21 Outubro 2020
Diante do convite do papa a 'sonhar juntos', os evangélicos italianos também começaram a estudar a Fratelli tutti. E as primeiras reações são substancialmente positivas, embora com alguns destaques críticos", escreve Luca Maria Negro, pastor batista italiano e presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), em artigo publicado por Riforma, publicação das Igrejas evangélicas batistas, metodistas e valdenses italianas, 23-10-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Segundo o teólogo Fulvio Ferrario, uma das críticas consiste "no fato de que 'as sacrossantas denúncias e as razoabilíssimas intenções' não sejam percebidas como 'realmente perigosas pelos poderes reais'. Até porque as Igrejas – e não só a católica, também as nossas – manifestam uma preocupante tendência à autorreferencialidade. Propõem reformas mundiais, mas não são capazes de reformar a si mesmas; se lançam contra as finanças globais, mas nem sempre se destacam na gestão das próprias finanças”.
Eis o artigo.
Fratelli tutti é o título da última encíclica do Papa Francisco: uma carta sobre a fraternidade e a amizade social que não se dirige apenas aos fiéis católicos, mas é ecumenicamente dirigida a todas as Igrejas: no início (§ 5), recorda-se o fato de que a encíclica anterior, a Laudato si’, encontrou “uma fonte de inspiração” no patriarca ortodoxo de Constantinopla, e, no fim, o texto se conclui precisamente com uma oração ecumênica. Mas não só: dirige-se também às religiões do mundo e, em geral, a todas as mulheres e os homens de boa vontade (§ 6).
O objetivo da encíclica é fazer renascer entre todos uma aspiração mundial à fraternidade; entre todos, porque, diz o papa, “aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (…) Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos” (§ 8).
Diante desse convite a “sonhar juntos”, os evangélicos italianos também começaram a estudar a Fratelli tutti. E as primeiras reações são substancialmente positivas, embora com alguns destaques críticos.
A Comissão Globalização e Ambiente da Federação das Igrejas Evangélicas vê na encíclica “um apelo à recuperação da dimensão comunitária da existência, a recompor um ‘nós’ que habita a casa comum”, assim como a reivindicação – não só para a Igreja Católica, mas também para todas as Igrejas e religiões – de um papel ao serviço da fraternidade no mundo e da defesa da justiça na sociedade.
O professor Fulvio Ferrario, decano da Faculdade Valdense de Teologia, identifica o centro da encíclica na categoria da amizade social, proposta como alternativa à atual “falta de pontos de referência éticos compartilhados (...). Uma exigência conjugada em todos os níveis: sem uma nova orientação dos comportamentos individuais, não se vai a lugar algum, mas a grande política mundial e a economia global também devem ser orientadas em termos novos”.
Quais são os aspectos críticos (e, como veremos logo, autocríticos) para Ferrario? O fato de que “as sacrossantas denúncias e as razoabilíssimas intenções” não sejam percebidas como “realmente perigosas pelos poderes reais”. Até porque as Igrejas – e não só a católica, também as nossas – manifestam uma preocupante tendência à autorreferencialidade. Propõem reformas mundiais, mas não são capazes de reformar a si mesmas; se lançam contra as finanças globais, mas nem sempre se destacam na gestão das próprias finanças”.
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Fratelli tutti: uma leitura protestante - Instituto Humanitas Unisinos - IHU