27 Mai 2020
Entrevista com o filósofo Toby Ord, autor do ensaio "The precipice” (Hachette Books). "Somos como adolescentes que assumem alguns riscos, pensando apenas nas consequências imediatas e sem perceber que também estão jogando com seu próprio futuro". E o de outros.
A entrevista é de Giuliano Aluffi, publicada por La Repubblica, 26-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
A crise da pandemia do Coronavírus não nos tornou mais sábios, segundo Toby Ord - filósofo e professor do Future of Humanity Institute da Universidade de Oxford, e autor do recente ensaio "The precipice. Existential risk and the future of humanity" (Hachette Books) - porque ainda não somos capazes de pensar a longo prazo, sobre as gerações vindouras e garantir que nossas decisões de hoje e de amanhã não prejudiquem seu bem-estar e o de toda a humanidade futura. Tony Orb respondeu às nossas perguntas.
O risco de pandemia é apenas um dos riscos já sofridos pela humanidade, e não o pior. Ou pelo menos é o que você afirma em "The Precipice". Quais são os outros riscos?
Eu faço uma distinção dos riscos em três grandes categorias. O primeiro é o dos "riscos naturais", como o asteroide que 65 milhões de anos atrás exterminou os dinossauros, as erupções de supervulcões, as tempestades de raios gama no nosso planeta ou as pandemias naturais. Depois, há os "riscos antropogênicos", como o aquecimento global ou uma guerra com armas nucleares. E, por fim, os "riscos emergentes", como aqueles de armas biológicas, ou os danos que uma inteligência artificial que não esteja alinhada com os valores humanos poderia nos causar.
Por todos esses tipos de ameaças, você calculou uma probabilidade (sumária) que eles levem à extinção da humanidade...
Vamos considerar os riscos naturais: nesse caso, suponho que a probabilidade de extinção seja mínima: 1 em 10.000. Cheguei a essa estimativa pensando que estamos lidando com esse mesmo tipo de risco desde o aparecimento do Homo sapiens, que, a julgar pelos fósseis, muitos estimam tenha ocorrido há cerca de 200.000 anos atrás. Ou seja, 2000 séculos. Se, para cada um desses séculos, o risco de extinção tivesse superado o 1%, a participação contínua nessa eletrizante "loteria" não nos teria permitido sobreviver por 2000 séculos. Por esse motivo, é razoável supor um risco inferior de uma ou duas ordens, como, por exemplo, 1/10.000. Também porque, se considerarmos as espécies nossas ancestrais, como o Homo erectus, vemos que aproximadamente sua duração, tendo que lidar apenas com ameaças de tipo natural, pode atingir um milhão de anos. Em suma, não é das ameaças naturais - grandiosas e provavelmente impossíveis de serem contidas, mas raras - que devemos esperar o fim da humanidade.
Os "riscos antropogênicos" já são mais preocupantes.
Para avaliar esses riscos, não podemos aplicar o raciocínio anterior. Porque, se é verdade que vivemos - sem nos extinguir - com os riscos naturais por cerca de 200.000 anos, é apenas há dois séculos que lidamos com a Revolução Industrial e seus efeitos de poluição da atmosfera e estamos lidando com energia nuclear há apenas 75 anos. Usando outros tipos de raciocínio, podemos, por exemplo, considerar o quanto nos aproximamos do risco de extinção com esse tipo de ameaças - por exemplo, o de uma guerra com armas atômicas - para entender a probabilidade de que elas ocorram no futuro. Não há muita literatura científica a respeito, mas os estudos existentes permitem supor que mesmo que uma guerra nuclear ou um aumento no aquecimento global sejam enormes catástrofes, nem por isso poderiam facilmente levar à extinção da humanidade. Estimo o risco de extinção, nesses casos, entre 1/1000 e 1/300. Dito isso, identifico a explosão da primeira bomba atômica, no teste de 16 de julho de 1945 no Novo México, como uma mudança de ritmo, obviamente negativa, na relação do homem com a possibilidade de sua extinção.
Quanto a essa possibilidade: realmente existe? Porque - talvez compreensivelmente, afinal - a extinção certamente não está no topo de nossos pensamentos.
Estamos acostumados a pensar em escalas de tempo de algumas semanas ou meses. As escalas de tempo mais extensas nos escapam, e nisso mostramos um certo grau de irresponsabilidade: somos como adolescentes que correm alguns riscos pensando apenas nas consequências imediatas e sem perceber que também estão jogando com o seu próprio futuro.
Pois bem, se nos tornarmos mais sábios e conseguirmos evitar extinções acidentais, qual poderia ser o futuro de nossa espécie?
Nosso planeta permanecerá habitável por pelo menos 500 milhões de anos - aliás, provavelmente um bilhão - antes que fique quente demais devido ao efeito do Sol. Existe a possibilidade de que as gerações futuras, milhões de gerações futuras, resolvam todos os problemas que hoje ainda nos angustiam, como a fome e as injustiças sociais. Ainda não atingimos, no sentido mais absoluto, o auge da humanidade. Acredito que ainda nem chegamos a um quinto de nosso caminho total: podemos fazer coisas muito mais ambiciosas e maravilhosas do que aquelas feitas até agora. É por isso que é importante saber avaliar o risco de extinção e agir para minimizá-lo. Não apenas para todas as gerações futuras, mas também para não tornar inúteis os esforços dos 100 bilhões de seres humanos que, até hoje, se sucederam no planeta, acumulando cultura e tecnologia para nos deixar um legado e melhorar nossas vidas.
Portanto, é preciso começar a considerar a extinção: não para nos angustiarmos inutilmente, mas apenas para evitá-la.
Também porque assim fazendo podemos encontrar soluções para mais problemas juntos. Um exemplo: no futuro, poderíamos usar a matéria recuperável na faixa dos asteroides para construir painéis solares orbitantes, que coletem a energia do Sol. Aumentando até um bilhão de vezes a nossa disponibilidade de energia limpa e zerando a necessidade de fontes fósseis. Quando formos capazes disso, também poderíamos ter sucesso com essas mesmas tecnologias na mitigação dos efeitos da luminosidade solar, multiplicando em dez vezes a duração da vida na Terra.
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Pandemias e outros riscos para a humanidade. Mas para nos extinguir levará pelo menos 500 milhões de anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU