16 Junho 2021
"Que no papado de Francisco está presente uma autenticidade cristã incomparável, pode ser visto a olho nu. É mais difícil ver se há um fio que liga fatos que se entrelaçam neste junho negro pela dimensão institucional da Igreja", escreve Alberto Melloni, historiador italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por La Repubblica, 15-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que no papado de Francisco está presente uma autenticidade cristã incomparável, pode ser visto a olho nu. É mais difícil ver se há um fio que liga fatos que se entrelaçam neste junho negro pela dimensão institucional da Igreja.
No início, temos o cardeal Marx. Renunciando para denunciar a inércia da Igreja, de fato pediu a renúncia do Papa. Ensinando a Francisco como "se assume a culpa", acusou-o de impotência com aqueles métodos ríspidos que, tendo se tornado a única cura contra o código de silêncio sobre os crimes de pedofilia, não podem mais discernir entre calúnia e denúncia. A resposta do papa foi publicar a carta "pessoal" de Marx em 3 de junho e no dia 10 recusar a sua renúncia. Misturando Lc 5 e Jo 21, lembrou a Marx que na Igreja apascenta quem ama e não quem dirige. No dia 3 de junho, Francisco havia fixado por decreto geral o limite de 10 anos consecutivos para o mandato dos chefes e dos órgãos dos movimentos eclesiais, salvo exceções: norma que comprime os direitos dos fiéis, fixa a liquidação dos chefe na ativa (Carrón, Impagliazzo, Martinez, etc.), coloca sub iudice os fundadores vivos (Amirante, Kiko, etc.), em nome de um bem, definido ideologicamente.
Em 7 de junho, Enzo Bianchi partia para o exílio de sua comunidade: o Papa havia tentado espiritualizar (seu) decreto que o ordenava; mas agora que os psicologismos que o haviam inspirado se revelaram invencíveis, permanece um dano à credibilidade ecumênica da Igreja e um mosteiro despedaçado. No mesmo dia, Francisco pediu a D. Egidio Miragoli que "inspecionasse" a congregação do clero: um gesto sem precedentes e inútil, já que quatro dias depois D. You Heung-sik foi nomeado prefeito, e poderia fazer por si mesmo uma reconhecitio; mas que fala sobre a rudeza com que é tratado até aquele que - por exemplo, o prefeito em saída, cardeal Stella - serviu com lealdade ao Papa.
É da mesma época a auditoria do Vicariato de Roma confiada pelo Papa a Alessandro Cassinis Righini - ex-Deloitte e agora auditor da Santa Sé -. Aqui, também, um ato que agrava a desconfiança que emergiu no dia 25 de abril na Basílica de São Pedro, quando o Papa havia apontado o dedo contra o secretário-geral do vicariato monsenhor Pedretti e o havia imputado pela morte por desgosto de um colaborador, e dado crédito a outros rumores.
Enquanto isso, em 9 de junho, outro episódio do caso do Cardeal Becciu, contra o qual está sendo preparada uma acusação supostamente volumosa. A polícia judiciária italiana e vaticana vasculhou a diocese de Ozieri a fim de encontrar documentação "indispensável para demonstrar a existência da hipótese de desvio de fundos públicos" (conforme a procuradora Gerace).
Filha de um rogatório diplomaticamente suicida, porque a partir de agora impedirá a Igreja de invocar suas imunidades, a busca poderia significar que o sistema acusatório ainda é muito frágil e evitar que uma defesa aguda transmita ao vivo para o mundo um processo ao governo central; ou pode ser uma forma de pressionar o cardeal, subestimando a antropologia da Sardenha.
Finalmente, no dia 6 de junho, o Papa mencionou no Angelus a Eucaristia "pão dos pecadores". Uma frase dirigida à conferência episcopal dos EUA que deve votar se ou quem pode negar a comunhão a Joe Biden por sua posição pró-escolha sobre o aborto. Talvez a secretaria de Estado já tenha desativado a bomba: mas se o Papa não o tivesse ordenado ou permitido, se correria o risco de que o segundo presidente católico fosse alvo de sua Igreja.
Existe uma linha entre todos esses atos? Alguns veem nisso o influxo excessivo de conselheiros grosseiros; outros o ar autoritário já censurado ao jovem Papa Bergoglio na Companhia de Jesus. Isso nada muda. Mesmo que fossem eventos não relacionados, seu acúmulo é um fato que (para acompanhar Lc 5) prepara uma tempestade.
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O junho negro da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU