09 Abril 2020
Todos os novos membros da Comissão contribuem para a melhor definição do perfil de um “diaconato feminino” cujas raízes estão na história, mas cuja figura só pode ser fruto de um pensamento sistemático cheio de frescor, aberto e clarividente.
A opinião é de Andrea Grillo, teólogo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, 08-04-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como pré-anunciado no fim do Sínodo sobre a Amazônia, no qual o tema apareceu várias vezes com um destaque bastante significativo, eis que foi anunciada a constituição de uma “nova” comissão de estudo sobre o diaconato feminino.
A composição é a seguinte:
• Prof.ª Catherine Brown Tkacz, Lviv (Ucrânia);
• Prof. Dominic Cerrato, Steubenville (EUA);
• Prof. Pe. Santiago del Cura Elena, Burgos (Espanha);
• Prof.ª Caroline Farey, Shrewsbury (Grã-Bretanha).
• Prof.ª Barbara Hallensleben, Friburgo (Suíça).
• Prof. Pe. Manfred Hauke, Lugano (Suíça);
• Prof. James Keating, Omaha (EUA);
• Prof. Mons. Angelo Lameri, Crema (Itália).
• Prof.ª Rosalba Manes, Viterbo (Itália).
• Prof.ª Anne-Marie Pelletier, Paris (França).
O cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo de L’Aquila, será seu presidente, e o Pe. Denis Dupont-Fauville, autoridade da Congregação para a Doutrina da Fé, seu secretário.
Diferentemente do que havia sido antecipado pelo Papa Francisco, no encerramento do Sínodo, salvo erro, não parece que entre os membros recém-nomeados haja especialistas provenientes da América Latina.
Os critérios pelos quais foram escolhidos os membros da comissão, evidentemente, são múltiplos. Todos, obviamente, contribuem para a melhor definição do perfil de um “diaconato feminino” cujas raízes estão na história, mas cuja figura só pode ser fruto de um pensamento sistemático cheio de frescor, aberto e clarividente.
Entre os novos membros, eu conheço de fama ou pessoalmente apenas quatro deles. Dos outros, não posso dizer nada, pelo meu escasso conhecimento.
A Prof.ª Pelletier e o Prof. Del Cura Elena são teólogos de grande fôlego, que nunca dedicaram especificamente ao diaconato uma pesquisa assídua e contínua, mas puderam e poderão ter uma função de “contextualização” sistemática de grande influência, pela sua autoridade e pelo juízo equilibrado que os qualifica.
Eu conheço muito melhor Angelo Lameri, cuja competência litúrgica e sacramental é um dado tranquilizador e positivo. Ele poderá contribuir muito para desembaraçar o novelo histórico e imaginar a “liturgica progressio”.
Em Lugano, pude conhecer, anos trás, o Prof. Hauke, que parece, pelo menos no marco dos meus conhecimentos, o mais caracterizado. Ele entra na comissão trazendo consigo, há quase 40 anos, teses sobre a ordenação das mulheres e sobre o diaconato que não é um exagero considerar como extremas.
Quero lembrar aqui apenas dois textos. O primeiro é uma declaração feita por ele há cerca de um ano, sobre os trabalhos da Comissão anterior, quando declarou: “Não podemos identificar a consagração das diaconisas com a ordenação dos diáconos. Não era uma ordenação sacramental que possa ser identificada com o sacramento da Ordem. A história da instituição das diaconisas não oferece uma base sólida, portanto, para a introdução de um diaconato feminino sacramental. A Igreja antiga não tinha um diaconato feminino equivalente ao masculino”.
Dizendo isso, ele assumia uma “tese” – uma das diversas em campo – proposta por A. Martimort. Mesmo que essa tese fosse consolidada – o que historicamente não é nada pacífico – permaneceria o problema sistemático, que deveria introduzir esta consideração diferente: se a Igreja antiga não tinha um diaconato feminino equivalente ao masculino, talvez seja porque na Igreja antiga a mulher não era compreendida como dotada da mesma autoridade que o homem.
Posta assim a questão e evidenciado o problema de uma hermenêutica antropológica e sociológica que constitui um perigoso filtro do pensamento teológico, não deverá ser a história a resolver o nosso problema, mas seremos nós que, considerando a história nas suas peculiaridades, poderemos estabelecer quais são as formas adequadas e eficazes do reconhecimento do papel público da mulher, não apenas fora, mas também na Igreja, como já invocado em 1963 por João XXIII na encíclica Pacem in terris.
Além disso, merece uma certa consideração o juízo que Alberto Piola, no seu equilibrado livro sobre “Donna e sacerdozio” [Mulher e sacerdócio], formulou sobre a concepção que o Prof. Hauke, na sua tese de doutorado que remonta a 1982, propunha sobre a mulher em relação ao ministério ordenado:
“A argumentação teológica de Hauke é a que, de modo mais amplo, analisou após o Vaticano II a relação entre a antropologia da mulher e a sua exclusão do sacerdócio; (...) parece que a argumentação antropológico quase precede a referência à vontade de Cristo (...) é uma posição mais semelhante à teologia pré-conciliar do que ao restante do debate que se seguiu a Inter insigniores (também por uma aceitação, que em alguns pontos parece acrítica, da teologia da mulher pré-conciliar). Acima de tudo, faltam as nuances (...) tudo é claro e seguro, as conclusões são claras e logicamente dedutíveis, as posições diferentes da própria são duramente combatidas, o inimigo é identificado na teologia feminista; na primeira parte, tem-se a ‘pretensão’ de fazer uma suma enciclopédica do ser homem e do ser mulher, enquanto, na segunda parte, falta uma discussão crítica sobre aquelas posições que Hauke assume como evidentes e que, em vez disso, os outros teólogos discutem naqueles mesmos anos (...) De qualquer forma, Hauke continua sendo uma voz totalmente isolada no período pós-conciliar ao fundamentar a exclusão do sacerdócio para as mulheres naquela particular interpretação de 1Cor 14 (texto entendido como expressão de um ‘mandamento do Senhor’)” (A. Piola, “Donna e sacerdozio”, Turim: Effatà, 2006, p. 498-499).
É evidente que, na economia articulada de uma Comissão, sempre deve se levar em conta, com escrupulosa atenção, o princípio de garantia “audiatur et altera pars” [ouça-se sempre a outra parte]. A “altera pars” se apresenta, portanto, com um perfil bastante definido. Agora, esperamos confiantes o perfilamento igualmente claro de uma “pars prima”.
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Uma nova comissão sobre o diaconato feminino: “Audiatur et altera pars”. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU