30 Março 2020
Esta pandemia também é uma infodemia, ou seja, uma circulação descontrolada de informações geralmente enganosas e inexatas. Mas devemos vigiar sobre o rebanho que nos foi confiado e sobre nós mesmos para evitar uma liturgodemia.
A opinião é de Luca Peyron, presbítero da Diocese de Turim, Itália, coordenador do Serviço para o Apostolado Digital, professor de Teologia da Universidade Católica de Milão e de Espiritualidade da Inovação na Universidade de Turim. É autor de “Incarnazione digitale” [Encarnação digital] (Ed. Elledici, 2019).
O artigo foi publicado em Il Regno, 27-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Assim escrevia Pio XII em 1957 na encíclica Miranda prorsus sobre o cinema, o rádio e a televisão:
“O sacerdote que tem cura de almas pode e deve saber o que afirmam a ciência, a arte e a técnica moderna, em tudo o que se refere ao fim e à vida religiosa e moral do homem. Deve saber servir-se delas quando, a juízo da autoridade eclesiástica, o requerer a natureza do seu sagrado ministério e a necessidade de atingir maior número de almas. Deve, enfim, se delas usa para si, dar a todos os fiéis exemplo de prudência, de temperança e de senso de responsabilidade.”
É um documento provavelmente pouco conhecido, mas que revela uma grande sabedoria misturada com uma autêntica admiração do pontífice em relação às maravilhas da técnica do seu tempo.
Reitero as sábias palavras do documento: conhecer para usar, para si e para os outros, em nome da causa do Evangelho, mas com prudência, temperança e senso de responsabilidade. A pandemia, junto com a situação social e eclesial totalmente inédita que vivemos, desconcerta e nos força a uma paciência e criatividade pastorais particulares, desejada, aliás, pelo próprio Papa Francisco.
A Conferência Episcopal Italiana emite normas que ajudam a viver alguns momentos litúrgicos com atenção ao sacramento que é celebrado e às pessoas envolvidas, mas não é suficiente.
Nesta pandemia, que também é uma infodemia, ou seja, uma circulação descontrolada de informações geralmente enganosas e inexatas, devemos vigiar sobre o rebanho que nos foi confiado e sobre nós mesmos para evitar uma liturgodemia.
Existem algumas atitudes ditadas pelo coração e por impulsos de autêntica generosidade, que, porém, correm o risco de obter resultados opostos em relação às genuínas intenções iniciais. Tais atitudes se tornam virais, exatamente como o coronavírus, e despertam uma demanda de imitação e, por sua vez, limitação.
Refiro-me em particular a algumas modalidades de celebração online, principalmente através do Facebook ou do Instagram, de missas, bênçãos eucarísticas e adorações eucarísticas. Assim como várias formas de devoção organizadas apressadamente, sem precauções técnicas e utilizando, como é compreensível, aliás, aquilo de que se dispõe.
As tecnologias digitais, já reiteramos várias vezes aqui, não são neutras. Elas veiculam não apenas a mensagem que lhes é entregue, mas elas próprias também são uma mensagem, e uma mensagem poderosa, porque é silenciosa e pervasiva.
Pio XII também advertia: “Não só grandes bens, mas também imensos perigos podem nascer dos maravilhosos progressos técnicos modernos, já realizados ou que se continuam realizando, nos importantíssimos setores do cinema, do rádio e da televisão” E hoje ele acrescentaria, como fizeram Francisco e Bento XVI, as mídias digitais.
A proximidade que devemos ao povo de Deus também deve ser educativa. Este espaço nos permite uma única consideração: as mídias digitais são caracterizadas, como Massimo Mantellini sintetizou eficazmente, por uma baixa resolução. Não importa a qualidade da foto, basta que se entenda. O enquadramento é insignificante, basta que se entreveja. Quantidade de péssima qualidade. Isso, adverte o autor, nos levou a diminuir as nossas expectativas.
Não estamos transformando a oração, a liturgia, a catequese em entretenimento? A baixa resolução envolve um valor próximo de zero daquilo que é representado. É realmente esse o valor que atribuímos a Quem representamos?
Percebo que essas considerações podem parecer pouco empáticas e que, em caso de emergência, o vidro deve ser quebrado. Mas não estamos quebrando algo mais do que o vidro?
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Prudência tecnológica em tempos de coronavírus. Artigo de Luca Peyron - Instituto Humanitas Unisinos - IHU