08 Outubro 2020
A irmã Ardeth Platte, uma irmã da Ordem Dominicana que lutou pelo desarmamento nuclear e serviu de inspiração para uma popular personagem da série “Orange is the New Black”, morreu enquanto dormia, na quarta-feira, 30-09, na Dorothy Day Catholic Worker House, em Washington D.C.
A reportagem é de Patrick O’Neill, publicada por Religion News Service, 06-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Platte, de 84 anos, que frequentemente trabalhou junto de sua melhor amiga e colaboradora, irmã Carol Gilbert, ficou anos na prisão por causa da desobediência civil não-violenta contra as armas nucleares e a guerra.
Foi Gilbert quem encontrou Platte na manhã de quarta-feira. Ela aparentemente estava ouvindo rádio, pois ainda estava usando fones de ouvido quando Gilbert a encontrou. Gilbert disse que Platte ouviu o debate entre os candidatos à presidência dos EUA, na noite de terça-feira.
Nos últimos anos, a dupla gastou a maior parte do tempo de trabalho falando em apoio ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares. Gilbert disse que estava animada na quarta-feira de manhã com a perspectiva de contar a Platte que a Malásia se tornou a 46ª nação a ratificar o tratado.
A decisão da Malásia significa que apenas quatro ratificações adicionais são necessárias para que o tratado de desarmamento histórico entre em vigor, disse Gilbert.
Gilbert disse que Platte fez uma última apresentação em apoio ao Tratado, via Zoom, no sábado, para a Escola de Teologia da Universidade de Boston.
“Estou estarrecida”, disse Gilbert em uma entrevista por telefone. “Ela estava bem ontem. Nós trabalhamos. Eu acho que não imaginamos que a morte possa vir simplesmente tão rápida”.
Platte nasceu em Lansing, Michigan, e começou seu trabalho para os dominicanos como professora. Nas décadas de 1960 e 70, ela atuou como diretora-geral e diretora de educação alternativa no antigo Centro Educacional São José, em Saginaw, Michigan. Seu trabalho como educadora impressionou muitos na comunidade, e Platte foi convidada a concorrer à Câmara Municipal de Saginaw. Foi eleita, servindo como vereadora de 1973-1985.
Ela também atuou como coordenadora da Casa pela Paz e Justiça, em Saginaw, por mais de uma década.
Foi em Michigan que Platte começou seu trabalho contra as armas nucleares, e onde Gilbert juntou-se a ela. Mais tarde, a dupla mudou-se para Baltimore para se juntar a comunidade Jonah House, com Elizabeth McAlister e Philip Berrigan.
Em 2002, Platte, Gilbert e a irmã Jackie Hudson ganharam atenção internacional quando se vestiram como inspetoras de armas, entraram e foram presas nas instalações dos mísseis nucleares Minuteman III no Colorado. Condenadas por crimes federais, as três irmãs foram condenadas à prisão. Hudson morreu em 2011.
Quando Platte e Gilbert voltaram ao Colorado em 2017 para um comício, uma história do The Denver Post afirmou: “Nos anos desde que cumpriram suas sentenças na prisão federal, as irmãs dominicanas, dificilmente desencorajadas pela ameaça de encarceramento futuro, tornaram-se ícones da cultura pop”.
Uma personagem da série da Netflix “Orange Is the New Black” foi inspirada em Platte, que praticava ioga no Instituto Correcional Federal de Danbury com Piper Kerman, autora do livro que baseia a série sobre um grupo de mulheres cumprindo pena em uma prisão feminina.
Um documentário sobre as irmãs, chamado “Conviction”, levou a histórias sobre o trio ser publicada na revista The New Yorker, e jornais The New York Times e The Washington Post, bem como algumas publicações internacionais.
Nos últimos meses, Platte e Gilbert juntaram-se à atriz Jane Fonda em grandes protestos na Casa Branca.
Gilbert conta que ligou para a emergência quando percebeu que Platte estava morta, e logo a casa estava cheia de policiais de Washington D.C.
“Eu queria dizer a Ardeth que mesmo na morte precisou fazer uma cena, transformar o quarto em uma cena de crime”.
Em um e-mail de anúncio da morte súbita de Platte, enviado para muitos de seus amigos, o ativista católico Paul Magno, da Jonah House, escreveu: “Profundamente chocado por saber disso, mas agradecido por tudo que Ardeth deu para fazer a paz de Cristo radiar pelo nosso mundo”.
Em 2017, Platte disse ao The Denver Post: “Eu me recuso a ter inimigos. Eu simplesmente não terei”.
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Ardeth Platte, a irmã dominicana que se dedicou à causa contra as armas nucleares, morre aos 84 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU