publicado na Espanha, com o título “Uma vida em risco”, quer mostrar ao mundo o que acontece com os migrantes, a conivência do crime organizado com o "crime autorizado".
Na entrevista, ele explica que os padres são incômodos para o governo e os cartéis porque entram no meio negócios e dinheiro. "Os migrantes são mercadoria para eles. Se você defende os direitos humanos, apresenta denúncias e protege as vítimas, atrapalha os negócios. Eu tenho a sorte de ainda estar vivo, mas existem 106 ativistas de direitos humanos vítimas de assassinato, assim como muitos jornalistas, que no México foram assassinados. Estamos em perigo, mas quem tem consciência vai lutar enquanto estiver vivo", declarou.
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Saiba por que o México é o país mais perigoso para os padres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU