23 Março 2021
O neurocientista Miguel Nicolelis voltou a defender medidas drásticas no Brasil para frear a pandemia de coronavírus. Em entrevista ao jornal O Globo, publicada na edição deste sábado (20), ele usa a expressão “hecatombe” para definir a situação no país. E fala em “colapso funerário”, além do sanitário. Se nada for feito, afirmou, o país poderá atingir 500 mil óbitos no meio do ano.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 22-03-2021.
“É duro dizer isso, mas vai piorar muito se não fizermos nada. E tem que ser a nível nacional, com medidas sincronizadas”, afirmou o também professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
“Não adianta fechar um estado e deixar o resto aberto porque o vírus está em todo lugar, se espalha pelas rodovias, pelos aeroportos. Vamos chegar a 300 mil óbitos com uma rapidez impressionante. Podemos chegar a 500 mil na metade do ano, no meio do inverno.”, acrescentou.
Abertura indiscriminada
Segundo ele, o país se aproxima de quase 3 mil mortes diárias em consequência das eleições de novembro e do que ele chama de aberturas indiscriminadas. “Com as festas natalinas e o carnaval, explodiu de vez. Como medidas mais rígidas não aconteceram, infelizmente as previsões se concretizaram, e chegamos a um colapso. Hoje é difícil prever qual vai ser a taxa de óbitos daqui a duas, três semanas. A gente não consegue ver limite ou pico”, diz Nicolelis.
Com pacientes na fila de espera em São Paulo, o cientista afirma que o governador João Doria e o prefeito Bruno Covas (ambos do PSDB) precisam ter “coragem” e fechar a Grande São Paulo e a capital. “Não dá para continuar empurrando com a barriga. Ou faz agora, ou as pessoas vão morrer na rua. São Paulo já colapsou há dias. Quando cruza 90% de ocupação, já foi. Só na logística para achar o leito e transferir, as pessoas vão morrer. O Brasil inteiro colapsou”, lamenta.
Ele também criticou o fato de o Brasil não ter se preparado, estocando medicamentos. E comparou a situação a uma guerra, em que o inimigo ocupou o território, sem que o país se defendesse. Porque, criticou, “quem deveria criar nossa estratégia de defesa renunciou ao papel de defender a sociedade da maior tragédia humanitária da nossa história”.
Sobre a posição de Jair Bolsonaro de que só ele pode decidir sobre lockdown, Nicolelis afirmou que o documento encaminhado ao Supremo Tribunal Federal será “prova definitiva de que as intenções da Presidência não são voltadas ao bem maior da sociedade”. E pediu a intervenção de outros poderes. “O presidente botou no papel o que o mundo inteiro já sabia, que ele quer fazer o oposto do necessário para evitar um genocídio no Brasil”, afirmou o cientista.
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Nicolelis insiste em lockdown e teme que país atinja 500 mil mortes no meio do ano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU