30 Novembro 2020
"É ainda cedo para prenunciar de forma peremptória o que essas eleições anunciam para a eleição presidencial de 2022, algumas coisas, porém, podem ser ditas", destaca Cesar Sanson, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
O segundo turno frustrou a esquerda. As expectativas eram grandes com São Paulo, Porto Alegre e Recife. Em todas elas, derrotas. As mais sentidas foram Porto Alegre e Recife. Em São Paulo, havia certo frisson no ar, mas sabia-se que seria difícil; entretanto a diferença entre Covas e Boulos acabou sendo maior do que as expectativas. Para arrematar a frustração, a derrota em Vitória.
A imprensa esfrega as mãos e vaticina: os grandes derrotados são Bolsonaro e PT e repete o velho clichê, que os extremos foram rejeitados. Uma leitura simplista que não explica o estupendo desempenho de Boulos em São Paulo.
De qualquer forma não há como negar que após uma onda de entusiasmo quando dos resultados do primeiro turno e do que se anunciava no segundo; o sentimento é de frustração na esquerda.
É ainda cedo para prenunciar de forma peremptória o que essas eleições anunciam para a eleição presidencial de 2022, algumas coisas, porém, podem ser ditas:
1) Boulos terá que ser escutado na composição de possíveis alianças pela esquerda em 2022. Deixou de ser uma figura pública e política secundária. Com a estrondosa votação na capital paulista, torna-se um interlocutor importante;
2) Não apenas Boulos terá que ser escutado, o PSOL também, deixa de ser “nanico” com o desempenho em São Paulo e a vitória em Belém; acrescente a isso a enormidade de vereadores eleitos, muitos em capitais, com capilaridade na sociedade;
3) Essas eleições mostram também o quanto será difícil a formação de uma frente ampla da esquerda ainda no primeiro turno; apesar do exemplo de São Paulo, na qual as principais lideranças nacionais de esquerda saíram em apoio a Boulos, a briga fratricida em Recife trará consequências. Em Fortaleza, o PT apoiou de forma tímida e a contragosto o candidato do PDT;
4) O PT pela primeira vez, em três décadas, não leva nenhuma capital do país. É uma ducha de água fria; mas continua sendo o maior partido de esquerda e com a figura de Lula e os programas sociais de seu governo mantêm forte recall entre os mais pobres. Dificilmente abrirá mão de uma candidatura própria em 2022, o que dificultará sobremaneira uma frente de esquerda ainda no primeiro turno;
5) O DEM e o PSDB saem fortalecidos com as vitórias nas respectivas capitais do Rio de Janeiro e São Paulo e a essas associem-se outras capitais com vitórias das duas siglas ainda no primeiro turno. Há uma probabilidade grande de marcharem juntos nas eleições de 2022 e arrastarem outras siglas como o MDB. Será uma chapa forte porque terá o apoio do capital financeiro, industrial e do agronegócio;
6) Bolsonaro com os resultados das eleições municipais mostra-se cada vez mais isolado. Sem partido, será cada vez mais dependente do centrão – por muitos chamados de direitão – que ganhou musculatura nessas eleições e cobrará ainda mais caro qualquer sustentação ao bolsonarismo;
7) As chances de reeleição de Bolsonaro diminuem muito. Se nas eleições de dois anos atrás, muitos queriam se agarrar à Bolsonaro e surfar em sua popularidade; agora os candidatos fogem do presidente como o diabo foge da cruz;
8) Essas eleições revelaram outra coisa: as fake news vieram para ficar. Muitos comemoram que a intensidade das mentiras pelas redes sociais diminuíram em relação a dois anos atrás; porém, foram fartamente usadas, principalmente em Porto Alegre e Recife. Seguramente em 2022 voltará com intensidade e com nova roupagem. O instagram, nova coqueluche das redes, já entrou em cheio nas ondas fakes nessas eleições;
9) Uma “lição final” das eleições 2020: a política é dialética. Quem previa a pandemia da Covid-19 um ano atrás? E fatos externos a política institucional mudam os rumos e os humores da população.
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O que as eleições de 2020 anunciam para 2022? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU