11 Junho 2020
A pandemia do novo coronavírus provocou uma tensão global nos sistemas nacionais de saúde numa disputa acirrada dos países por insumos no mercado internacional. No Brasil, a crise sanitária escancarou um problema estrutural: a imensa dependência tecnológica e produtiva na área da saúde, responsável entre outras fragilidades, pela importação de 94% dos fármacos. Em entrevista ao blog do CEE-Fiocruz, o economista Carlos Gadelha, coordenador de Ações de Prospecção da Fiocruz, faz uma avaliação sobre as deficiências do complexo industrial da saúde no Brasil diante do enfrentamento do novo coronavírus.
A reportagem é de Andréa Vilhena, publicada por CEE-Fiocruz, 28-05-2020.
“Essa crise nos atingiria de forma dramática de qualquer forma, mas seríamos muito mais resilientes e capazes de responder com agilidade, como a Fiocruz mostrou ser com os testes para diagnósticos, se tivéssemos capacidade produtiva, industrial e tecnológica”, diz Gadelha.
A força da ciência brasileira em saúde, reconhecida mundialmente, em sua opinião, só pode ser viabilizada em termos de produção em escala se houver um setor produtivo industrial e tecnológico estruturado. Segundo o Gadelha, que coordena o grupo de pesquisa “Desenvolvimento, Inovação e Complexo Econômico-Industrial da Saúde” da Fiocruz, “a nossa lacuna principal não é científica, é a fragilidade de um setor produtivo que se tornou pouco denso do ponto de vista tecnológico até para interagir com o nosso sistema de ciência, tecnologia e inovação”.
Essa situação, explica o pesquisador, é baseada em um sistema econômico que prioriza a aplicação financeira em detrimento ao investimento em inovação e desenvolvimento de tecnologias, e acaba resultando em um estímulo à importação de produtos industriais. Para reverter esse quadro, ele diz que será necessário “um novo projeto de desenvolvimento, apoiado em três pilares: o direito social, a capacidade de produção e tecnológica local e o sistema de ciência e tecnologia”.
Em relação ao futuro, Gadelha sublinha que “nossa necessidade não se esgota no coronavírus”. A garantia de autonomia do funcionamento do SUS depende de uma base produtiva tecnológica e científica sólida. “Não conseguiremos atender 210 milhões de brasileiros, garantindo-lhes o direito à saúde, se não tivermos capacidade de produção desse sistema industrial na área da saúde”, conclui.
Para o pesquisador, é importante que o Brasil entre de cabeça na 4ª revolução tecnológica industrial que envolve entre outras ferramentas instrumentos que irão permitir melhorar nossa capacidade preditiva para a vigilância epidemiológica.
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Carlos Gadelha: Para garantir o SUS universal, país precisa consolidar o complexo industrial da saúde - Instituto Humanitas Unisinos - IHU