05 Mai 2020
O ser humano está em uma encruzilhada. Sua capacidade para superar crises globais é incrível, mas estas crises são de escala e força devastadora cada vez maiores. Este jogo de equilíbrios nos torna os primeiros seres na criação capazes de decidir seu próprio destino. Se agirmos bem, podemos reverter todos os riscos que enfrentamos. Mas, caso contrário, estamos à beira da extinção. “Existe uma entre seis possibilidades de que o mundo acabe do modo como o conhecemos, durante este século XXI”, afirma o filósofo Toby Ord, especialista em contenção de riscos e conselheiro da Organização Mundial da Saúde.
A reportagem é de Carlos Sala, publicada por La Razón, 03-05-2020. A tradução é do Cepat.
O filósofo acaba de publicar The Precipice: Existential Risk and the Future of Humanity [O Precipício: Risco Existencial e o Futuro da Humanidade], reconhecendo que o problema atual é que estamos pouco preparados para antecipar catástrofes potenciais em relação às quais não temos precedentes precisos. O problema? Para nós, é difícil acreditar no que nunca vimos. Era fácil prever o comportamento de uma pandemia global e era simples antecipar as medidas a seguir para minimizar riscos, o problema é que ninguém acreditava que poderia acontecer, simplesmente porque não havia ocorrido em 100 anos.
Nos últimos anos, existem duas catástrofes que eram fáceis de prever, uma pandemia e um ciberataque global e extenso. Inclusive, Bill Gates já tinha avisado, em 2015, dos riscos de um vírus potencialmente mortal. Podíamos visualizar seus estragos, mas nunca acreditar que na realidade era possível. Por isso, o comentário mais amplo, na atualidade, é que vivemos como em um filme de ficção científica, quando o correto é que não há nada de fantástico em nossa realidade atual, apenas lógica prescritiva.
A inteligência humana funciona de uma forma simples. Se algo nunca aconteceu, porque iríamos agir contra isso para nos prevenir? A lógica funciona na maioria dos casos. Mas o que acontece quando surge a exceção, como aconteceu com a pandemia de coronavírus? Como vimos, o mundo não está preparado e como em uma fila de dominós, primeiro cai a estrutura sanitária, depois a econômica, depois a social e, por fim, nada fica em pé. Esse é o trabalho de Ord, imaginar todos esses cenários possíveis e tentar prever a melhor resposta.
Conforme o estudo de sua equipe do Instituto do Futuro da Humanidade de Oxford, há duas definições de “ameaça existencial”. A primeira, algo que leva à extinção completa da raça humana. A segunda, algo que leva ao completo colapso de nossa civilização, retrocedendo-nos como espécie a épocas pré-históricas. Os acidentes que podem nos levar a qualquer uma das duas possibilidades vão desde explosões estelares a vírus mortais, passando por erupções vulcânicas dantescas ou pelas consequências de uma superinteligência artificial.
Segundo Ord, por exemplo, a possibilidade de que uma supernova derive em um caos mundial é 1 entre 50 milhões. Seus estudos determinam que unindo todas as possíveis catástrofes de origem natural, ou seja, vírus, terremotos, inundações, não chegam nem a um quinto do risco derivado da ação humana, como uma guerra nuclear ou as consequências do aquecimento global. O estudo destes possíveis “apocalipses” é uma disciplina científica que muitos não querem nem ouvir falar, mas que Ord trabalha sem descanso.
Segundo explica em seu livro, o século XXI será muito crítico já que nosso potencial de resposta às diferentes crises não é proporcional ao dano que estamos provocando ao planeta e também não fazemos um esforço em imaginar respostas satisfatórias a todas estas possíveis catástrofes. Sua conclusão é clara, com todos os dados que possuímos, o risco de que a humanidade desapareça definitivamente da terra, neste século XXI, é de uma possibilidade entre seis. Estamos em um macabro jogo da roleta russa, enquanto os governos não decidirem intervir. Desse modo, ou desaparecemos como os dinossauros ou nos tornamos uma civilização próspera e cheia de recursos. Pelo que parece, não existe o meio termo.
Esperemos que esta crise sanitária nos desperte para a necessidade de pensar melhor até os piores cenários. Os números se mexem dentro deste arco de atuação. Porque se nos conscientizarmos sobre a possibilidade de nosso próprio final, as probabilidades podem crescer para 100 a 1. Mas, caso contrário, se seguirmos sem pensar no que a biotecnologia ou a inteligência artificial podem fazer, por exemplo, as possibilidades crescem para 3 a 1.
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“Existe uma entre seis possibilidades de que o mundo acabe durante este século XXI” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU