15 Outubro 2020
“O legado de Santa Teresa de Jesus transborda os escritos: poemas e prosas. Para mais, ela empreendeu a reforma do ramo feminino do Carmelo, e despertou e estimulou o ainda jovem João da Cruz para reformar o ramo masculino. Sem dúvida, a ela pode ser utilizada a expressão, 'eita, mulher arretada!', haja vista sua vida reluzente”, escreve Carlos Rafael Pinto, candidato ao doutorado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia - FAJE-BH e professor de Ensino Religioso, Filosofia e Sociologia no Colégio São Judas Tadeu.
Na celebração da memória de Santa Teresa de Jesus, escutamos, pelos lábios do salmista: “O Senhor fez conhecer seu poder salvador perante as nações” (Sl 97). Que poder é esse? Onde o encontramos? O Senhor revela seu poder salvífico para todos, sem exclusão, no cotidiano. No decorrer da história, algumas pessoas irradiaram esse poder que vem do Senhor.
Entre essas pessoas, fazemos memória de Santa Teresa de Jesus, no dia 15 de outubro. Quem foi ela? Quais foram as suas obras? Qual é o seu legado? Popularmente, alguns se referem a ela como “Teresona” para distingui-la de Santa Teresinha do Menino Jesus, cuja memória celebramos no dia 1.º de outubro.
Quarenta anos depois da morte de Teresa de Ávila, em 1622, o papa Gregório XV a elevou aos altares. Muito tempo depois, em 1970, ela foi proclamada Doutora da Igreja, pelo papa Paulo VI, e reconhecida como Mãe da Espiritualidade, em latim Mater Spiritualium, em virtude de sua contribuição para o caminho espiritual.
E o seu legado? Quais foram os seus escritos e as suas obras? No imenso jardim de seus escritos, sentimos o perfume da súplica fascinante exalada de seu poema inesquecível: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa! Só Deus não passa. A paciência, por fim, tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta, pois só Deus basta”.
A pedido de seu padre confessor, Teresa de Ávila escreveu o seu itinerário espiritual chamado de Livro da vida. É o clássico mais lido pelos espanhóis, depois de Dom Quixote de Miguel de Cervantes. A monja carmelita narrou inúmeras páginas de sua vida, entre elas, sublinhamos o seu gosto por romances de cavalaria e o encontro inusitado com um anjo.
Essa última página foi intitulada de “Êxtase” ou “Transverberação” de Santa Teresa de Jesus, e foi imortalizada na escultura do artista italiano Gian Lorenzo Bernini. Essa escultura barroca retrata Teresa de Ávila revestida de enorme tecido com dobras e dobras, tendo, diante de si, um anjo, de pé, que lhe aponta uma flecha.
O Êxtase de Santa Teresa. Escultura de Lorenzo Bernini, em Santa Maria della Vittoria, na Via XX Settembre em Roma
O corpo de Santa Teresa se encontra aparentemente arremessado para trás, os pés suspensos, os braços caídos, e a sua face, o que dizer? É impressionante a sua expressão! E o anjo? Seria uma forma da presença de Deus? A flecha representaria Deus? Toda essa cena tão eloquente está estampada na capa do livro Seminário XX, do psicanalista Jacques Lacan.
Teresa de Ávila experimentou o poder do Senhor quando se encontrou com o anjo. E nós? Outra obra muito importante é Castelo interior ou Moradas. Esse título traz uma das imagens veiculadas pelos romances de cavalaria: o castelo. Onde estaria o rei? Em que parte do castelo? “Onde habita a divina majestade?”, assim podemos meditar no caminho espiritual.
O legado de Santa Teresa de Jesus transborda os escritos: poemas e prosas. Para mais, ela empreendeu a reforma do ramo feminino do Carmelo, e despertou e estimulou o ainda jovem João da Cruz para reformar o ramo masculino. Sem dúvida, a ela pode ser utilizada a expressão, “eita, mulher arretada!”, haja vista sua vida reluzente.
Inspirado no legado de Santa Teresa de Jesus, de maneira poética e mística, Jonas Samudio, em Há deus: A escrita do insondável em Maria Gabriela Llansol, sublinha que, no corpo, vivemos a experiência da fé e da crença. Diferentemente do que muitos pensam, mesmo que existam cicatrizes, o corpo é o lugar em que podemos experimentar o amor do Senhor.
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Memória litúrgica de Santa Teresa de Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU