21 Julho 2021
Pawel Guzynski, um frade polonês conhecido por suas críticas à Igreja em seu país, denunciou na terça-feira que a hierarquia católica não se atreve a criticar o estilo de vida luxuoso e a riqueza de um ex-arcebispo com herança milionária.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Guzynski disse à estação “Tok FM” que os bispos “não têm cojones”, na transcrição fonética do termo polonês ao espanhol (o que em português seria "bolas") , e que por isso não se atrevem a “dizer que é indecência” que Leszek Glódz, que até 2020 era arcebispo de Gdansk (norte), “tornou-se prefeito e que a magnitude de sua fortuna é vergonhosa”.
O frade foi chamado à ordem no passado por deplorar os vínculos da Igreja polonesa com a política e desta vez se referia ao caso de Glódz, que teve sua renúncia aceita pelo Papa Francisco por motivos de idade; seu nome havia sido mencionado anteriormente em conexão com o suposto abuso sexual ocorrido em sua arquidiocese.
O Vaticano penalizou neste ano o arcebispo emérito por negligência, denunciado anonimamente por vários padres, que descreveram o assédio aos subordinados e a aceitação de subornos em troca de cargos na Igreja; ele também foi amplamente criticado por levar uma vida que outros sacerdotes chamavam de “palaciana”.
O portal de notícias “Wirtualna Polska” publica esta terça-feira uma reportagem segundo a qual Glódz, ao deixar o arcebispado, regressou à sua cidade, Bobrówka, no nordeste do país, onde comprou uma luxuosa residência avaliada em cerca de dois milhões de euros, e foi feito com 20 hectares de terreno, entre outras propriedades.
Em junho concorreu às eleições municipais, onde há apenas 36 pessoas inscritas com direito a voto, e tornou-se prefeito após obter os apenas 9 votos expressos.
De acordo com a investigação “Wirtualna Polska”, o registro de imóveis local lista cerca de 155 mil m² de terreno em nome do ex-arcebispo, além do antigo prédio da escola local, a sede da Cáritas local, sete edifícios auxiliares e um lar para idosos de 3.800m².
Também são de sua propriedade: uma casa para freiras, várias casas, açudes, lotes, florestas e fazendas que, juntas, teriam um valor de mercado de cerca de quatro milhões de euros, segundo um consultor imobiliário.
Ao se tornar chefe do governo local, Glódz também se tornou chefe da pequena comuna do condado onde sua aldeia está localizada, o que o isenta de apresentar um inventário público de seus bens.
Em resposta às perguntas dos jornalistas, o ex-arcebispo disse que era “tolice e exageros” e afirmou que sua fortuna “é para o bem comum”.
Ao se aposentar do cargo, Glódz passou a receber uma pensão de cerca de 4.500 euros por mês. Segundo o diário “Gazeta Wyborcza”, os padres poloneses aposentados recebem, em média, pensões duas vezes superiores à dos poloneses médios, que recebem cerca de 500 euros.
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Um frade polonês denuncia a hierarquia do país por não criticar os luxos de um ex-arcebispo penalizado pelo Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU