08 Junho 2021
O cardeal de Bruxelas, 73 anos, acaba de publicar um livro sobre o lugar do cristianismo na Europa, na contracorrente de um catolicismo identitário e de reconquista. Reconhecer os casais homossexuais, ordenar homens casados, autorizar o acompanhamento das pessoas que pedem a eutanásia são assuntos que não o assustam. A anedota já revela muito. Em 10 de dezembro de 2019, em Bruxelas, três cardeais europeus, o de Barcelona, Juan José Omella, o de Munique, Reinhard Marx, e o da capital belga, Jozef De Kesel, se preparam para discutir juntos o futuro do cristianismo ocidental. Este prestigioso trio de eclesiásticos pesa na geopolítica do catolicismo europeu, apoio firme ao Papa Francisco, os “bergoglianos” (em homenagem a Francisco, Jorge Mario Bergoglio), como se costuma dizer dentro da Igreja Católica. “Um pouco antes do debate, o porta-voz do cardeal De Kesel preveniu-me: ele vai pedir-lhe que o faça sentar junto ao microfone mais remoto, conta o animador da noite, Bosco d'Otreppe, jovem jornalista do jornal La Libre Belgique. Quando o cardeal chegou, ele me pegou pelo braço e realmente queria que eu o mantivesse o menos à vista possível”.
A reportagem é de Bernadette Sauvaget, publicada por Libération, 02-06-2021. A tradução é de André Langer.
“Ele é discreto até quase sumir”, confirma, falando do primaz da Bélgica, o teólogo Benoît Lobet, decano da catedral de Bruxelas, bem próximo dele. “Discreto, sim, mas determinado”, corrige o seu editor na França, Michel Cool. Este ainda teve que (um pouco) insistir para convencer Jozef De Kesel, arcebispo de Malinas-Bruxelas, de 73 anos, a escrever o livro publicado em 27 de maio, Foi et religion dans une société moderne, Éditions Salvator (Fé e religião em uma sociedade moderna), reflexões sobre o futuro e o lugar do cristianismo na Europa, raras e na contracorrente de um catolicismo identitário e de reconquista, cada vez mais barulhento e hegemônico na França. “São questões que me fascinam desde os anos 1980”, explica, ao Libération, o frágil prelado belga, que acaba de se recuperar de um câncer que o afetou no início da pandemia.
Para encontrar o cardeal, o segundo na ordem protocolar na Bélgica depois do rei, é necessário ir a Malinas, uma bela cidade flamenga a cerca de trinta quilômetros da capital e amada do imperador Carlos V. De Kesel recebe as pessoas com afabilidade em seu palácio episcopal do século XVIII, com uma fachada clássica e com jardins esplêndidos, que ele abriu ao público em 2019. Apesar da pandemia, o arcebispo faz questão de fazer um gesto de cortesia, esticando o cotovelo, sorrindo, na falta de poder apertar as mãos. Do câncer que ainda invade seu cotidiano e do qual ainda está se recuperando, ele fala com humildade, sem se orgulhar.
“É dia após dia, conta. Mas sempre mantive minha confiança, uma certa serenidade. No início, os médicos me disseram que havia uma boa chance de eu ser curado. Isso me ajudou, me encorajou e me confortou muito. Não se espera um câncer. Sabemos que existe. Tive amigos que foram afetados e um irmão que morreu há muito tempo de leucemia. Mas ainda achamos que é para outras pessoas. É como os vírus, na verdade; acredita-se que as epidemias ocorram na África ou na Ásia. Mas não entre nós! E de repente nos deparamos com isso quando não tínhamos pensado nisso. Esse câncer, é claro, me marcou. Estamos vivos, temos um emprego, amigos, somos felizes, vivemos em um país bastante rico. Tudo isso parece óbvio. Nós não pensamos nisso. E de repente essa doença se manifesta. Descobrimos então que tudo isso não é tão óbvio. Todas as manhãs, como crente, agradeço ao Senhor por ainda estar vivo, mesmo por tomar meu café da manhã. Tenho um sentimento de gratidão. Sabe, tem gente que não consegue mais comer!”
De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
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Jozef De Kesel, o cardeal belga à esquerda do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU