22 Setembro 2021
“Longe de dissipar a fobia que seu antecessor promoveu a oriundos de outros países, Biden a reforça de maneiras distintas. Nesta matéria, revelou-se, em suma, como mais trumpista que o próprio Trump”, manifesta em editorial o jornal mexicano La Jornada, 21-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ordenou a deportação imediata de milhares de haitianos que buscam asilo no país vizinho apelando a um mandado de emergência emitido em março do ano passado por seu antecessor, Donald Trump, que autoriza a expulsão imediata de migrantes, sem lhes dar a possibilidade de solicitar refúgio no território estadunidense.
Nas últimas horas, mais de 450 pessoas vindas do Haiti que permaneciam na localidade de Del Río, no Texas, foram deportados em voos desde Laredo e San Antonio para Porto Príncipe.
Contradizendo suas promessas eleitorais, o democrata endurece a política migratória em todas as frentes: tanto na negação de audiência aos requerentes de asilo como nas restrições adicionais de entrada nos EUA, com o pretexto de combater a pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2.
Assim, Washington anunciou que pedirá a todos os estrangeiros que pretendem visitar o país que contem com um esquema de vacinação completa e apresentem um teste negativo de covid-19 realizado nos três dias anteriores ao voo. Quanto à entrada terrestre, desde o México e o Canadá, a proibição de viagens não essenciais – também imposta por Trump – prolongar-se-á pelo menos até 21 de outubro.
O anterior faz parte de uma estratégia de contenção da pandemia que foi criticada pela Organização Mundial da Saúde por ineficiência e que reforça a ideia xenofóbica e errônea de que é possível se livrar dos contágios fechando as fronteiras nacionais.
Mas como se não fosse suficiente as restrições migratórias e sanitárias, o Departamento de Estado aplica ainda vetos em razão de fobias políticas.
Ontem, cinco juízes da Suprema Corte de El Salvador e dois altos funcionários da Guatemala foram incluídos em uma lista negra daqueles a quem se nega o visto, porque, segundo Washington, “atacam as aspirações democráticas do povo centro-americano”, em alusão à forma com que os juízes salvadorenhos foram designados depois da remoção dos integrantes anteriores da Corte Suprema e aos atos de corrupção atribuídos aos dois guatemaltecos.
Apesar de estar certo que todo governo nacional tem direito de admitir ou rejeitar estrangeiros em seu território, o caso dos Estados Unidos é particular, pois lá fica a sede de diversos organismos internacionais. Ao se proibir uma pessoa de entrar em território estadunidense, o Departamento de Estado exerce ainda um veto à participação dos afetados nos fóruns como o das Nações Unidas, cujo edifício central se encontra em Nova York.
Assim, longe de dissipar a fobia que seu antecessor promoveu a oriundos de outros países, Biden a reforça de maneiras distintas. Nesta matéria, revelou-se, em suma, como mais trumpista que o próprio Trump.
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Sobre migração, Biden é mais trumpista que Trump. Editorial do La Jornada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU