07 Mai 2020
"O CoronaCheck é um instrumento de grande ajuda e pode ser utilizado tanto pelas grandes redes sociais para identificar e limitar as afirmações falsas antes que elas se tornem populares, quanto por cada cidadão que queira ter um suporte confiável na verificação das informações que recebe", escreve Antonio Spadaro, jesuíta italiano e diretor da revista La Civiltà Cattolica, em artigo publicado por La Civiltà Cattolica, nº 4.077, 02-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com a disseminação do vírus da Covid-19, houve um pico de desinformação sobre a sua origem, a sua propagação e os seus efeitos. As afirmações errôneas e enganosas foram divulgadas não apenas nas redes sociais, mas infelizmente também por parte de políticos e instituições, como documenta o verbete “Misinformation related to the 2019-20 coronavirus pandemic” , da Wikipédia. Pessoas morreram por terem tomado remédios vendidos como úteis. O processo de verificação das informações está em dificuldades há muito tempo, e a pandemia tornou público o problema.
As causas dessa crise são conhecidas há algum tempo: atores que divulgam informações incorretas por motivos políticos, junto com a alta velocidade de propagação das notícias nas plataformas digitais. Dado o grande número de afirmações erradas na internet, é muito difícil limitar a sua circulação, porque a verificação dos fatos (fact checking) requer tempo e trabalho. Para implementá-la, é necessário identificar um fato que não seja uma opinião, coletar os dados pertinentes a partir de fontes confiáveis e executar a análise para validar ou não o que é afirmado.
Infelizmente, dada a sobrecarga de informações na internet, agora estamos enfrentando aquilo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como uma “infodemia”, isto é, precisamente a circulação de uma quantidade excessiva de informações que dificulta a limitação da difusão de fake news. Há várias evidências de que os sistemas de moderação dos conteúdos criados online estão em grande dificuldade por causa desse problema.
Além disso, os cidadãos são inundados com informações falsas, até mesmo por parte de pessoas em quem confiam de maneira privada – graças ao “boca a boca” e principalmente no WhatsApp –, e não têm os instrumentos para verificar a sua correção e confiabilidade. Esse problema se tornou explosivo com a crise devida ao coronavírus, mas é um tema mais amplo que se aplica a qualquer assuntos além da emergência sanitária, seja ele industrial, econômico ou comercial.
Em resposta à crise da informação, especialmente online, existem muitas iniciativas que giram principalmente ao redor do mundo do jornalismo. Desde sempre, os jornalistas – especialmente no mundo anglo-saxão – confiam-se ao fact checking como a uma prática de toda redação respeitável. Com o aumento dos fatos a serem verificados, foram criadas organizações onde equipes de fact checkers verificam fatos (por exemplo, snopes.com e politifact.com ou, na Itália, pagellapolitica.it). Esses sites são independentes das grandes publicações, mas também existem iniciativas muito eficazes dentro dos grandes jornais, como no caso de lemonde.fr/verification.
As verificações feitas por esses especialistas são um recurso tão precioso que o Google as considera entre os resultados mais relevantes nas pesquisas relacionadas, e o Facebook compra como serviço as suas verificações para usá-las dentro da rede social, a fim de identificar conteúdos falsos. Obviamente, isso junto com um verdadeiro exército de milhares de “moderadores” humanos. Recentemente, também na Itália, o problema ficou tão evidente que a Rai e o governo ativaram algumas forças-tarefa contra a desinformação.
A reação polêmica de tantas pessoas na Itália a essas notícia, porém, evidencia que o problema não é só a escala, ou seja, o grande número de fatos falsos e a impossibilidade de verificar todos eles manualmente. As grandes polêmicas italianas, de fato, estão centradas no tema do direito à opinião e no medo de que um ator de cima possa decidir o que é verdade e o que é falso.
Trata-se também de um problema educacional, porque muitos não sabem o que é uma verificação objetiva. Diz-se que todos têm opiniões, e que todas as opiniões têm a mesma importância. Se falamos de objetividade, o risco é evocar o controle que viola o direito à expressão.
Se, por um lado, a crise é educacional, por outro, existem iniciativas para resolvê-la a partir de diferentes ângulos. Seguramente, com a educação em si (cf., por exemplo, factcheckingday.com) e com a criação de recursos e conteúdos acessíveis, mas também com uma abordagem computacional ao problema.
Há anos, a comunidade científica está concentrada no problema com conferências e revistas dedicadas a combater a desinformação e a propaganda, principalmente online. Muitas abordagens foram propostas para verificar automaticamente diversos tipos de fatos, para rastrear e entender como diminuir a proliferação de notícias falsas nas redes sociais, como limitar os efeitos dos chamados bots (abreviação de robôs), ou seja, programas que, automaticamente, relançam conteúdos, e tantos outros aspectos.
Essas pesquisas são particularmente relevantes e importantes, porque podem ajudar a combater ambos os problemas que levantamos. Queremos assinalar uma que, no caso do coronavírus, revela-se verdadeiramente significativa.
Ela vem do trabalho de dois pesquisadores: o Prof. Paolo Papotti, da Universidade Eurecom (França), e o Prof. Immanuel Trummer, da Cornell University (Estados Unidos). Eles desenvolveram um sistema de informática que verifica automaticamente as afirmações sobre o coronavírus.
O CoronaCheck (https://coronacheck.eurecom.fr, também disponível em italiano no endereço https://coronacheck.eurecom.fr/it) é um site em que é possível verificar os fatos através dos dados oficiais. Por exemplo, dada uma frase como “A mortalidade na Itália é muito maior do que na França”, o sistema responde se isso é verdadeiro ou falso. Cada reivindicação é verificada com base nos dados oficiais, coletados cotidianamente pela Johns Hopkins University a partir de fontes como a Organização Mundial da Saúde, governos e ministérios da Saúde dos vários Estados.
Além disso – e isto é realmente relevante – o sistema aprende com os feedbacks dos usuários como gerenciar novos tipos de afirmações e como explorar novas fontes de dados. Portanto, o sistema reconhece as afirmações que não sabe verificar e, nesses casos, pede ao usuário que o ajude no processo. Essa interação cria novos exemplos a partir dos quais o modelo aprende a verificar novos tipos de afirmações ao longo do tempo.
O CoronaCheck é um instrumento de grande ajuda e pode ser utilizado tanto pelas grandes redes sociais para identificar e limitar as afirmações falsas antes que elas se tornem populares, quanto por cada cidadão que queira ter um suporte confiável na verificação das informações que recebe.
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Coronacheck e fake news. Artigo de Antonio Spadaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU