19 Julho 2021
"Precisamos de uma "ecologia do coração", que seja feita de descanso, contemplação e compaixão", afirmou o papa Francisco, neste domingo, 18-07-2021, quando às 12 horas, apareceu na janela de seu gabinete no Palácio Apostólico do Vaticano para recitar o Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.
O texto foi publicado por Vatican News, 18-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo Francisco, "o estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: 'Ele teve compaixão'".
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
A atitude de Jesus, que observamos no Evangelho da liturgia hodierna (Mc 6,30-34), ajuda-nos a compreender dois aspectos importantes da vida. O primeiro é o descanso. Aos Apóstolos, que regressam do trabalho da missão e começam a contar com entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco” (v 31). Convida a descansar.
Ao fazer isso, Jesus nos dá um ensinamento valioso. Embora se alegre ao ver seus discípulos felizes com os prodígios da pregação, ele não se alonga em elogios e perguntas, mas se preocupa com seu cansaço físico e interior. E por que ele faz isso? Porque ele quer alertá-los de um perigo, que sempre está à espreita de todos nós: o perigo de nos deixarmos apanhar no frenesi do fazer, de cair na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que obtemos e o sentimento de sermos os protagonistas absolutos. Quantas vezes acontece também na Igreja: estamos ocupados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e voltamos sempre nós ao centro. Para isso, ele convida os seus a repousar um pouco à parte, com Ele. Não é apenas o descanso físico, é também o descanso do coração. Porque não basta “desligar a tomada”, é preciso descansar de verdade. E como se faz isso? Para tanto, é preciso voltar ao cerne das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho para a correria das férias. Jesus não se afastava das necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de tudo, se retirava em oração, em silêncio, na intimidade com o pai. O seu terno convite - repousar um pouco - deve acompanhar-nos: acautelemo-nos, irmãos e irmãs, do eficientismo, paremos a correria frenética que dita as nossas agendas. Aprendamos a fazer uma pausa, a desligar o celular, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus.
No entanto, o Evangelho narra que Jesus e os seus discípulos não podem descansar como gostariam. As pessoas os encontram e acorrem de todos os lados. Nesse ponto, o Senhor move-se por compaixão. Aqui está o segundo aspecto: a compaixão, que é o estilo de Deus. O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: "Ele teve compaixão". Comovido, Jesus se dedica ao povo e retoma o ensinamento (cf. vv. 33-34). Parece uma contradição, mas na realidade não é. De fato, só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, isto é, de não se deixar levar por si e pelas coisas a fazer e perceber os outros, suas feridas, suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, nos tornaremos capazes de verdadeira compaixão; se cultivarmos um olhar contemplativo, continuaremos nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contato com o Senhor e não anestesiarmos nossa parte mais profunda, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o respiro e nos devorar. Precisamos - ouçam isso - precisamos de uma "ecologia do coração", que seja feita de descanso, contemplação e compaixão. Vamos aproveitar o tempo de verão para isso!
E agora rezemos a Nossa Senhora, que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e sempre se move em terna compaixão por nós, seus filhos.
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Papa: descanso, contemplação e compaixão para uma “ecologia do coração” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU