31 Março 2020
Divulgamos nestas páginas as diferentes reações das Igrejas cristãs em relação às limitações sanitárias impostas pelas autoridades competentes também em relação ao culto. A Igreja católica, as Igrejas protestantes históricas e as Igrejas ortodoxas de minoria nos países ocidentais aceitaram as indicações dos estados com disciplina, mas não sem alguma perplexidade. Maior resistência das igrejas ortodoxas (cf. SettimanaNews: “Ortodossia: il rito alla prova del virus”), com o caso crítico da Igreja ortodoxa na República Tcheca e na Eslováquia. O espectro varia desde o fechamento total de igrejas e das celebrações (permitidas apenas à distância), até a abertura das igrejas (sem celebrações), a celebrações reduzidas ao mínimo com números que permitem distâncias, até aqueles que ignoram os perigos e se opõem às autoridades públicas.
O comentário é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 29-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O caso brasileiro é diferente. A autoridade suprema, o presidente, Jair Bolsonaro, por solicitações das Igrejas evangélicas (que representam um ponto determinante em seu universo eleitoral), reintroduziu no decreto do governo (26 de março) a celebração dos cultos entre os serviços considerados "essenciais" e, portanto, com participação aberta a todos.
Anteriormente, ele havia criticado veementemente os governadores locais que aplicaram rigorosamente as diretrizes do governo, acusando-os de querer fazer do país "terra arrasada".
Por trás da obtusidade presidencial, podem ser vistas algumas figuras de pastores neopentecostais, como Everaldo Dias Pereira, que em 2016 batizou Bolsonaro no Jordão (ele já era batizado como católico) e Silas Malafaia, que hospedou o presidente em seu mega-templo em várias ocasiões. Este último disse aos seus fiéis: “Queridos irmãos, não se preocupem com o coronavírus. É a tática de Satanás para alimentar o medo". Aliás, o lema eleitoral de Bolsonaro dizia: "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos".
Um dia depois, em 27 de março, um juiz do Estado do Rio de Janeiro proibiu a aplicação do decreto presidencial, não reconhecendo como "necessárias" as celebrações de culto que, contrariamente aos ditames dos médicos "estimulam a concentração e a circulação de pessoas" colocando em risco a saúde pública.
Sobre isso acaba retornando a tensão entre a Igreja Católica e o poder da direita, mas também com a temeridade das igrejas neoprotestantes. Os atritos com o governo ocorreram antes e durante a celebração do Sínodo na Amazônia.
Em uma declaração da Conferência Episcopal, sugere-se "ficar em casa", dando razão aos especialistas e às experiências internacionais. "As estratégias de isolamento social, fundamentais para conter o crescimento acelerado do número de pessoas contaminadas pelo coronavírus, visam enfrentar a situação que, embora grave, pode ser abordada de maneira ordenada". "Chegou a hora de enfrentar essa pandemia com lucidez, responsabilidade e solidariedade." Na mesma linha, o comentário do arcebispo do Rio, J. Tempesta: "Devemos ficar em casa em quarentena". Também o bispo W.O. de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte: “Fiquem em casa. É a indicação das autoridades sanitárias competentes e sensatas. Vamos fazer todo o possível para contribuir para a construção de uma sociedade justa e fraterna”.
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Vírus e ritos: o caso Bolsonaro e os neopentecostais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU