19 Dezembro 2020
O Papa Francisco recebeu dezenas de felicitações de pessoas e instituições da Itália e do mundo por seus 84 anos, comemorado na quinta-feira [17], ao mesmo tempo em que o Vaticano divulgava a mensagem do Pontífice para o Dia Mundial da Paz, na qual pediu que, dada a crise desencadeada pela covid-19, o dinheiro usado no mundo para as armas seja destinado a um fundo de luta contra a pobreza.
A reportagem é de Elena Llorente, publicada por Página/12, 18-12-2020. A tradução é do Cepat.
Apesar de ser celebrada todo dia 1º de janeiro, há 54 anos, o Vaticano normalmente divulga a mensagem para o Dia Mundial da Paz vários dias antes. Intitulada este ano “A cultura do cuidado como percurso de paz”, a mensagem de Francisco se centrou na crise desencadeada pela pandemia. “A grande crise sanitária de covid-19 se tornou um fenômeno multissetorial e mundial, que agrava as crises fortemente inter-relacionadas, como a climática, alimentar, econômica e migratória, e causa grandes sofrimentos e penúrias”, escreveu o Papa, que recordou todos aqueles que perderam algum familiar e aos profissionais da saúde do mundo todo, “que se esforçaram e seguem atuando com grande sacrifício”.
Com a pandemia, “percebemos que estávamos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados. Mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários, todos chamados a remar juntos”, porque “ninguém se salva sozinho e nenhum Estado nacional isolado pode garantir o bem comum da própria população”, disse Francisco. Por estas razões, pediu “aos responsáveis políticos e ao setor privado que adotem as medidas adequadas para garantir o acesso às vacinas contra o coronavírus e as tecnologias essenciais necessárias para prestar assistência aos doentes e aos mais pobres e frágeis”.
Mas também recordou que “estão ganhando novo impulso diversas formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e inclusive guerras e conflitos que semeiam morte e destruição”. “Por isso, escolhi como tema desta mensagem A cultura do cuidado como percurso de paz. Cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje em dia parece prevalecer”.
Segundo o Papa argentino, “paz, justiça e conservação da criação” são três temas fundamentais que o mundo deve enfrentar e que estão absolutamente ligados. “Em uma época dominada pela cultura do descarte, frente ao agravamento das desigualdades dentro das nações e entre elas, gostaria, portanto, de convidar os responsáveis das organizações internacionais e dos governos, do setor econômico e científico, da comunicação social e das instituições educativas a pegarem a bússola dos princípios mencionados (paz, justiça e conservação da criação), para dar um rumo comum ao processo de globalização, um rumo realmente humano”. E tudo isto só será possível com um “forte e amplo protagonismo das mulheres”, destacou o Pontífice.
Em relação aos conflitos vigentes no mundo, o Papa se perguntou “o que levou à normalização dos conflitos no mundo? (...) As causas dos conflitos são muitas, mas o resultado é sempre o mesmo: destruição e crise humanitária (...) Quanto gasto de recursos para as armas, em particular para as nucleares, recursos que poderiam ser utilizados pra prioridades mais importantes a fim de garantir a segurança das pessoas, como a promoção da paz e o desenvolvimento humano integral, a luta contra a pobreza e a satisfação das necessidades de saúde! (...) Que corajosa decisão seria constituir com o dinheiro que se usa em armas e outros gastos militares “um Fundo mundial” para poder derrotar definitivamente a fome e ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres”.
É claro, em todo este processo para a paz, a educação é uma chave fundamental, tanto na família, como a realizada por escolas e universidades, mas também pelos meios de comunicação, segundo o Pontífice. As religiões e os líderes religiosos também têm um papel neste sentido, a fim de conseguir “uma educação mais aberta e includente, capaz de escuta paciente, do diálogo construtivo e da mútua compreensão”, porque “não há paz sem a cultura do cuidado”, enfatizou Francisco.
“Trabalhemos todos juntos para avançar rumo a um novo horizonte de amor e paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhida. Não cedamos à tentação de nos desinteressar pelos outros, especialmente dos mais frágeis, não nos acostumemos a desviar o olhar, mas nos comprometamos todos os dias concretamente para formar uma comunidade composta por irmãos que se acolhem reciprocamente e se preocupam uns com os outros”, concluiu o Papa.
Entre as muitas mensagens que o Papa Francisco recebeu pelos seus 85 anos, destacou-se a do primeiro-ministro Giuseppe Conte e a do presidente da República, Sergio Mattarella. Mas também as saudações de 24 personalidades do mundo do espetáculo, cantores famosos, atores, diretores de cinema, jornalistas e esportistas. As 24 saudações foram reunidas em um vídeo que se inicia com uma série de fotografias da vida de Jorge Mario Bergoglio e que foi elaborado pela televisão católica Telepace.
O primeiro-ministro Conte escreveu no Twitter: “Muitas felicidades Papa Francisco! Acompanhamos com o máximo respeito seu compromisso por uma Igreja constantemente atenta às necessidades dos mais pobres, dos mais fracos e dos pequenos”.
Por sua parte, o presidente Mattarella destacou em sua mensagem que “durante este terrível ano de pandemia, Francisco não deixou faltar a todos os italianos sua proximidade e solidariedade”. E acrescentou que “pessoas de religiões diferentes, nos momentos difíceis, também puderam perceber constantemente o apoio e o estímulo do Papa”.
Entre as 24 personalidades do mundo do espetáculo, destacaram-se alguns como o músico Al Bano (“Sempre o acompanho e fico admirado pelas coisas que faz”, disse), os atores Flavio Insinna, Francesco Pannofino, Renzo Arbore (que agradeceu ao Papa, em especial, por sua última encíclica, “Fratelli Tutti”), a cantora Paola Turci, os atores Claudio Bisio e Roberto Mancini.
Mas a mensagem mais contundente foi a do famoso diretor de cinema Gabriele Salvatores (diretor, entre outros, de “Mediterrâneo”, que recebeu o Oscar em 1991). “Feliz aniversário, Francisco! Perdão se não consigo chamá-lo de Sua Santidade. Mas isso também é culpa sua, de sua humildade, de sua humanidade, do fato de se colocar entre nós como um irmão. Felicidades pelo seu aniversário e por ter a força de avançar com a revolução que está fazendo a favor dos últimos da terra”.
Segundo o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, “o Papa Francisco celebra esta festa assim como nos outros anos, com simplicidade e só com os que vivem na residência Santa Marta”, um edifício com uma série de apartamentos onde o Papa também mora desde que foi eleito Pontífice, em 2013, e decidiu renunciar a viver no luxuoso apartamento que tradicionalmente os pontífices ocupavam.
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O Papa Francisco em seu aniversário: “ninguém se salva sozinho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU