14 Setembro 2020
Em uma entrevista publicada na Revista CLAR, o subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral compartilha sua experiência sinodal e aborda os desafios da vida consagrada na região pan-amazônica.
A reportagem é publicada por Vida Nueva Digital, 12-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Revista CLAR dedica sua mais recente edição (Vol. 57, nº 3) ao Sínodo da Amazônia e à exortação apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia”. Dos 13 artigos de reflexão e experiências que apresenta, publica uma entrevista com o cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que faz um balanço do antes, durante e depois do Sínodo Pan-Amazônico, assim como dos desafios que representa para a vida religiosa latino-americana e caribenha.
Czerny, que foi um dos dois secretários especiais designados pelo papa Francisco para o Sínodo da Amazônia, se considera “uma testemunha privilegiada deste processo” e, portanto, sente-se movido a “comunicar, para se aproximar, para transmitir, para ‘sinodear’”. “Pessoalmente, esta experiência significou uma graça, uma dádiva. Esta dádiva sinto que recebi para compartilhar com os outros na Igreja e no mundo”, diz.
Depois de sua criação como cardeal em 5 de outubro de 2019 – na véspera do início do Sínodo Pan-amazônico – ele sente que sua missão se ‘intensificou’ apelando para o essencial de sua vocação religiosa: “agora sou cardeal, mas sou o mesmo religioso, sacerdote e irmão que continua a caminhar com muitos (...), buscamos com o nosso papa Francisco uma Igreja que vai ao encontro, que chega aos povos originários, que vive com eles o seu sofrimento, as suas esperanças e os carrega no coração”.
Durante o Sínodo – confessa – preocupou-se em “registrar as vozes” que ressoaram na Sala Paulo VI, com particular atenção ao sensus fidei para “ajudar a reconhecer a presença do Espírito Santo e o seu convite a continuar a percorrer e a percorrer novos caminhos”. “Foram dias de escuta, silêncio, oração, discernimento e palavra”, recorda, destacando o interesse pessoal de Francisco em estar o mais presente possível nas sessões.
Referindo-se aos frutos do Sínodo e, especificamente, do Documento Final e da exortação apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia”, que considera duas partes do “mesmo díptico”, ele destaca que “esta exortação é para a Amazônia, mas também para toda a Igreja Universal”, e acrescenta que “o papa Francisco escreve esta carta de amor por aquele paraíso ferido, por seus filhos e filhas que sofrem essas feridas e estão em perigo. Escreve à Igreja que luta, preserva, protege e é capaz de se entregar e se encarnar na Amazônia”.
O purpurado recomenda que os religiosos latino-americanos façam “uma leitura orante tanto do Documento Final quanto da Querida Amazônia” para desvendar os novos caminhos que ali se oferecem como possibilidades. “No Documento Final há quase 200 propostas concretas, e a grande maioria delas apresenta novas estradas, ou uma renovação de estradas, ou uma reorientação de estradas”.
Czerny se afasta da tentação de reduzir o Sínodo a alguns aspectos. No entanto, destaca algumas questões de longo alcance em termos de conversão, como o rito amazônico, novas perspectivas de ministerialidade, novas formas de evangelização e ecologia integral, com suas implicações pastorais na “defesa dos direitos dos povos, dos seus territórios”, afirmando o papel da Igreja como “verdadeira aliada, que acompanha estas lutas para que haja vida e vida em abundância”.
“Nós, consagrados, somos chamados a percorrer esses novos caminhos com a diversidade dos carismas, mas juntos, na sinodalidade, com outros”, afirma o purpurado, referindo-se às implicações do Sínodo para a vida religiosa latino-americana e caribenha, destacando a importância de “permanecer nas comunidades mais remotas, aprendendo línguas indígenas e respeitando as culturas”.
Embora “sejam tempos de grande desespero”, ele também está convencido de que “a crise que se vive na Amazônia pode ser um apelo à esperança cristã além de toda esperança humana”. Daí o apelo a continuar sonhando com o Papa, porque “sonhar é o início de muitas ações e nos ajuda a não perder a esperança”.
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“A crise que vive a Amazônia poderia ser um chamado à esperança cristã mais além de toda esperança humana”, afirma o cardeal Michael Czerny - Instituto Humanitas Unisinos - IHU