26 Mai 2020
“Neste aniversário, dou graças ao Senhor pelo caminho que nos permitiu percorrer como cristãos em busca de plena comunhão. Também compartilho da saudável impaciência daqueles que às vezes pensam que poderíamos e devemos nos esforçar mais”. O papa Francisco quer colocar um caminho direto e avançar rumo à unidade dos cristãos, e assim divulgou em uma carta por ocasião do 25º aniversário da publicação da encíclica Ut Unum Sint de João Paulo II.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 25-05-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Oração ecumênica na Catedral Luterana de Lund, Suécia, 2016. Foto: Religión Digital
Um texto que consagrou o trabalho ecumênico, mas que, infelizmente, foi ofuscado cinco anos depois com a publicação do ‘Dominus Iesus’. Sem citar o segundo, mas levando em consideração o primeiro, Bergoglio assumiu “irreversivelmente” o “compromisso ecumênico da Igreja Católica”.
Após a encíclica, o Papa destacou que “a diversidade legítima não se opõe à unidade da Igreja, mas, pelo contrário, aumenta sua honra e contribui para o cumprimento de sua missão”, e enfatiza que “não devemos deixar de confiar e de agradecer: muitos passos foram dados nessas décadas para sarar feridas seculares e milenares; cresceu o conhecimento e a estima mútua, favorecendo a superação de preconceitos enraizados; se desenvolveu o diálogo teológico e da caridade, assim como diversas formas de colaboração no diálogo da vida, nos âmbitos pastoral e cultural”.
Na carta, o papa lembra “meus queridos irmãos que presidem as várias igrejas e comunidades cristãs; e também em todos os irmãos e irmãs de todas as tradições cristãs que são nossos companheiros de viagem”, para “sentir a presença do Cristo ressuscitado que caminha ao nosso lado e nos explica as Escrituras, e o reconhecemos no partir do pão, esperando para dividirmos a mesa eucarística”.
Bergoglio também convida “a manter viva a consciência desse objetivo inalienável dentro da Igreja” e anuncia duas iniciativas para o futuro. Primeiro, a publicação de “Um Vade Mecum Ecumênico para os Bispos, a ser publicado no próximo outono europeu, como um incentivo e guia para o exercício de suas responsabilidades ecumênicas”. Por outro lado, a apresentação da revista Acta Œcumenica “que, na renovação do Serviço de Informação do Dicastério, é proposta como subsídio para quem trabalha no serviço da unidade”.
Líderes religiosos no Vaticano, 2014. Foto: Religión Digital
“No caminho à plena comunhão, é importante lembrar a jornada, mas também é necessário examinar o horizonte com a encíclica Ut unum sint, imaginando quanto caminho ainda nos separa?”, conclui Francisco, lembrando que a unidade “não chegará como um milagre no fim: a unidade vem pelo caminho, o Espírito Santo a constrói ao longo do caminho”.
Ao querido irmão cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos
Amanhã cumprem-se vinte e cinco anos da assinatura da carta encíclicla Ut Unum Sint, por são João Paulo II. Com o olhar no horizonte do Jubileu de 2000, queria que a Igreja, em seu caminho para o terceiro milênio, considerasse a oração insistente de seu Mestre e Senhor: “Que todos sejam um!” (cf. João 17, 21). Por isso, escreveu essa encíclica que confirmou de “modo irreversível” (UUS, 3) o compromisso ecumênico da Igreja Católica. Publicou-a na Solenidade da Ascensão do Senhor, colocando-a sob o signo do Espírito Santo, o artífice da unidade na diversidade, e nesse mesmo contexto litúrgico e espiritual a comemoramos e propomos ao Povo de Deus.
O Concílio Vaticano II reconheceu que o movimento para reestabelecimento da unidade de todos os cristãos “surgiu [...] com a ajuda da graça do Espírito Santo” (Unitatis redintegratio, 1). Também afirmou que o Espírito enquanto “obra a distribuição de graças e serviços”, é “o princípio da unidade da Igreja” (ibid., 2). E a encíclica Ut unum sint reitera que “a legítima diversidade não se opõe de modo algum à unidade da Igreja, mas sim que ao contrário, aumenta sua honra e contribui, não pouco, para o cumprimento de sua missão” (n. 50). De fato, “somente o Espírito Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, produzir a unidade [...] É o que harmoniza a Igreja”. Vem a minha mente aquelas belas palavras de são Basílio, o Grande: “Ipse harmonia est, ele próprio é a harmonia” (Homilia na catedral católica do Espírito Santo, Istambul, 29-11-2014).
Neste aniversário, dou graças ao Senhor pelos caminhos que nos permitiu percorrer como cristãos em busca da plena comunhão. Eu também compartilho da saudável impaciência daqueles que as vezes pensam que poderíamos e deveríamos nos esforçar mais. No entanto, não devemos deixar de confiar e de agradecer: deram-se muitos passos nessas décadas para sanar feridas seculares e milenares; cresceu o conhecimento e a estima mútua, favorecendo a superação de preconceitos arraigados; desenvolveu-se o diálogo teológico e o da caridade, assim como diversas formas de colaboração no diálogo da vida, nos âmbitos pastoral e cultural.
Neste momento, penso em meus queridos irmãos que presidem as diversas Igrejas e Comunidades Cristãs; e também em todos os irmãos e irmãs de todas as tradições cristãs que são nossos companheiros de viagem. Assim como os discípulos de Emaús, podemos sentir a presença do Cristo ressuscitado que caminha ao nosso lado e nos explica as Escrituras, e reconhecê-lo na fração do pão, na espera de compartilhar juntos a mesa eucarística.
Renovo meu agradecimento a todos os que trabalharam e seguem trabalhando nesse Dicastério para manter viva a consciência deste objetivo irrenunciável dentro da Igreja. Em particular, tenho o prazer de acolher duas iniciativas recentes.
A primeira é um Vade Mecum Ecumênico para os Bispos, a ser publicado no próximo outono europeu como um incentivo e guia para o exercício de suas responsabilidades ecumênicas. De fato, o serviço à unidade é um aspecto essencial da missão do Bispo, que é “o princípio perpétuo e visível do fundamento da unidade” em sua Igreja particular (Lumen Gentium, 23; cf. CIC 383§3; CCEO 902- 908) A segunda iniciativa é a apresentação da revista Acta Œcumenica, que, na renovação do Serviço de Informação do Dicastério, é proposta como subsídio para quem trabalha no serviço da unidade.
No caminho para a plena comunhão, é importante lembrar o trajeto percorrido, mas também se necessita olhar para o horizonte com a encíclica Ut unum sint, perguntando-se: “Quanta est nobis via?” (n. 77), “Quanto caminho ainda nos separa?”. Uma coisa é certa: a união não é primariamente o resultado de nossa ação, mas é um dom do Espírito Santo. No entanto, isso “não será um milagre no final: a unidade vem pelo caminho, o Espírito Santo a constrói ao longo do caminho” (Homilia na véspera, Basílica de São Paulo Fora dos Muros, 25 de janeiro de 2014).
Portanto, invoquemos o Espírito com confiança, para que guie nossos passos e cada um escute com renovado vigor o chamado a trabalhar pela causa ecumênica; que Ele inspire novos gestos proféticos e fortaleça a caridade fraterna entre todos os discípulos de Cristo, “para que o mundo creia” (João 17, 21) e se aumente o louvor ao Pai que está no céu.
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“Compartilho a impaciência dos que pensam que poderíamos e deveríamos nos esforçar mais”. Mensagem de Francisco nos 25 anos de Ut Unum Sint - Instituto Humanitas Unisinos - IHU